2009, revisitado politicamente
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2009, revisitado politicamente
2009, revisitado politicamente
por JOÃO MARCELINO
1 Um ano depois, Portugal está ainda no meio da crise. O desemprego não pára. A dívida externa também não. O défice do Estado disparou para "ajudar" as famílias e as PME - e, claro, "ajudar" às eleições. Destas resultou um quadro político-partidário ainda dominado pelo PS, mas já sem uma maioria autónoma, e as outras são possibilidades quase meramente teóricas.
A materialização da maioria sociológica, de esquerda, é impossível porque Bloco e PCP acreditam que apenas crescem, ou resistem, pelo que disserem que fariam - eles, os "bons" - diferente do que fazem os outros - os "maus".
O bloco central (do PS com o PSD) é impossível por razões várias, mas igualmente porque os líderes se detestam pessoalmente.
A maioria que resta (do PS com o PP) é impossível porque um partido que de repente ganha um inusitado espaço à direita parece acreditar que não pode comprometer-se com alianças com o centro-esquerda.
E tudo isto é ainda mais impossível porque o PS de Sócrates sublima a cultura política nacional: antes quebrar que negociar.
Desta forma, continuamos a ser o único país da Europa democrática onde as coligações governamentais (com a excepção do entendimento PSD/PP) não são um instrumento para fomentar a estabilidade política, que tanta falta faria nesta altura. E não há inocentes neste jogo que parece viver de e para o supremo gozo das eleições. Como se estas não fossem apenas um meio para ajudar à resolução dos problemas, das pessoas e do País.
2 A mais angustiante re-velação de 2009 foi, no entanto, a de que o Presidente da República deixou de ser um referencial de estabilidade para muitos portugueses, que nele acreditavam em termos de grandeza pessoal e último refúgio do Estado.
O chamado "caso das escutas" revelou Cavaco Silva como um actor parcial, comprometido com a intriga política, incapaz de desfazer as dúvidas quanto ao seu papel no complot da "asfixia democrática". A forma como colocou a mão por baixo do assessor que tentou inventar uma intriga contra o primeiro-ministro daria um escândalo de proporções bíblicas numa democracia adulta. Por cá, o PR acha apenas que o pessoal político do Palácio de Belém tem direito às suas opiniões, aos seus estados de espírito, e a vi-da segue como se nada se tivesse passado.
Também isso é estranho. Um primeiro-ministro é ultrajado directamente a partir da Presidência da República e não se indigna em público!? Limita-se a dizer, se é que diz, uns palavrões em privado? E o que pode um cidadão pensar, emparedado entre os sucessivos escândalos que vão rebentando à esquerda e direita de Cavaco e Sócrates? Que o BPN não teria existido não fosse o Freeport? Que Armando Vara só foi alvejado porque Dias Loureiro foi apanhado? E como é que isto se resolve? Despejando sobre Portugal as eleições suficientes para que pelo menos um dos homens se veja livre do outro?
É uma realidade medíocre, esta que vivemos politicamente, sobretudo porque este azedume não vem de algo que seria compreensível: os dois homens defenderem dois caminhos diferentes para a sociedade. Até defendem. Mas não foi por isso que chegaram aqui assim, a representarem todos os dias num palco à nossa frente.
Outras notas - políticas - de 2009: o PSD precisa de um líder que seja alternativa de facto ao actual primeiro-ministro, o que Manuela Ferreira Leite não conseguiu ser; Paulo Portas travou um combate excepcional em que mostrou talento para retirar o PP do beco a que parecia condenado; Francisco Louçã teve sorte em que a soma simples do PS com o Bloco não desse maioria de deputados no Parlamento, ou teria sido confrontado finalmente com as suas responsabilidades perante o País. E José Sócrates, goste-se ou não, é o melhor primeiro-ministro que Portugal pode ter nesta altura.
por JOÃO MARCELINO
1 Um ano depois, Portugal está ainda no meio da crise. O desemprego não pára. A dívida externa também não. O défice do Estado disparou para "ajudar" as famílias e as PME - e, claro, "ajudar" às eleições. Destas resultou um quadro político-partidário ainda dominado pelo PS, mas já sem uma maioria autónoma, e as outras são possibilidades quase meramente teóricas.
A materialização da maioria sociológica, de esquerda, é impossível porque Bloco e PCP acreditam que apenas crescem, ou resistem, pelo que disserem que fariam - eles, os "bons" - diferente do que fazem os outros - os "maus".
O bloco central (do PS com o PSD) é impossível por razões várias, mas igualmente porque os líderes se detestam pessoalmente.
A maioria que resta (do PS com o PP) é impossível porque um partido que de repente ganha um inusitado espaço à direita parece acreditar que não pode comprometer-se com alianças com o centro-esquerda.
E tudo isto é ainda mais impossível porque o PS de Sócrates sublima a cultura política nacional: antes quebrar que negociar.
Desta forma, continuamos a ser o único país da Europa democrática onde as coligações governamentais (com a excepção do entendimento PSD/PP) não são um instrumento para fomentar a estabilidade política, que tanta falta faria nesta altura. E não há inocentes neste jogo que parece viver de e para o supremo gozo das eleições. Como se estas não fossem apenas um meio para ajudar à resolução dos problemas, das pessoas e do País.
2 A mais angustiante re-velação de 2009 foi, no entanto, a de que o Presidente da República deixou de ser um referencial de estabilidade para muitos portugueses, que nele acreditavam em termos de grandeza pessoal e último refúgio do Estado.
O chamado "caso das escutas" revelou Cavaco Silva como um actor parcial, comprometido com a intriga política, incapaz de desfazer as dúvidas quanto ao seu papel no complot da "asfixia democrática". A forma como colocou a mão por baixo do assessor que tentou inventar uma intriga contra o primeiro-ministro daria um escândalo de proporções bíblicas numa democracia adulta. Por cá, o PR acha apenas que o pessoal político do Palácio de Belém tem direito às suas opiniões, aos seus estados de espírito, e a vi-da segue como se nada se tivesse passado.
Também isso é estranho. Um primeiro-ministro é ultrajado directamente a partir da Presidência da República e não se indigna em público!? Limita-se a dizer, se é que diz, uns palavrões em privado? E o que pode um cidadão pensar, emparedado entre os sucessivos escândalos que vão rebentando à esquerda e direita de Cavaco e Sócrates? Que o BPN não teria existido não fosse o Freeport? Que Armando Vara só foi alvejado porque Dias Loureiro foi apanhado? E como é que isto se resolve? Despejando sobre Portugal as eleições suficientes para que pelo menos um dos homens se veja livre do outro?
É uma realidade medíocre, esta que vivemos politicamente, sobretudo porque este azedume não vem de algo que seria compreensível: os dois homens defenderem dois caminhos diferentes para a sociedade. Até defendem. Mas não foi por isso que chegaram aqui assim, a representarem todos os dias num palco à nossa frente.
Outras notas - políticas - de 2009: o PSD precisa de um líder que seja alternativa de facto ao actual primeiro-ministro, o que Manuela Ferreira Leite não conseguiu ser; Paulo Portas travou um combate excepcional em que mostrou talento para retirar o PP do beco a que parecia condenado; Francisco Louçã teve sorte em que a soma simples do PS com o Bloco não desse maioria de deputados no Parlamento, ou teria sido confrontado finalmente com as suas responsabilidades perante o País. E José Sócrates, goste-se ou não, é o melhor primeiro-ministro que Portugal pode ter nesta altura.
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