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A bosta é natural e alimenta muito bicharoco

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A bosta é natural e alimenta muito bicharoco Empty A bosta é natural e alimenta muito bicharoco

Mensagem por Viriato Seg Mar 23, 2009 3:28 am

Do adubo

A bosta é natural e alimenta muito bicharoco. Entra na economia do sistema vegetal e sai da vegetação dos economistas. Também a real bosta que é a TVI veio enriquecer as nossas opções lúdicas na versão 24. Nada se perde.

É o caso do Prolongamento, onde se encontram reunidos Pôncio Monteiro, Fernando Seara e Eduardo Barroso, os três sob a desculpa de irem falar de futebol. Mentira. Eles são mantidos naquele espaço apenas para não andarem à solta na cidade. Pelo menos durante duas horas, uma vez por semana, ficam num ambiente controlado, monitorizado por um auxiliar de enfermagem e vigiados por várias câmaras de televisão; assim descansando familiares e amigos que podem aproveitar para ir jantar fora, ao cinema ou pôr a conversa em dia.

É o caso do Cartas na Mesa, onde Constança Cunha e Sá se dedica ao passatempo de convencer os entrevistados a verbalizarem o que ela pensa – sendo que o seu pensamento se resume a uma única ideia: Sócrates é o coveiro da Pátria. Na entrevista a Garcia Leandro, que passou despercebida por causa da sensatez das respostas, calhou o general elaborar um bocadinho sobre o ímpeto reformista do Governo. Ao ouvir dizer que algumas reformas precisariam de mais tempo para além dos 4 anos da legislatura, Constança arregalou os olhos, teve um assomo de entusiasmo e quis saber onde é que Sócrates tinha falhado. A resposta foi extraordinariamente relevante. Leandro explicitou a sua opinião dizendo que as reformas na Saúde e Educação teriam corrido melhor, e chegado mais longe, se tivessem tido – como deveriam ter tido – o apoio da oposição. Isto porque mudar culturas e mentalidades é muito difícil, seja onde e quando for. Este raciocínio levou ao regresso da face anestesiada da entrevistadora, onde se pendurou um sorriso que dizia És mau, não queres brincar… Passou logo para outro assunto.

É o caso do Contas à Vida, indiscutivelmente o programa mais importante da TVI24. Junta Perez Metelo, moderador e conversador, Pina Moura e Braga de Macedo. Pina Moura está lá só para ficar a olhar para o palácio. Metelo é agradável, como sempre. E o espectáculo responde por Jorge Avelino.

A crise global tem várias vantagens, que me perdoem os desempregados. Uma delas é levar os portugueses, povo avesso à racionalidade capitalista, a interessar-se um pouco mais sobre estas matérias. Isso só nos irá fazer bem, dando frutos em pouco tempo. Outro benefício está na constatação de que a economia é, de facto, uma ciência humana. Ou seja, que ninguém se entende sobre o que deve ser feito, nem sequer os especialistas mais reputados. A estupidez de acusar o Governo por não ter previsto a crise é o prato do dia que se repete em todo o lado, porque não se anteciparam os acontecimentos em parte alguma do Mundo, nem sequer onde eles tiveram origem, os EUA. Uma das primeiras conclusões deste fenómeno, a qual já estava estabelecida desde a crise do preço do petróleo em 2008, é a de que os sistemas financeiros e económicos são complexos demais para os modelos e agentes que os tentam analisar. Isso faz dos economistas, de repente, aristocratas deserdados. Perderam as propriedades cognitivas, os bens intelectuais, andando também na sopa dos pobres das teorias. E isso é bom, confere humildade que tanta falta faz.

Este quadro permite desfrutar melhor do acontecimento Braga de Macedo (filho). Trata-se de uma figura fisionomicamente cómica, a que acresce ser histriónica na expressão. Perfeito para funções lectivas, com traços e pose facilmente caricaturáveis. Por dentro, é um representante da elite nacional, rodado internacionalmente, conhecedor a fundo da lógica dos sistemas de poder e dos limites do regime. Este composto poderia não ter nada de notável não fosse a veia irónica que o comanda. E que o próprio não controla, é pulsional. Como exemplo anedótico, lembrar uma entrevista algures enquanto ministro das Finanças de Cavaco. À pergunta, salvo erro pela Maria Elisa, sobre se determinada circunstância monetária iria levar os portugueses a sentir na carne essa alteração, usando a expressão no seu inequívoco sentido figurado, a resposta foi que Sim, e também no peixe e no pão, continuando a falar sem se desmanchar. É este artista que aparece agora todas as quartas-feiras para fazer gato-sapato do atarantado Pina e deliciar o babado Metelo. E também para nos mostrar que até ele, fruta velha e finória, não faz ideia do porquê e para quê dos acontecimentos. Eis a suprema encenação de um mestre da ironia, autofágico até à última caloria.

Publicado por Valupi
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