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MURREU JOSÉ SARAMAGO

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Mensagem por Kllüx Sex Jun 18, 2010 6:12 am

Relembrando a primeira mensagem :

Morreu Nobel José Saramago

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Morreu o escritor português José Saramago aos 87 anos, que foi Prémio Nobel da Literatura em 1998.


Última edição por Kllüx em Seg Jun 21, 2010 8:24 am, editado 3 vez(es)
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Mensagem por Kllüx Sáb Jun 19, 2010 6:08 am

O féretro com os restos mortais de José Saramago saiu hoje, entre aplausos de muitos anónimos, da câmara ardente instalada na Biblioteca com o nome do escritor para a sua transferência para o Aeroporto de Lanzarote de onde viaja para Lisboa.

O féretro saiu da câmara ardente às 09:28, hora local (mesma hora em Lisboa), carregado pela viúva do escritor, Pilar de Rio, o seu cunhado, Javier Pérez, o filho de Pilar de Rio e a sua mulher, o presidente da Fundação César Manrique, José Juan Ramírez e a sua mulher e o biografo do escritor, Fernando Gómez Aguillera.

Cerca de 50 pessoas acompanharam a curta viagem entre a câmara ardente – visitada por mais de mil pessoas – e o carro fúnebre.

No avião que transporta os restos mortais de José Saramago seguirão, entre outros, Pilar del Rio, os irmãos e filhos da viúva de Saramago e a ministra da Cultura de Portugal.
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Mensagem por Kllüx Sáb Jun 19, 2010 6:10 am

O avião com os restos mortais de José Saramago, um C130 da Força Aérea Portuguesa, partiu às 10:25 locais (mesma hora em Portugal) do aeroporto de Lanzarote, no arquipélago espanhol das Canárias com destino a Lisboa.

A bordo viajam, entre outros, a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, a viúva do escritor, Pilar del Rio; Maria e Miguel del Rio, irmãos da viúva; Juan José, filho de Pilar del Rio, seis amigos pessoais e o biógrafo do escritor, Fernando Gómez Aguilera.

O cortejo fúnebre com os restos mortais de José Saramago, que morreu sexta feira, chegou às 09:40, hora local (mesma hora em Portugal), ao aeroporto de Lanzarote.

A comitiva chegou escoltada por dois veículos da Polícia Local de Tias, localidade da ilha de Lanzarote (Canárias) onde Saramago viveu nos últimos anos e onde, entre outras obras, escreveu “Ensaio sobre a Cegueira”.

Quatro outros veículos acompanharam o cortejo fúnebre até ao C-130 da Força Aérea Portuguesa que é esperado em Lisboa cerca das 12:45.

Antes, cerca de 50 pessoas acompanharam a saída do féretro na sua curta viagem entre a câmara ardente e o carro fúnebre.

O féretro saiu da câmara ardente às 09:28, hora local (mesma hora em Lisboa), carregado pela viúva do escritor, Pilar de Rio, o seu cunhado, Javier Pérez, o filho de Pilar de Rio e a sua mulher, o presidente da Fundação César Manrique, José Juan Ramírez e a sua mulher e o biografo do escritor, Fernando Gómez Aguillera.

Saramago, que colocou a pequena localidade de Tías no mapa cultural mundial foi despedido entre aplausos e com abraços entre Pilar del Rio e a filha do escritor e entre o responsável da Fundação César Manrique e o biógrafo do escritor.

Desde que foi aberta, às 17:30 de sexta feira, a câmara ardente foi visitada por cerca de mil pessoas.

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Mensagem por Kllüx Sáb Jun 19, 2010 6:12 am

Um grupo de intelectuais cubanos lamentou sexta feira o falecimento de José Saramago, a quem definiram como um “grande amigo” de Cuba.

“Cuba perde um grande amigo e a literatura universal um exemplo de ética e de criatividade perene”, disse o poeta e novelista Miguel Barnet à AFP.

O presidente da União de Escritores e Artistas de Cuba sublinhou ainda que José Saramago “foi um escritor consequente” com o ideário político cubano.

Segundo Barnet, Saramago foi ainda “um escritor dos necessitados e das mulheres e homens que com devoção se entregaram ao delírio e à imaginação”.

O prémio nacional de poesia Pablo Armando Fernández lamentou a morte de um amigo que “permanecerá para sempre no mundo das letras”.

Vincou ainda que José Saramago “foi um ser exemplar, solidário, limpo e humano”.

“Tenho memórias muito gratas da sua amizade e firmeza”, enfatizou.

Em declarações à televisão cubana, o novelista Leonardo Paduro defendeu que o escritor português “é um dos ícones das letras do século XX e começos de XXI, um homem que tinha tanta preocupação pela literatura como pelo contexto em que a fazia, que era a vida, o mundo contemporâneo”.

“Comprometido com ideais de esquerda, Saramago sempre (…) apoiou numerosas causas a favor dos mais débeis e dos direitos humanos (…) e defendeu a revolução cubana”, disse.

José Saramago visitou Cuba pela primeira vez em 1999, voltando depois em 2005 para marcar uma etapa de distanciamento político com Havana, motivada pela condenação, em 2003, de 75 dissidentes e a execução de três sequestradores de uma embarcação que pretendiam ir até aos Estados Unidos.
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Mensagem por Vitor mango Sáb Jun 19, 2010 9:16 am

Igreja Católica lusa elogia obra de Saramago, mas lamenta suas polêmicas
Temática religiosa esteve sempre presente nos livros publicados pelo conhecido escritor português
19 de junho de 2010 | 7h 53



EFE

LISBOA - A Igreja Católica portuguesa manifesta neste sábado, 19, seu pesar pela morte do escritor José Saramago e elogia sua obra, embora lamente as polêmicas em torno da religião provocadas por alguns de seus livros.

O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC) da Igreja Católica lusa lembra, em comunicado divulgado hoje, que Saramago "foi um grande criador da língua portuguesa" e aponta que "o cristianismo e o texto bíblico interessaram muito ao autor como objeto de sua recriação literária".

No entanto, o secretariado católico lamenta que a "aproximação" do Nobel de literatura à religião "não fosse mais desprendida de posicionamentos ideológicos".

A temática religiosa está presente nas criações de Saramago, em títulos como "O Evangelho segundo Jesus Cristo", "In Nomine Dei" e "A Segunda Vida de Francisco Assis".

Textos que criaram polêmica em Portugal, "mas cuja vivacidade do debate que suscitam em nada diminui o dever de cordialidade de um encontro cultural que só pode ser gerado na abertura e na diferença", acrescenta o comunicado da Igreja portuguesa.

Na apresentação de seu último livro "Caim" (2009), Saramago afirmou que a Bíblia tem "coisas admiráveis do ponto de vista literário" e "que vale muito a pena ler", embora também a definiu como "um livro de maus costumes".

Diante das críticas que esta obra despertou no seio da Igreja Católica portuguesa, o escritor acusou aos representantes de instituição de terem criticado o livro sem tê-lo lido.

José Saramago, de 87 anos, morreu na sexta-feira, 18, na ilha espanhola de Lanzarote e seus restos mortais serão repatriados hoje a Lisboa, em Portugal, onde ocorrerão as cerimônias fúnebres.
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Mensagem por Kllüx Sáb Jun 19, 2010 10:23 am

Entre as muitas coroas de flores junto à urna de José Saramago, uma destaca-se pelo tamanho e pelas cores: rosas vermelhas, gerberas brancas e coroas imperiais amarelas enviadas pelo comandante Fidel Castro e pelo irmão Raul, presidente de Cuba.

Em jeito de última homenagem, as coroas de flores representam a última despedida e junto à urna do escritor são já muitas.

As cores predominantes são o branco e o vermelho e por isso mesmo há uma que se destaca: uma grande coroa de flores vinda diretamente de Cuba.

Rosas vermelhas, gerberas brancas e coroas imperais amarelas trazem a homenagem do comandante Fidel Castro e do irmão Raul, atual presidente da ilha cubana.

Junto à urna, vê-se outra coroa do presidente da Câmara Municipal de Lisboa e outra vinda da Escola Secundária José Saramago, em Mafra.

Na sala onde está a urna, nos Paços do Concelho, encontra-se a viúva do escritor, Pilar del Rio, a filha de Saramago, Violante Matos e os netos do prémio Nobel, juntamente com Eduardo Lourenço, Manuel Gusmão e o fadista Carlos do Carmo e a mulher Maria Judite.

O ambiente é de consternação, mas não há choros compulsivos.

Em representação da autarquia estão o presidente da Câmara, António Costa e o vereador comunista Ruben de Carvalho.

José Saramago morreu às 12:30 de sexta-feira, na casa onde residia em Lanzarote, ilha espanhola.

O corpo do escritor está em câmara ardente no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Lisboa, de onde sairá no domingo às 12:00 para ser cremado no cemitério do Alto de S. João.
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Mensagem por Kllüx Sáb Jun 19, 2010 10:24 am

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Figura incontornável da literatura, homem de grandes convicções, de grande coerência e defensor dos ideais de Abril foram algumas das expressões usadas para descrever o escritor José Saramago por quem esteve hoje na Câmara Municipal de Lisboa.

“José Saramago era uma figura incontornável para todos nós, que, questionando o mundo, procurava sempre identificar-se com o ideal de abril, mas também mantinha o seu amor ao povo e a todos os povos”, disse o líder do Partido Comunista Português (PCP), em declarações aos jornalistas, antes de se dirigir à sala onde está a urna do escritor.

Para Jerónimo de Sousa, Saramago, “ao longo de toda a sua vida, perseguiu um ideal e mesmo depois do Nobel nunca deixou de procurar um mundo melhor para o povo e para o seu país”, apontou, dizendo ainda estar ali para “manifestar o seu voto de pesar e de solidariedade para com o grande escritor e o grande homem”.

Na mesma altura, o deputado socialista Manuel Alegre apontou que Saramago foi um “homem de grandes convicções, um homem de grande coerência”.

“Um grande artista que tinha um grande amor ao país e à nação”, sublinhou Alegre, acrescentando que Saramago era um escritor que lia com frequência e apontando o “Memorial do Convento” como o seu livro preferido.

Questionado sobre se a opção de viver em Espanha, significava que Saramago vivia de costas voltadas para Portugal, Alegre foi perentório: “Ele nunca esteve de costas voltadas e a mostra disso está no facto de ele ter querido vir para Portugal e uma parte dele [das cinzas] ficar aqui. Aqui é que era a raiz dele e a raiz dele era a língua”.

Presente nos Paços do Concelho, a ministra da Cultura de Espanha começou por apontar que a morte do Nobel da Literatura “é uma enorme perda porque ele era muito importante para a cultura espanhola, portuguesa e de todo o mundo”.

Ángeles González-Sinde lembrou que Saramago “era um escritor muito lido e querido em Espanha e a sua figura era muito presente em todo o território nacional” e apontou que foi o escritor quem acabou por ajudar a unir os dois países.

“Foi muito importante para Espanha e Portugal porque são dois países que habitualmente vivem de costas voltadas e Saramago aproximou-nos, mesmo depois da sua morte, Saramago faz unir mais Portugal e Espanha”, considerou.

Confrontada com o facto do escritor português ter defendido a união dos dois países e a existência de uma Ibéria, González-Sinde preferiu sublinhar o que os espanhóis gostam em Portugal.

“O que os espanhóis gostam em Portugal é da diversidade, do facto de terem outra língua e de serem um pais vizinho, no entanto, a cultura ibérica tem muito mais em comum do que aquilo que nós pensamos”, disse também.

A ministra espanhola admitiu ainda a possibilidade do governo espanhol fazer uma homenagem póstuma ao escritor português.

Na Câmara Municipal de Lisboa a bandeira está a meia haste, bem como outras duas bandeiras nacionais que se encontram no Largo do Município.



Última edição por Kllüx em Sáb Jun 19, 2010 10:28 am, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Kllüx Sáb Jun 19, 2010 10:26 am

A imprensa russa e de países que antes faziam parte da União Soviética dão grande relevo à notícia da morte do escritor português José Saramago.

A obra do Prémio Nobel da Literatura, à exceção do seu último romance “Caim”, está toda traduzida em russo. O romance Evangelho Segundo Jesus Cristo foi traduzido também para ucraniano e estónio.

“Interessei-me muito em ver como é que ele construía as frases de forma surpreendente, são construções de lítio, dentro das quais mergulham diálogos, quando não se compreende quem fala: ou autor ou as personagens. Uma fantástica polifonia do texto”, declarou Alexandre Bogdanovski, tradutor de todas as obras de Saramago publicadas em russo.

Segundo ele, “simplesmente atrai a sua forma de utilizar vivamente a palavra. Ele era um combatente de princípio contra a inércia da língua”.

Comparando as escritas do português Saramago e do brasileiro Paulo Coelho, cuja obra foi também traduzida para russo por Bogdanovski, este afirma: “Estão em pólos opostos. Cada um ocupa o seu lugar: um é difícil, o outro é fácil. Mas devo dizer que as dificuldades na leitura de Saramago não são um martelo que bate na cabeça do pobre leitor. Porque é uma espécie de redemoinho que engole o homem”.

A imprensa russa chama principalmente a atenção para o romance Evangelho Segundo Jesus Cristo.

“A Igreja Católica declarou esse romance um “pasquim contra o Novo Testamento. Os sacerdotes assinalaram que, no livro, Jesus é apresentado como um simples homem, capaz de errar, com desejos e dúvidas”, escreve o diário Kommersant.

“Ele estava descontente com a ordem existente das coisas. Penso que muitos se debruçaram, de uma ou de outro forma, sobre isso: Tolstoi, Dostoevski”, afirma Bogdanovski a propósito do polémico romance.

“A Saramago colocaram-se questões que surgem a todo aquele que lê atentamente as Sagradas Escrituras. São perguntas inevitáveis. Mas ele dá-lhes uma forma aguda, inflamada, quase blasfémica”, conclui o tradutor.

Bogdanovski revelou que brevemente será publicado em russo o último romance de Saramago: “Caim”.

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Mensagem por Kllüx Sáb Jun 19, 2010 10:27 am

José Saramago “consagrou a língua portuguesa”, considerou hoje em Lisboa Dilma Rousseff, a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) às presidenciais de 03 de outubro próximo no Brasil.

“Acho que Saramago é o grande escritor português de língua portuguesa dos tempos modernos. Ele é para mim um escritor que reverencio. Eu li o Evangelho Segundo Jesus Cristo, (Todos os) Nomes e A Jangada de Pedra. Gosto dos três, mas gosto muito do Evangelho”, precisou.

Dilma Rousseff falava à imprensa no final de um almoço com o primeiro ministro José Sócrates, na residência oficial de São Bento, e em que esteve também presente o chefe da diplomacia portuguesa Luís Amado.

Depois de responder afirmativamente que tencionava deslocar-se aos Paços do Concelho, onde decorre o velório de José Saramago, que morreu sexta feira em Lanzarote, Espanha, Dilma Rousseff destacou o facto do escritor, Nobel da Literatura em 1998, ter dado “uma grande contribuição para cada um de nós, que falamos a língua portuguesa”.

“Acho que ele consagrou a língua portuguesa. Não se pode falar português sem lamentar a morte dele”, acrescentou.

Para Dilma Rousseff, que regressa domingo de manhã ao Brasil, após um périplo pela Europa que a levou sucessivamente a Bruxelas, Paris, e Madrid, José Saramago condensava duas características: o escritor e a ação politica.

“Acho que ele era um grande lutador. Aqui em Portugal é reconhecido como sendo um homem que defendeu os mais pobres. A minha grande familiaridade com ele é como grande escritor. Ele vai ser lembrado pelos seus aspetos, mas no Brasil nós o reverenciamos mais por ser um grande escritor”, concluiu.
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MURREU JOSÉ SARAMAGO - Página 2 Empty SARAMAGO O escritor que revolucionou com a sua escrita

Mensagem por Vagueante Sáb Jun 19, 2010 2:08 pm

O escritor que revolucionou com a sua escrita
19.06.2010 - 15:50 Por Isabel Coutinho
José Saramago subverteu o cânone, a norma: pôs tudo em estado de desordem, revolucionou. Basta ler um excerto de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, romance publicado em 1991, para se notar a maneira peculiar como o Prémio Nobel da Literatura português usou a pontuação na sua escrita.
Era como narrador oral que Saramago se via quando escrevia (Paulo Ricca)


"A mulher não respondeu logo, olhava-o, por sua vez, como se o avaliasse, a pessoa que era, que de dinheiros bem se via que não estava provido o pobre moço, e por fim disse, Guarda-me na tua lembrança, nada mais, e Jesus, Não esquecerei a tua bondade, e depois, enchendo-se de ânimo, Nem te esquecerei a ti, Porquê, sorriu a mulher, Porque és bela, Não me conheceste no tempo da minha beleza, Conheço-te na beleza desta hora."

Peculiar porquê? Porque é usada de uma forma não canónica (apesar de o autor fazer parte do cânone literário): falta no texto o travessão para identificar o interlocutor no diálogo e o início das falas de cada personagem é assinalado por uma capitular. Também aqui se vê a frase característica da escrita de Saramago, uma frase quase sem pontos finais e cadenciada na pausa das vírgulas.

Não foi só nisto que o autor de Caim surpreendeu. O modo como "perturbou a tradição do romance histórico", diz o ensaísta Manuel Gusmão, ou fez "a inscrição da História na ficção", nas palavras do professor Carlos Reis é também inovador. Tinha uma "extraordinária capacidade" para descobrir "sentidos novos e temas por inventar" numa ficção e num teatro que se tornaram referências canónicas da nossa literatura.

E ao mesmo tempo, Saramago chamou a História à nossa atenção e deu-lhe uma nova leitura. "Em AViagem do Elefante, Saramago retorna a algo que estava adormecido na sua obra", diz o professor Carlos Reis que fala da sua "capacidade para pegar num episódio histórico e dar dele uma visão muito peculiar". Por sua vez, em Caim, continua o académico, o imaginário remete para O Evangelho segundo Jesus Cristo e para o imaginário bíblico em geral, que ali é subvertido pela visão interpretativa que Saramago coloca nas suas obras. "Saramago apropria-se da nossa história laica ou religiosa, como acontece em Caim e essa maneira de recuperar o nosso património histórico é muito interessante", acrescenta a especialista Ana Paula Arnaut.

O Nobel português, na sua obra, inventa factos, mistura o maravilhoso com o empírico, o conhecimento do presente com o reconhecimento ou novas versões do passado, diz, por seu lado, Manuel Gusmão. O modo como "joga ironicamente a ficção contra o relato histórico" e "mostra como uma tradição e história dos pobres, dos explorados, oprimidos e vencidos se pode construir contra a história dos vencedores" também o distingue. Para a professora catedrática Maria Alzira Seixo, a sua inovação no romance consegue ser ao mesmo tempo "erudita e popular". É erudita porque "tem bases historiográficas sólidas", quer nos livros sobre eventos do passado quer nos romances onde procedeu a investigações pessoais ou onde elabora conjecturas para a compreensão de uma época ou de uma figura. E é popular "pois inventa uma expressão oralizada, que tem a ver com o saber tradicional comunitário (como em Levantado do Chão), criando a sua frase característica, quase sem pontos finais e cadenciada na pausa das vírgulas", explica.

Era como narrador oral que Saramago se via quando escrevia e inovou na maneira como utilizava o ponto final e a vírgula (ele chamava-lhe "os sinais de pausa") dando à frase um outro ritmo dado pela oralidade. O escritor "usa pontuação, mas reinventa-a de acordo com um outro ritmo prosódico, que é o da oralidade de quem fala a língua", afirma Carlos Reis e redescobre sentidos ocultos nas palavras. É inovador o tipo de frase que veio a caracterizar o escritor onde se pode "encontrar o narrador a dialogar com uma ou mais personagens, ou duas personagens que dialogam", diz Manuel Gusmão.

Tudo terá começado no "ensaio de romance" Manual de Pintura e Caligrafia, publicado em 1997. Nessa obra o autor já ensaiava a sua técnica de construção romanesca e nunca mais a abandonará. Todos os seus futuros romances estão contidos em Manual de Pintura e Caligrafia tal como todos os seus grandes temas futuros estão lá: o "ateísmo confesso", o "papel de primordial importância concedido à mulher" até ao carácter humanista e humanitário que se prolonga pela sua obra, diz Ana Paula Arnaut. E nas últimas obras, As Intermitências da Morte, A Viagem do Elefante e Caim volta a haver uma nova mudança. "Surge um tom marcadamente cómico que se sobrepõe à seriedade que caracterizava os romances anteriores", afirma a professora universitária.

Quando lhe perguntámos se aquilo que Saramago fez em termos estilísticos já tinha sido feito, responde que às vezes a questão não é se já foi feito, é a intensidade com que é utilizado que dá essa coisa nova. "Não é uma coisa nova mas de uma maneira nova", conclui.

Esta é uma nova versão do texto Saramago: o escritor que brinca com a pontuação publicado no suplemento P2, de 23 de Abril de 2008

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Mensagem por ricardonunes Dom Jun 20, 2010 3:42 am

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Mensagem por Kllüx Dom Jun 20, 2010 7:46 am

Adeus Saramago: Corredor central do cemitério "pequeno" para última homenagem



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O corredor central do cemitério do Alto de São João, em Lisboa, foi pequeno para acolher as largas centenas de pessoas que quiseram assistir á ultima cerimónia fúnebre do escritor José Saramago.

Pelas 13:10, a urna do Prémio Nobel da Literatura entrou, carregada em ombros, no cemitério da capital.

A passagem do corpo de Saramago foi acompanhada de fortes aplausos, que duraram mais de 10 minutos e, com os populares a atirarem cravos vermelhos ao caixão.

"Saramago: a Luta continua", foi a frase mais gritada pelas centenas de pessoas, que se concentravam à entrada do crematório.

Várias personalidades portuguesas juntaram-se a este momento, como o secretário geral do PCP, Jerónimo de Sousa, também ele fortemente aplaudido quando chegou, e Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda.
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Mensagem por Kllüx Dom Jun 20, 2010 8:01 am


As cinzas de José Saramago, que será cremado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, “vão ficar em Portugal”, disse Pilar del Rio, a viúva do escritor.

Segundo Pilar del Rio, ainda não está definido o local, mas será onde ela possa “ir pôr uma flor de vez em quando”.
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