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Partidos à espera do futuro...no jn

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Mensagem por Vitor mango Dom Nov 23, 2008 2:41 am


Partidos à espera do futuro
Obama construiu um novo paradigma de campanha em que os eleitores também foram protagonistas. Em Portugal, os partidos ainda não definiram estratégias para as eleições do próximo ano
00h31m
MIGUEL CONDE COUTINHO

Quando um colega de partido de Winston Churchill, durante a Segunda Guerra Mundial, o aconselhou, para melhor ouvir os cidadãos, a "andar de ouvido no chão", o então líder inglês ter-lhe-á respondido, ironizando: "A nação britânica terá alguma dificuldade em olhar de frente para líderes que sejam apanhados nessa posição".

A história é contada por Fareed Zakaria, no sobejamente citado "O Futuro da liberdade", precisamente no capítulo em que se criticava o sistema democrático americano por andar demasiado obcecado pela opinião pública.

Ora, se Barack Obama não terá andado propriamente com os ouvidos no chão, terá arranjado uma posição intermédia que lhe permitiu manter todos os sentidos bem alerta para aquilo que os cidadãos americanos pensavam, queriam e desejavam. A opinião pública, uma massa disforme e imensa, cujas ânsias e preocupações eram números em inquéritos, foi desconstruída. A opinião pública, pelo menos em teoria, passou a ser a soma das vozes, não uma média representativa de tendências.

Blogs, vídeos na Internet, Youtube, já não são o futuro. Já não basta produzir, de cima para baixo, propaganda. O cidadão está preparado para mais. E a Internet permite uma relação em dois sentidos. Mas os partidos políticos portugueses, a alguns meses de três campanhas eleitorais, ainda não têm nada definido. "Em Portugal não há ainda grande utilização das redes sociais", defende João Almeida, secretário-geral do CDS-PP, que falou ao JN sobre o site do partido. "É perfeitamente natural que no ano eleitoral, em 2009, se reforce" a estratégia da Internet, mas "isso implica ter uma capacidade que permita uma produção não apenas esporádica". Emídio Guerreiro, responsável do PSD, reconhece também que não há ainda uma estratégia decidida para o ano eleitoral de 2009. "Ainda é muito cedo para iniciativas concretas. Mas conhecemos as soluções, que estão a ser testadas", avança, garantindo que a Net vai ser uma das apostas do partido. No BE, há a mesma vontade vaga: "Vamos criar estruturas para tentar envolver as pessoas através dos meios online", garante Jorge Costa, da comissão política do partido. O PS não respondeu às questões colocadas peloJN. Vasco Cardoso, da comissão nacional do Partido Comunista, afirma que este assunto "ainda está em discussão. Queremos estar na linha da frente, mas é preciso cautela. Temos que relativar a importância da estratégia [de Barack Obama] na Internet na campanha", diz.

E qual foi a estratégia? Espalhar a mensagem através das redes sociais e de outras ferramentas Web 2.0 que permitiram colar, quase minuto-a-minuto, os eleitores à campanha. As ferramentas colaborativas, que permitem passar informação, debatê-la, fazê-la crescer e multiplicar em poucos minutos por todos os que (se) interessam, deram a Obama uma vantagem fundamental: a sensação de que os cidadãos, ao invés de receberem passivamente propaganda, estavam a participar com opiniões, sugestões e críticas no desenrolar dos acontecimentos.

Flickr, Facebook, hi5, Twitter e todo um conjunto de redes socias que Obama conseguiu penetrar, ajudaram-no a montar uma campanha que tentou fazer do eleitor um protagonista, não um mero espectador.

Se Roosevelt fez da rádio, nos anos 30, o meio primordial para passar a sua mensagem (Philip Roth, em "Conspiração contra a América", ou Woody Allen , com "Os dias da rádio", mostraram o poder deste meio junto dos americanos nesses tempos), se Kennedy iniciou uma era em que os protagonistas políticos passaram a ter que ser bonitos e bem-falantes para aparecerem na televisão (diz-se que o momento fulcral para a vitória sobre Nixon nas presidenciais americanas de 1960 foi um debate televisivo em que o democrata mostrou uma persona televisiva mais agradável do que o sorumbático Nixon), Barack Obama inaugurou, com o uso que fez da Internet, um novo paradigma: a ciberdemocracia. É necessário ouvir os cidadãos, é preciso chegar até eles de forma pessoal, fazê-los sentir que alguém os está a ouvir.

As 92 pessoas que aplicaram no terreno a estratégia para a Internet na campanha do recém-eleito presidente dos EUA, conseguiram juntar, segundo o Washington Post, 10 milhões de endereços de correio electrónico que Obama vai usar, já foi anunciado, para enviar mensagens, pedir opiniões, recolher sugestões durante o mandato, direccionar propostas consoante a zona geográfica em que os eleitores estão. O site da transição da Presidência, Change.gov, pede às pessoas para enviarem o que pensam. Mais opiniões enviadas, mais dados recolhidos.

João Canavilhas, professor da Universidade da Beira Interior, e especialista em media e Internet, faz a comparação: "Os políticos gostam de ir aos mercados fazer campanha, mas não costumam encontrar lá os mais novos. Os jovens, os eleitores do futuro, podem ser alcançados, de forma pessoal, na Internet". As feiras do futuro estão na Net. Com as redes sociais, é possível chegar a essas faixas etárias, dos 18 aos 35 anos. Se os jovens estão alienados é porque, defende Canavilhas, não se fala com eles numa linguagem que eles entendam. "Não se pode copiar um discurso e colocá-lo na Internet", diz. Uma estratégia de propaganda organizada em torno de uma mensagem partidária, já não funciona. A personalização do político, a criação de uma identidade digital que corresponda exactamente à personalidade real, que se exponha e mostre disponibilidade para ouvir, é essencial. Os políticos conhecem a eficácia do contacto pessoal. Através da Internet é possível entrar dentro das vidas das pessoas e envolvê-las.

"As comparações com os EUA têm limites, mas há um potencial por explorar aqui em Portugal", afirma Pedro Magalhães. Segundo o investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, o segmento a que se podia chegar com uma estratégia eleitoral para a Internet apostada nestas novas ferramentas, uma elite instruída e interessada, está a ser ignorado. "São pessoas que têm uma capacidade de repercussão das mensagens importante", que pode fazer a diferença.

João Canavilhas pergunta: "Porque é que os partidos não dão o salto em frente?". Talvez porque, como disse Orwell, "as pessoas só conseguem prever o futuro apenas quando ele coincide com os seus próprios desejos".
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Mensagem por Vitor mango Dom Nov 23, 2008 2:45 am

João Canavilhas, professor da Universidade da Beira Interior, e especialista em media e Internet, faz a comparação: "Os políticos gostam de ir aos mercados fazer campanha, mas não costumam encontrar lá os mais novos. Os jovens, os eleitores do futuro, podem ser alcançados, de forma pessoal, na Internet". As feiras do futuro estão na Net. Com as redes sociais, é possível chegar a essas faixas etárias, dos 18 aos 35 anos. Se os jovens estão alienados é porque, defende Canavilhas, não se fala com eles numa linguagem que eles entendam. "Não se pode copiar um discurso e colocá-lo na Internet", diz. Uma estratégia de propaganda organizada em torno de uma mensagem partidária, já não funciona. A personalização do político, a criação de uma identidade digital que corresponda exactamente à personalidade real, que se exponha e mostre disponibilidade para ouvir, é essencial. Os políticos conhecem a eficácia do contacto pessoal. Através da Internet é possível entrar dentro das vidas das pessoas e envolvê-las.
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