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Gaza: Erros e oportunidades perdidas 08.01.2009 - 20h03 Margarida Santos Lopes A invasão de Gaza poderia ser evitada ou era inevitável?

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Mensagem por Admin Qui Jan 08, 2009 2:37 pm

Gaza: Erros e oportunidades perdidas
08.01.2009 - 20h03 Margarida Santos Lopes
A invasão de Gaza poderia ser evitada ou era inevitável? Algumas falhas:

1. Retirada unilateral

O co-director do “Palestine-Israel Journal”, o jornalista de Telavive Hillel Schenker, constatou que “vários pecados originais conduziram a este momento”, e um deles foi o ex-primeiro-ministro Ariel Sharon ter insistido numa retirada unilateral da Faixa de Gaza, no Verão de 2005.

Sharon recusou coordenar a transferência do território com a Autoridade Palestiniana e rejeitou o Presidente Mahmoud Abbas como interlocutor. Isso permitiu ao Hamas “clamar que foi a sua ‘resistência’ que forçou Israel a recuar e que as negociações defendidas por Abbas não produziram resultados”, escreveu Schenker no jornal “The Nation”.

Assim que o exército saiu e os colonatos foram desmantelados, Gaza mergulhou na anarquia com milícias e clãs mafiosos a agirem sem qualquer controlo. E os “rockets” não deixaram de cair sobre as cidades do Sul de Israel.

Ainda que elogie a coragem de Sharon, também Daniel Levy, cientista político na New American Foundation, nota que a retirada, por ser unilateral, deixou mais questões em aberto do que resolvidas. “Gaza foi encerrada ao mundo, a Cisjordânia permaneceu sob ocupação e o que tinha o potencial para ser um gesto construtivo em direcção à paz tornou-se numa fonte de novas tensões”, comentou o artífice da Iniciativa (de paz) de Genebra no huffington.post.com.

2. Eleições e boicote

Depois da morte de Yasser Arafat, a Administração de George W. Bush estava tão determinada a “democratizar” a Palestina que ignorou todos os conselhos para não insistir na realização de eleições em Janeiro de 2006. O resultado foi o mais temido: um voto de protesto contra o poder corrupto da Fatah e uma vitória esmagadora do Hamas.

E o que fizeram os Estados Unidos, a Europa e o resto da comunidade internacional depois de os islamistas terem conquistado a maioria no parlamento, em eleições com base nos Acordos de Oslo, que o grupo sempre renegou? “Em vez de testarem a capacidade de o Hamas governar com responsabilidade e o encorajarem a integrar-se na arena política afastando-se da luta armada”, observou Levy, a resposta do mundo “foi cercar Gaza, isolar o Hamas e tentar derrubá-lo por meios não democráticos.”

Levy acha que uma parte do Quarteto, talvez os representantes da União Europeia e das Nações Unidas, deveria ter mantido uma porta de comunicação com o Hamas. Schenker disse que “Israel e a comunidade internacional deveriam ter tentado um compromisso com o governo do Hamas, mesmo sem garantias de sucesso”.

Aconteceu o contrário. Em 2007, quando os sauditas estavam a negociar um governo de “unidade nacional” Fatah-Hamas, os EUA tudo fizeram para o inviabilizar, oferecendo treino militar e armas às forças de segurança na Cisjordânia para derrotar o movimento islâmico.

Esta percepção de que a Fatah conspirava com a CIA foi o detonador para o sangrento “golpe de estado” do Hamas contra os seus rivais pelo controlo de Gaza, no Verão de 2007. Como retaliação, Israel declarou Gaza “entidade hostil” e sujeitou 1,5 milhões de habitantes a um severo bloqueio, na esperança de que se revoltassem contra os novos governantes. Em vão. O Hamas respondeu com “rockets”, agora com mais alcance, ainda que com imprecisa pontaria.

Não vencido mas isolado, o Hamas aceitou uma trégua com Israel, mediada pelo Egipto, que envolvia o fim dos disparos mas também o levantamento do bloqueio e a suspensão dos “assassínios selectivos” – uma e outra parte violaram o acordo por diversas vezes.

3. Força aos extremistas

O historiador Gershom Goremberg, autor da obra “The Accidental Empire: Israel and the Birth of the Settlements, 1967-1977”, lamenta que o cerco israelita não tivesse sido levantado mais cedo e, pelo contrário, tivesse sido reforçado. “Se tivesse anunciado que aceitava um governo Fatah-Hamas, que estava disposto a manter o cessar-fogo e a negociar a paz, Israel teria pressionado o Hamas a moderar as suas posições – ou provocaria até uma cisão no movimento”, salientou Goremberg na revista “The American Prospect”. Porque havia líderes do Hamas receptivos a partilhar o poder com a Fatah e a clarificar a sua posição sobre uma solução de dois estados nas fronteiras de 1967. Prevaleceram os que optaram pelo terrorismo.

Agora, com os “rockets” ainda a cair no Sul de Israel, apesar de uma ofensiva que já causou mais de 700 mortos e 3000 feridos palestinianos, Goremberg avisa: “Reconquistar Gaza será uma vitória táctica e um desastre estratégico que transformarão o exército israelita num alvo diário para a guerrilha. Derrubar o regime do Hamas deixará Gaza num caos”, que “jihadistas” simpatizantes da Al-Qaeda vão explorar. Já não basta uma “fachada” de cessar-fogo. “É preciso encontrar também uma solução para o futuro da Cisjordânia e reintegrar o Hamas numa única entidade política palestiniana. A mediação e a ajuda internacionais serão necessárias, mas a uma escala maior do que o actual policiamento da fronteira Gaza-Egipto.”

Concluiu a revista “The Economist” num recente editorial: “Uma vez que o Hamas não vai desaparecer, é preciso encontrar maneira de o fazer mudar de ideias [aceitar Israel]. E só bombas não farão isso.
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Mensagem por Admin Qui Jan 08, 2009 2:38 pm

Agora, com os “rockets” ainda a cair no Sul de Israel, apesar de uma ofensiva que já causou mais de 700 mortos e 3000 feridos palestinianos, Goremberg avisa: “Reconquistar Gaza será uma vitória táctica e um desastre estratégico que transformarão o exército israelita num alvo diário para a guerrilha. Derrubar o regime do Hamas deixará Gaza num caos”, que “jihadistas” simpatizantes da Al-Qaeda vão explorar. Já não basta uma “fachada” de cessar-fogo. “É preciso encontrar também uma solução para o futuro da Cisjordânia e reintegrar o Hamas numa única entidade política palestiniana. A mediação e a ajuda internacionais serão necessárias, mas a uma escala maior do que o actual policiamento da fronteira Gaza-Egipto.”

Concluiu a revista “The Economist” num recente editorial: “Uma vez que o Hamas não vai desaparecer, é preciso encontrar maneira de o fazer mudar de ideias [aceitar Israel]. E só bombas não farão isso.
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