Os últimos dias de Bush em Gaza, por Álvaro Vasconcelos 09.01.2009 - 0
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Os últimos dias de Bush em Gaza, por Álvaro Vasconcelos 09.01.2009 - 0
Os últimos dias de Bush em Gaza, por Álvaro Vasconcelos
09.01.2009 - 08h59 Álvaro Vasconcelos
Durante uma visita ao Médio Oriente, o secretário da Defesa americano Robert Gates avisou que os inimigos dos EUA não deveriam usar o vazio de poder na região para tentar alterar o statu quo ou enfraquecer os novos objectivos americanos.
Ironicamente, o maior desafio a esta advertência acabou por vir do principal aliado da América na região, Israel. Os partidários da linha dura em Israel lamentam naturalmente o fim da Administração Bush, porque sabem que, mesmo que o Presidente Obama não mude radicalmente a política americana em relação a Israel, não repetirá o apoio incondicional do actual Presidente. Os duros israelitas viram a "guerra ao terror" e a guerra no Iraque como as suas guerras, apoiaram a retórica belicista de Bush e o isolamento do Irão e consideram os neoconservadores como seus irmãos ideológicos. Partilham especialmente a sua convicção de que a intervenção militar é uma forma legítima e eficaz de conseguir mudanças políticas. Foi o que o Exército israelita tentou alcançar no Líbano, ao procurar " esmagar o Hezbollah" de forma a mudar radicalmente a paisagem política libanesa. E é o que está agora a tentar fazer em Gaza.
Israel está a usar uma força desproporcionada em resposta aos rockets do Hamas, tal como fez no Líbano e provavelmente com os mesmos resultados. No fim desta guerra, o Hamas terá aumentado a sua popularidade na Palestina e no mundo árabe, até porque esta operação militar vem na sequência do bloqueio imposto pelos israelitas à Faixa de Gaza nos últimos dois anos, que visava enfraquecer o movimento mas que falhou.
É altamente provável que o Presidente Obama venha a considerar do interesse fundamental da América a criação de um Estado palestiniano. Verá nisso uma pré-condição para mudar a percepção dos EUA no mundo árabe e muçulmano e restaurar a credibilidade da América será um objectivo central da próxima Administração. Nessa medida, os duros israelitas não podem ter a certeza de que, dentro de algum tempo, Obama não venha a considerar necessária uma mudança de política em relação a Israel de forma a conseguir estes objectivos, que vê como um desígnio estratégico. O que eles também sabem é que qualquer compromisso sério com a questão palestiniana implica envolver o Hamas na busca de uma solução de dois Estados.
O Governo israelita está, em suma, a aproveitar os últimos dias da Administração Bush para implementar a sua política de privilegiar o uso da força e está a tentar criar, ao mesmo tempo, uma situação que tornará indubitavelmente mais difícil ao novo Presidente pôr de pé as suas políticas para a região. A imprensa tem mostrado como o sentimento de revolta está a alastrar pelo mundo árabe, onde as bandeiras americana e israelita são agora queimadas lado a lado. Esta guerra apenas servirá para tornar mais difícil uma aproximação aos países onde a maioria da população é muçulmana, embora a torne ainda mais necessária.
Uma das razões para a desconfiança internacional em relação ao Hamas tem sido o apoio que lhe dá o Irão. Mas se há uma coisa que o Presidente Obama se comprometeu a mudar foi precisamente a política americana em relação ao Irão, privilegiando a diplomacia, em vez da ameaça militar. Uma tal mudança tornaria também mais fácil pôr fim ao isolamento do Hamas. Um novo envolvimento dos EUA com o Irão teria um enorme impacte no Médio Oriente, porque afectaria todos os outros aspectos da sua política para a região, facilitando soluções para muitos dos complexos problemas que a afectam.
Mesmo que uma tal mudança estratégica seja também no interesse de Israel, ela não é percebida como tal por aqueles cuja influência e poder dependem de uma política centrada na segurança à custa de diplomacia. A mudança de atitude da América face ao Irão seria um sério revés para os seus interesses e é por isso que sonham em torná-la impossível. Condicionar a política americana é, por isso, uma das motivações que estão por trás da guerra em Gaza. Mas ela é também um sério desafio à paz internacional e corre o risco de vir a contagiar toda a região. Se isso acontecer, acabará por sabotar aquilo que poderia ser uma das mais importantes mudanças na política americana, a aproximação ao Irão.
Nos dias que precedem a tomada de posse do Presidente Obama, enquanto persiste nos EUA um vazio de poder, a União Europeia poderia ter um papel único a desempenhar nas iniciativas internacionais destinadas a pôr fim à violência e à crise humanitária. Para ter êxito, a UE deve adoptar a política seguida pela presidência francesa, dando prioridade ao fim dos combates e distanciando-se do uso desproporcionado da força por Israel. Negociar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas poderia ser o primeiro passo em direcção a um fim permanente das hostilidades e do bloqueio a Gaza. E poderia abrir caminho para que a nova Administração Obama possa convocar uma conferência internacional para implementar a solução dos dois Estados, que deveria seguir-se ao cessar-fogo. Este tipo de iniciativas não deve deixar-se arrastar para negociações tortuosas mas tão simplesmente centrar-se na implementação dos princípios essenciais da solução dos dois Estados, segundo as linhas propostas pela Administração Clinton pouco antes de ter saído de cena.
O Hamas já se envolveu em negociações de cessar-fogo e deve agora ser integrado completamente no processo de paz, ao lado da Fatah. Terá, evidentemente, de abandonar a sua própria estratégia de força, expressa nos rockets que faz chover sobre Israel. É uma política que já provou ser ineficaz e que é ilegal à luz da lei internacional, porque visa civis israelitas. Finalmente, Israel precisa de reconhecer que, se quiser agir de acordo com os seus valores democráticos, tem de abandonar uma estratégia de violência e de desrespeito pelos direitos humanos mais elementares dos palestinianos, bem como quaisquer desígnios de um Grande Israel. Em suma, precisa de aceitar um Estado palestiniano, em palavras mas também em actos. Até que isso aconteça e até à investidura do Presidente Obama, temos pela frente dias muito perigosos. A comunidade internacional precisa de políticos fortes e sensatos para ajudar a atravessá-los.
Director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia
Exclusivo PÚBLICO/Project Syndicate
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Comentário 09.01.2009 - 10h36 - Anónimo, BAHIA BRASIL
A maneira mais simples de resolver o conflito existente à decadas entre Israel e os Países Àrabes na área, seria a não interferência dos Estados Unidos da América e da União Europeia cada vez que os beligerantes se enfrentam, eles que resolvam o assunto entre eles, e a ONU, é que deve regular a situação, e como o Estado de Israel, ainda não cumpriu uma única solução determinada pela ONU, aí a Comunidade Internacional, só pode obrigar Israel a aceitar em conformidade, se não aceitarem as resoluções e determinações decretadas pela ONU, já teem motivo para actuarem como actuaram no Iraque, envio de forças militares internacionais para fazer cumprir determinações da ONU. Em menos de seis meses estava o conflito sanado e todos os povos na área teriam o seu País e os Judeus, se ainda existisse algum, teriam que emigrar para os States, aí sim, é que é a Terra Prometida, sem mais...
09.01.2009 - 08h59 Álvaro Vasconcelos
Durante uma visita ao Médio Oriente, o secretário da Defesa americano Robert Gates avisou que os inimigos dos EUA não deveriam usar o vazio de poder na região para tentar alterar o statu quo ou enfraquecer os novos objectivos americanos.
Ironicamente, o maior desafio a esta advertência acabou por vir do principal aliado da América na região, Israel. Os partidários da linha dura em Israel lamentam naturalmente o fim da Administração Bush, porque sabem que, mesmo que o Presidente Obama não mude radicalmente a política americana em relação a Israel, não repetirá o apoio incondicional do actual Presidente. Os duros israelitas viram a "guerra ao terror" e a guerra no Iraque como as suas guerras, apoiaram a retórica belicista de Bush e o isolamento do Irão e consideram os neoconservadores como seus irmãos ideológicos. Partilham especialmente a sua convicção de que a intervenção militar é uma forma legítima e eficaz de conseguir mudanças políticas. Foi o que o Exército israelita tentou alcançar no Líbano, ao procurar " esmagar o Hezbollah" de forma a mudar radicalmente a paisagem política libanesa. E é o que está agora a tentar fazer em Gaza.
Israel está a usar uma força desproporcionada em resposta aos rockets do Hamas, tal como fez no Líbano e provavelmente com os mesmos resultados. No fim desta guerra, o Hamas terá aumentado a sua popularidade na Palestina e no mundo árabe, até porque esta operação militar vem na sequência do bloqueio imposto pelos israelitas à Faixa de Gaza nos últimos dois anos, que visava enfraquecer o movimento mas que falhou.
É altamente provável que o Presidente Obama venha a considerar do interesse fundamental da América a criação de um Estado palestiniano. Verá nisso uma pré-condição para mudar a percepção dos EUA no mundo árabe e muçulmano e restaurar a credibilidade da América será um objectivo central da próxima Administração. Nessa medida, os duros israelitas não podem ter a certeza de que, dentro de algum tempo, Obama não venha a considerar necessária uma mudança de política em relação a Israel de forma a conseguir estes objectivos, que vê como um desígnio estratégico. O que eles também sabem é que qualquer compromisso sério com a questão palestiniana implica envolver o Hamas na busca de uma solução de dois Estados.
O Governo israelita está, em suma, a aproveitar os últimos dias da Administração Bush para implementar a sua política de privilegiar o uso da força e está a tentar criar, ao mesmo tempo, uma situação que tornará indubitavelmente mais difícil ao novo Presidente pôr de pé as suas políticas para a região. A imprensa tem mostrado como o sentimento de revolta está a alastrar pelo mundo árabe, onde as bandeiras americana e israelita são agora queimadas lado a lado. Esta guerra apenas servirá para tornar mais difícil uma aproximação aos países onde a maioria da população é muçulmana, embora a torne ainda mais necessária.
Uma das razões para a desconfiança internacional em relação ao Hamas tem sido o apoio que lhe dá o Irão. Mas se há uma coisa que o Presidente Obama se comprometeu a mudar foi precisamente a política americana em relação ao Irão, privilegiando a diplomacia, em vez da ameaça militar. Uma tal mudança tornaria também mais fácil pôr fim ao isolamento do Hamas. Um novo envolvimento dos EUA com o Irão teria um enorme impacte no Médio Oriente, porque afectaria todos os outros aspectos da sua política para a região, facilitando soluções para muitos dos complexos problemas que a afectam.
Mesmo que uma tal mudança estratégica seja também no interesse de Israel, ela não é percebida como tal por aqueles cuja influência e poder dependem de uma política centrada na segurança à custa de diplomacia. A mudança de atitude da América face ao Irão seria um sério revés para os seus interesses e é por isso que sonham em torná-la impossível. Condicionar a política americana é, por isso, uma das motivações que estão por trás da guerra em Gaza. Mas ela é também um sério desafio à paz internacional e corre o risco de vir a contagiar toda a região. Se isso acontecer, acabará por sabotar aquilo que poderia ser uma das mais importantes mudanças na política americana, a aproximação ao Irão.
Nos dias que precedem a tomada de posse do Presidente Obama, enquanto persiste nos EUA um vazio de poder, a União Europeia poderia ter um papel único a desempenhar nas iniciativas internacionais destinadas a pôr fim à violência e à crise humanitária. Para ter êxito, a UE deve adoptar a política seguida pela presidência francesa, dando prioridade ao fim dos combates e distanciando-se do uso desproporcionado da força por Israel. Negociar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas poderia ser o primeiro passo em direcção a um fim permanente das hostilidades e do bloqueio a Gaza. E poderia abrir caminho para que a nova Administração Obama possa convocar uma conferência internacional para implementar a solução dos dois Estados, que deveria seguir-se ao cessar-fogo. Este tipo de iniciativas não deve deixar-se arrastar para negociações tortuosas mas tão simplesmente centrar-se na implementação dos princípios essenciais da solução dos dois Estados, segundo as linhas propostas pela Administração Clinton pouco antes de ter saído de cena.
O Hamas já se envolveu em negociações de cessar-fogo e deve agora ser integrado completamente no processo de paz, ao lado da Fatah. Terá, evidentemente, de abandonar a sua própria estratégia de força, expressa nos rockets que faz chover sobre Israel. É uma política que já provou ser ineficaz e que é ilegal à luz da lei internacional, porque visa civis israelitas. Finalmente, Israel precisa de reconhecer que, se quiser agir de acordo com os seus valores democráticos, tem de abandonar uma estratégia de violência e de desrespeito pelos direitos humanos mais elementares dos palestinianos, bem como quaisquer desígnios de um Grande Israel. Em suma, precisa de aceitar um Estado palestiniano, em palavras mas também em actos. Até que isso aconteça e até à investidura do Presidente Obama, temos pela frente dias muito perigosos. A comunidade internacional precisa de políticos fortes e sensatos para ajudar a atravessá-los.
Director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia
Exclusivo PÚBLICO/Project Syndicate
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Comentário 09.01.2009 - 10h36 - Anónimo, BAHIA BRASIL
A maneira mais simples de resolver o conflito existente à decadas entre Israel e os Países Àrabes na área, seria a não interferência dos Estados Unidos da América e da União Europeia cada vez que os beligerantes se enfrentam, eles que resolvam o assunto entre eles, e a ONU, é que deve regular a situação, e como o Estado de Israel, ainda não cumpriu uma única solução determinada pela ONU, aí a Comunidade Internacional, só pode obrigar Israel a aceitar em conformidade, se não aceitarem as resoluções e determinações decretadas pela ONU, já teem motivo para actuarem como actuaram no Iraque, envio de forças militares internacionais para fazer cumprir determinações da ONU. Em menos de seis meses estava o conflito sanado e todos os povos na área teriam o seu País e os Judeus, se ainda existisse algum, teriam que emigrar para os States, aí sim, é que é a Terra Prometida, sem mais...
Admin- Admin
- Pontos : 5709
Re: Os últimos dias de Bush em Gaza, por Álvaro Vasconcelos 09.01.2009 - 0
NAO EXISTE, FORCA DESPROPORCIONAL , para acabar com uma ORGANIZACAO TERRORISTA!!! Isso e PROPAGANDA!!!
RONALDO ALMEIDA- Pontos : 10367
Re: Os últimos dias de Bush em Gaza, por Álvaro Vasconcelos 09.01.2009 - 0
Israel está a usar uma força desproporcionada em resposta aos rockets do Hamas, tal como fez no Líbano e provavelmente com os mesmos resultados. No fim desta guerra, o Hamas terá aumentado a sua popularidade na Palestina e no mundo árabe, até porque esta operação militar vem na sequência do bloqueio imposto pelos israelitas à Faixa de Gaza nos últimos dois anos, que visava enfraquecer o movimento mas que falhou.
O canal Odisseia deu uma reportagem sobre estes assuntos
Os gajos estao mesmo aptos a morrer pela causa ed disso teem consciencia
A reportagem ate esta moderada e objectiva
Viracopos- Pontos : 580
Re: Os últimos dias de Bush em Gaza, por Álvaro Vasconcelos 09.01.2009 - 0
A missao esta quase cumprida!!!! ACABAR com a forca TERRORISTA HAMAS!! A FESTA ACABOU!!
RONALDO ALMEIDA- Pontos : 10367
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