ACABEM COM OS PARTIDOS...
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ACABEM COM OS PARTIDOS...
"O espírito de partido cria interesses próprios de partido, e exerce sobre toda a actividade mental uma acção perturbadora. E no que vai dito considera-se apenas a melhor hipótese possível: a hipótese, puramente teórica e verbal, de o partido se não engrossar com a malta dos pescadores de todas as águas, que fariam do movimento apenas mais um anzol para pescar na vasa podre do País o peixe dourado das suas ambições. O mais belo movimento de salvação nacional arriscar-se-ia assim a ser pervertido e falsificado pela massa ignata [sic; ignara?] dos sectários, não tardando a ser reduzidos ao silêncio e a ser sacrificados os apóstolos da salvação.
Estou a ver uma objecção aflorar aos lábios do leitor: «O que diz dos partidos políticos não se pode aplicar de pleno direito a todo e qualquer grupo? Não se sobreporão em nenhum caso os interesses do vosso grupo aos interesses do País?»
Mas não querendo nós, em caso algum, deter, como grupo, a governança da nação, quando e como podiam os interesses do nosso grupo colidir com os interesses gerais do País? A minha sinceridade intelectual obriga-me a responder que tal caso era possível. Seria possível, por exemplo, que o estabilismo mental, que o amor às nossas ideias, nos levasse a defendê-las tão afincadamente que a nossa propaganda resistisse à demonstração da sua falsidade ou da sua inconveniência. Esta e muitas outras hipóteses são absolutamente plausíveis quando não abandonamos o campo das simples possibilidades lógicas.
Temos, pois, que um grupo como o que constituímos na Seara Nova pode, em princípio, ser levado à defesa de ideias, de homens e de processos políticos que estejam em conflito com os interesses da nação. O que não se pode, porém, deixar de reconhecer é que as possibilidades desse facto estão aqui reduzidas a um mínimo que não se encontra realizado nos partidos políticos. Um grupo não partidário vale o que valem os seus homens; um partido político, pelo contrário, cria vícios e defeitos próprios. Cremos, pois, ter demonstrado que, dado um mesmo grupo de homens, esse grupo dá mais garantias de desinteresse conservando-se completamente fora de todas as facções do que arrebanhando-se num partido político. A consciência dos interesses nacionais é assim menos refractada que através dum meio puramente partidário.
Mas há mais. A missão que a Seara Nova quer exercer na sociedade portuguesa tem de ser realizada em parte por homens de espírito científico, educados nas disciplinas do pensamento crítico, e por isso fundamentalmente incapazes de se arregimentarem em qualquer facção. Nunca em caso algum esses homens seriam homens de partido. Nunca em caso algum eles poriam, acima das suas convicções, das suas dúvidas ou das suas reservas mentais, qualquer dogma político ou qualquer autoridade partidária.
Mas, mesmo na hipótese de nos resolvermos a constituirmo-nos em partido político, nem por isso deixava de subsistir a necessidade de existir acima dele e de todos os outros partidos um órgão supremo da consciência nacional, em que todos fossem avaliados, comparados e discutidos, e que constituísse, por assim dizer, o tribunal da opinião para que houvesse sempre apelação e agravo.
Ora é este supremo órgão directivo, inspirador e orientador da opinião pública, formado por cabeças e não por espadas, que nós precisamos, antes de mais nada, constituir em Portugal. Enquanto isso se não fizer, o corpo da nação será sem alma e sem vontade, sem rumo e sem destino.
Constituindo-nos em partido político seria novamente errar o caminho - seria frustrar mais uma vez todas as esperanças de renovação nacional.
- Raul Proença, Seara Nova, nº 2, 5-11-1921; in Raul Proença, Antologia, I, prefácio, selecção e notas de António Reis, Lisboa, Ministério da Cultura, 1985, pp.266-269."
Estou a ver uma objecção aflorar aos lábios do leitor: «O que diz dos partidos políticos não se pode aplicar de pleno direito a todo e qualquer grupo? Não se sobreporão em nenhum caso os interesses do vosso grupo aos interesses do País?»
Mas não querendo nós, em caso algum, deter, como grupo, a governança da nação, quando e como podiam os interesses do nosso grupo colidir com os interesses gerais do País? A minha sinceridade intelectual obriga-me a responder que tal caso era possível. Seria possível, por exemplo, que o estabilismo mental, que o amor às nossas ideias, nos levasse a defendê-las tão afincadamente que a nossa propaganda resistisse à demonstração da sua falsidade ou da sua inconveniência. Esta e muitas outras hipóteses são absolutamente plausíveis quando não abandonamos o campo das simples possibilidades lógicas.
Temos, pois, que um grupo como o que constituímos na Seara Nova pode, em princípio, ser levado à defesa de ideias, de homens e de processos políticos que estejam em conflito com os interesses da nação. O que não se pode, porém, deixar de reconhecer é que as possibilidades desse facto estão aqui reduzidas a um mínimo que não se encontra realizado nos partidos políticos. Um grupo não partidário vale o que valem os seus homens; um partido político, pelo contrário, cria vícios e defeitos próprios. Cremos, pois, ter demonstrado que, dado um mesmo grupo de homens, esse grupo dá mais garantias de desinteresse conservando-se completamente fora de todas as facções do que arrebanhando-se num partido político. A consciência dos interesses nacionais é assim menos refractada que através dum meio puramente partidário.
Mas há mais. A missão que a Seara Nova quer exercer na sociedade portuguesa tem de ser realizada em parte por homens de espírito científico, educados nas disciplinas do pensamento crítico, e por isso fundamentalmente incapazes de se arregimentarem em qualquer facção. Nunca em caso algum esses homens seriam homens de partido. Nunca em caso algum eles poriam, acima das suas convicções, das suas dúvidas ou das suas reservas mentais, qualquer dogma político ou qualquer autoridade partidária.
Mas, mesmo na hipótese de nos resolvermos a constituirmo-nos em partido político, nem por isso deixava de subsistir a necessidade de existir acima dele e de todos os outros partidos um órgão supremo da consciência nacional, em que todos fossem avaliados, comparados e discutidos, e que constituísse, por assim dizer, o tribunal da opinião para que houvesse sempre apelação e agravo.
Ora é este supremo órgão directivo, inspirador e orientador da opinião pública, formado por cabeças e não por espadas, que nós precisamos, antes de mais nada, constituir em Portugal. Enquanto isso se não fizer, o corpo da nação será sem alma e sem vontade, sem rumo e sem destino.
Constituindo-nos em partido político seria novamente errar o caminho - seria frustrar mais uma vez todas as esperanças de renovação nacional.
- Raul Proença, Seara Nova, nº 2, 5-11-1921; in Raul Proença, Antologia, I, prefácio, selecção e notas de António Reis, Lisboa, Ministério da Cultura, 1985, pp.266-269."
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