Desiludam-se os que queiram renovar a esquerda com o Bloco
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Desiludam-se os que queiram renovar a esquerda com o Bloco
Desiludam-se os que queiram renovar a esquerda com o Bloco
Se Luis Fazenda representa o Bloco no debate sobre a chamada convergência das esquerdas, desiludam-se os que pensam que há um caminho possível pela via do diálogo com a que se julgava ser a ex-extrema-esquerda. O sectarismo continua e a face política dialogante a aberta é apenas uma fachada táctica para o mesmo combate que há décadas elege a social-democracia como inimigo principal.
Não participei na iniciativa "democracia e serviços públicos" porque pensava - e acho que o tempo me dará razão - que Manuel Alegre pretendia genuinamente reflectir sobre aquilo a que chama renovação da esquerda mas os seus parceiros de iniciativa do Bloco apenas prentendiam fazer um número mediático paraunitário, que tinha para eles o encanto adicional, que trotskistas e marxistas-leninistas sempre procuraram, de juntar em torno da sua estratégia personalidades vindas da social-democracia e do movimento comunista.
Adicionalmente, pareceu-me que as escolhas dos oradores eram pouco plurais. De facto, nos painéis pelos quais tinha mais apetência, havia pessoas vindas de vários movimentos políticos, mas um só pensamento sobre as reformas em curso: ser contra.
Há coisas em que me revejo e outras de que discordo nas reformas dos serviços públicos que este Governo lançou, mas não vejo por onde se pode pensar que a única atitude de esquerda possível é arrasá-las. Não é assim que vejo o pensamento crítico da esquerda nem é assim que acho que seja possível encontrar para ela novas vias ou renová-la.
Os que, como eu, se situam politicamente na esquerda social-democrata a que, tentando apoucá-la, a extrema-esquerda se habituou a chamar reformista, não devem desistir da crítica nem podem desistir de representar um bloco social de transformação maioritário e devem lutar politicamente por isso. Acredito que essa é também a posição de Manuel Alegre e de muitos dos que estão com ele. Mas tenho dúvidas muito fortes de que o BE tal qual é hoje e se espelha na leitura da situação política de Luis Fazenda seja reconvertível em parceiro dessa estratégia.
É verdade, penso, que há no PS excessos de moderação, quer dizer, de pensamento liberal-social e de receio das forças conservadoras. Mas é mentira que os partidos socialistas em geral e o PS em particular se tenham transferido,como diz Luis Fazenda, para as "concepções neoliberais da burguesia conservadora".
Há, aliás, hipocrisia no elogio das virtudes passadas da social-democracia por contraponto aos hipotéticos vícios presentes. O campo político de Luis Fazenda disse há décadas daquilo que hoje reconhece ter sido "uma política reformista a favor das classes trabalhadoras" exactamente o mesmo que diz agora das reformas actuais.
Na minha opinião, a extrema-esquerda continua a falhar o alvo. Está obcecada com o enfraquecimento do PS quando deveria estar empenhada em derrotar as forças conservadoras. Prefere amalgamar o PS e a direita para ganhar uns votozinhos descontentes e subir no ranking das extremas-esquerdas mundiais a procurar uma visão estratégica que lhe permita influenciar os destinos do país.
O Bloco não se emancipou dos partidos de que nasceu. Apenas sabe que tem que esconder a sua agenda para manter peso eleitoral. No texto de Luis Fazenda o gato está escondido. Quem, de esquerda, discorda de que se procure "convergêncis na orientação económica de redução drástica das desigualdades sociais, no papel do estado e dos serviços públicos, no motor da cultura e da educação"? Quem recusa compromissos na "da remodelação do modelo produtivo, à ecologia abrangente, às alterações europeias"? Se fosse esta a agenda e com este nível de generalidade, o Bloco poderia entender-se não com Manuel Alegre mas com a actual direcção do PS e até com vastos sectores do PSD e um ou dois deputados do CDS. Mas não é. No texto de Luis Fazenda o gato tem o rabo de fora apenas nas equívocas "alterações europeias" (o que quererá dizer?) e na única exigência concreta, a da "desvinculação do bloco militar da NATO".
Que distância entre a imutabilidade deste Bloco e a metamorfose dos Verdes alemães nas duas últimas décadas!
Essa distância explica, aliás, porque num texto sobre "convergência", o líder parlamentar do BE sente necessidade de pôr travão a qualquer convergência.
Convergência em relação a quê? Para uma alternativa de esquerda contra quem? O PSD? O PSD e o CDS? O Bloco Central? Não. Para Fazenda é mesmo só contra o PS, com o truque de dizer que é contra a "política neoliberal do PS". Esta diferenciação entre o PS e os seus militantes, entre o PS e as suas políticas, já o PCP faz há 30 anos. Nada acrescenta o BE aos termos do debate, no que ao PS diz respeito.
Convergência de que modo? Acredito que é necessária uma renovação programática da esquerda mais do que a sua reformulação orgânica. Mas há quem aposte nessa reformulação orgânica, que só faria sentido se criasse um pólo das esquerdas responsáveis. Desiludam-se os que pensam que o BE quer ser parceiro desse processo. Para Fazenda, o BE tem um "pluralismo no ideal socialista [que] é bem conhecido" e "a alternativa de poder de que fala Manuel Alegre não é seguramente o socialismo". Traduzindo para português corrente: nem Alegre passa no crivo da pureza ideológica de Fazenda. Daí que lhe feche completamente as portas ao mesmo tempo que o convida a fazer um partido para dividir o PS. Elementar!
Pensar que o Bloco tinha mudado o suficiente para ser um parceiro da renovação da esquerda portuguesa talvez seja o maior erro político de Alegre nesta conjuntura.
Infelizmente os socialistas que querem renovar a esquerda têm poucas companhias no actual panorama partidário em que que esquerda à esquerda do PS está minada pela utopia autoritária do comunismo, pelo sectarismo ou pela combinação de ambos.
Dentro do PS, a tentação centrista é gigantesca. Mas a renovação programática da esquerda continua a passar em Portugal essencialmente por essa batalha dentro e não fora ou ao lado do PS. Será a tentação popular mais forte que a pulsão de esquerda? Será a crise uma ocasião para mais facilmente pôr em causa os atavismos? Francamente, não sei.
Inserido por Paulo Pedroso no Canhoto
Em época de aproximação de eleições várias, onde a vaidade ou a sede de poder parem muitas vezes abortos políticos, também este post é de ler e meditar. E leva-nos sempre á velha questão. O que é a direita e a esquerda HOJE. Os conceitos são naturalmente muito diferentes e distantes de 1917 ou de 1974. Entre outros motivos surgiu um, não digo inesperado, mas pouco estudado. A globalização...
Se Luis Fazenda representa o Bloco no debate sobre a chamada convergência das esquerdas, desiludam-se os que pensam que há um caminho possível pela via do diálogo com a que se julgava ser a ex-extrema-esquerda. O sectarismo continua e a face política dialogante a aberta é apenas uma fachada táctica para o mesmo combate que há décadas elege a social-democracia como inimigo principal.
Não participei na iniciativa "democracia e serviços públicos" porque pensava - e acho que o tempo me dará razão - que Manuel Alegre pretendia genuinamente reflectir sobre aquilo a que chama renovação da esquerda mas os seus parceiros de iniciativa do Bloco apenas prentendiam fazer um número mediático paraunitário, que tinha para eles o encanto adicional, que trotskistas e marxistas-leninistas sempre procuraram, de juntar em torno da sua estratégia personalidades vindas da social-democracia e do movimento comunista.
Adicionalmente, pareceu-me que as escolhas dos oradores eram pouco plurais. De facto, nos painéis pelos quais tinha mais apetência, havia pessoas vindas de vários movimentos políticos, mas um só pensamento sobre as reformas em curso: ser contra.
Há coisas em que me revejo e outras de que discordo nas reformas dos serviços públicos que este Governo lançou, mas não vejo por onde se pode pensar que a única atitude de esquerda possível é arrasá-las. Não é assim que vejo o pensamento crítico da esquerda nem é assim que acho que seja possível encontrar para ela novas vias ou renová-la.
Os que, como eu, se situam politicamente na esquerda social-democrata a que, tentando apoucá-la, a extrema-esquerda se habituou a chamar reformista, não devem desistir da crítica nem podem desistir de representar um bloco social de transformação maioritário e devem lutar politicamente por isso. Acredito que essa é também a posição de Manuel Alegre e de muitos dos que estão com ele. Mas tenho dúvidas muito fortes de que o BE tal qual é hoje e se espelha na leitura da situação política de Luis Fazenda seja reconvertível em parceiro dessa estratégia.
É verdade, penso, que há no PS excessos de moderação, quer dizer, de pensamento liberal-social e de receio das forças conservadoras. Mas é mentira que os partidos socialistas em geral e o PS em particular se tenham transferido,como diz Luis Fazenda, para as "concepções neoliberais da burguesia conservadora".
Há, aliás, hipocrisia no elogio das virtudes passadas da social-democracia por contraponto aos hipotéticos vícios presentes. O campo político de Luis Fazenda disse há décadas daquilo que hoje reconhece ter sido "uma política reformista a favor das classes trabalhadoras" exactamente o mesmo que diz agora das reformas actuais.
Na minha opinião, a extrema-esquerda continua a falhar o alvo. Está obcecada com o enfraquecimento do PS quando deveria estar empenhada em derrotar as forças conservadoras. Prefere amalgamar o PS e a direita para ganhar uns votozinhos descontentes e subir no ranking das extremas-esquerdas mundiais a procurar uma visão estratégica que lhe permita influenciar os destinos do país.
O Bloco não se emancipou dos partidos de que nasceu. Apenas sabe que tem que esconder a sua agenda para manter peso eleitoral. No texto de Luis Fazenda o gato está escondido. Quem, de esquerda, discorda de que se procure "convergêncis na orientação económica de redução drástica das desigualdades sociais, no papel do estado e dos serviços públicos, no motor da cultura e da educação"? Quem recusa compromissos na "da remodelação do modelo produtivo, à ecologia abrangente, às alterações europeias"? Se fosse esta a agenda e com este nível de generalidade, o Bloco poderia entender-se não com Manuel Alegre mas com a actual direcção do PS e até com vastos sectores do PSD e um ou dois deputados do CDS. Mas não é. No texto de Luis Fazenda o gato tem o rabo de fora apenas nas equívocas "alterações europeias" (o que quererá dizer?) e na única exigência concreta, a da "desvinculação do bloco militar da NATO".
Que distância entre a imutabilidade deste Bloco e a metamorfose dos Verdes alemães nas duas últimas décadas!
Essa distância explica, aliás, porque num texto sobre "convergência", o líder parlamentar do BE sente necessidade de pôr travão a qualquer convergência.
Convergência em relação a quê? Para uma alternativa de esquerda contra quem? O PSD? O PSD e o CDS? O Bloco Central? Não. Para Fazenda é mesmo só contra o PS, com o truque de dizer que é contra a "política neoliberal do PS". Esta diferenciação entre o PS e os seus militantes, entre o PS e as suas políticas, já o PCP faz há 30 anos. Nada acrescenta o BE aos termos do debate, no que ao PS diz respeito.
Convergência de que modo? Acredito que é necessária uma renovação programática da esquerda mais do que a sua reformulação orgânica. Mas há quem aposte nessa reformulação orgânica, que só faria sentido se criasse um pólo das esquerdas responsáveis. Desiludam-se os que pensam que o BE quer ser parceiro desse processo. Para Fazenda, o BE tem um "pluralismo no ideal socialista [que] é bem conhecido" e "a alternativa de poder de que fala Manuel Alegre não é seguramente o socialismo". Traduzindo para português corrente: nem Alegre passa no crivo da pureza ideológica de Fazenda. Daí que lhe feche completamente as portas ao mesmo tempo que o convida a fazer um partido para dividir o PS. Elementar!
Pensar que o Bloco tinha mudado o suficiente para ser um parceiro da renovação da esquerda portuguesa talvez seja o maior erro político de Alegre nesta conjuntura.
Infelizmente os socialistas que querem renovar a esquerda têm poucas companhias no actual panorama partidário em que que esquerda à esquerda do PS está minada pela utopia autoritária do comunismo, pelo sectarismo ou pela combinação de ambos.
Dentro do PS, a tentação centrista é gigantesca. Mas a renovação programática da esquerda continua a passar em Portugal essencialmente por essa batalha dentro e não fora ou ao lado do PS. Será a tentação popular mais forte que a pulsão de esquerda? Será a crise uma ocasião para mais facilmente pôr em causa os atavismos? Francamente, não sei.
Inserido por Paulo Pedroso no Canhoto
Em época de aproximação de eleições várias, onde a vaidade ou a sede de poder parem muitas vezes abortos políticos, também este post é de ler e meditar. E leva-nos sempre á velha questão. O que é a direita e a esquerda HOJE. Os conceitos são naturalmente muito diferentes e distantes de 1917 ou de 1974. Entre outros motivos surgiu um, não digo inesperado, mas pouco estudado. A globalização...
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Re: Desiludam-se os que queiram renovar a esquerda com o Bloco
Desiludam-se OS QUE JULGAM QUE socrates VAI TER maioria absoluta!!!
RONALDO ALMEIDA- Pontos : 10367
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