Sangrenta batalha de Gettysburg mudou guerra civil dos EUA e deixou Norte perto de vitória

Sangrenta batalha de Gettysburg mudou guerra civil dos EUA e deixou Norte perto de vitória
Max Altman | São Paulo - 15/11/2014 - 06h00
Confronto em colina da Pensilvânia em julho de 1863 significou derrota do estrategista Robert Lee e pôs fim às tentativas da Confederação de invadir território da União rumo a Washington

Travada entre 1º e 3 de julho de 1863, a batalha de Gettysburg foi a mais sangrenta da Guerra de Secessão dos Estados Unidos. Além das mais de 8 mil mortes, o embate na colina da Pensilvânia é considerado um ponto de inflexão no conflito civil estadunidense (1861-1865).
O episódio marca o início da ofensiva das tropas nortistas da União: decisiva vitória para o general George Meade — e um feito desastroso para o destacado general estrategista Robert Lee, líder militar da Confederação (Sul).
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Quadro "Hancock em Gettysburg", pintado por Thure de Thulstrup, retrata episódio da batalha de Gettysburg
As tropas do Norte tinham a vantagem numérica — 94 mil homens contra 72 mil sulistas —, porém os confederados brilhavam por suas qualidades militares e contavam em suas fileiras com os melhores oficiais, a começar pelo primeiro deles, o general Lee, que, embora fosse antiescravagista, era fiel aos ideais do Sul.
Por conta de sua vitória anterior em Chancellorsville, o general confederado Lee considerou que poderia, uma vez mais, invadir o território da União e fazer valer sua superioridade tática. Buscava, em especial, conquistar uma grande vitória a fim de obrigar Washington a aceitar negociações de paz. Suas manobras tinham por finalidade isolar e depois tomar a capital nortista.
No final de maio de 1863, o Exército sulista da Virgínia do Norte deixa o setor de Fredericksburg e atravessa o vale de Shenandoah a fim de invadir o território federal. Do lado da União, o novo comandante do Exército de Potomac, George Meade [na foto, à direita], toma consciência da movimentação de Lee somente nove dias mais tarde. Inicialmente, decide marchar sobre a capital sulista, Richmond — o que teria forçado Lee a mudar de planos. No entanto, o presidente Abraham Lincoln lhe envia uma contraordem: a prioridade era defender Washington. Assim, Meade se prepara para marchar em direção ao norte a fim de interceptar os confederados.
Perto do dia 29 de junho, Lee e Meade finalmente estavam a igual distância de Gettysburg, embora nenhum deles previsse travar batalha naquele lugar. Entretanto, a importância estratégica da cidade, grande entroncamento viário, pesou na decisão de iniciar o confronto.
O encontro na colina
Os sulistas lançam seu primeiro ataque coordenado contra Gettysburg em 1º de julho. Nitidamente superiores em número nas primeiras horas da batalha, os confederados decidem lançar um duplo assalto contra a cidade com as forças imediatamente disponíveis. Sob pressão, os soldados da União recuam.
À tarde, chega o general Lee [na foto, à esquerda] no campo de batalha. Percebendo logo que a colina sul era a chave da vitória e o centro de gravidade do inimigo, o estrategista sulista ordena a tomada dessa posição. Escaldado pelos primeiros combates, o oficial que recebeu a ordem de ataque não a cumpre, julgando não estar em condições de completar a missão. Se os sulistas tivessem levado a cabo uma ofensiva vigorosa contra Cemetery Hill naquele momento, provavelmente teriam se apoderado da colina. Em vez disso, recebendo contínuos reforços, os unionistas conseguiram ganhar tempo para instalar uma sólida linha de defesa.
Já durante a noite, um dos subordinados de Lee, o general Longstreet, propõe que batessem em retirada em direção a Washington a fim de atrair os federais para um campo de batalha mais favorável aos confederados. Lee recusa e decide montar uma manobra em que a coordenação de seus três corpos de exército permitiria, em tese, vencer Meade. Com efeito, o general Longstreet deveria investir com toda a força sobre o flanco direito do inimigo, enquanto as tropas de Ewell, um outro general sulista, atacaria o flanco esquerdo. No centro, os confederados efetuariam movimentos de “diversão” para enganar os nortistas.
O plano não dá certo e, já na manhã de 2 de julho, as manobras perdem efeito.
Duelo de artilharia
No terceiro dia de combate, o general Lee tem outra ideia e decide estabelecer uma imponente barragem de artilharia, seguida de um assalto maciço contra o centro da formação nortista. Às 13h, 150 canhões abrem fogo. A resposta unionista vem firme com 80 canhões. Durante 90 minutos, Gettysburg é palco do mais violento duelo de artilharia da história dos Estados Unidos da América.
Por volta das 14h30, passou a faltar munição aos sulistas. Em truque de contrainformação, a artilharia da União finge ter sido arrasada e não responde mais. Os confederados avaliaram então ter destruído a maior parte da artilharia inimiga. Às 15h, 12 mil infantes confederados saem dos bosques a fim de avançar, a passo de parada, em direção a Cemetery Ridge, distante 2 quilômetros.

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Uma vez descobertos, são alvejados pelos canhões de Meade, que retomam seus disparos devastadores. Malgrado esse fogo mortífero, a investida sulista prosseguiu, mas, desta vez, tomando um novo caminho. A pesar do esforço desesperado, os sulistas são massacrados. Verdadeira guinada na batalha, a “carga de Pickett” — em referência ao oficial que liderou a investida tresloucada — leva o sul ao desastre: 7 mil tombam. Os que sobreviveram não tinham outra solução que não retornar para as suas linhas debaixo do tiroteio das unidades de Meade. Plenamente consciente da extensão do desastre, Lee reorganiza seu dispositivo em vista de um possível contra-ataque nortista, que jamais ocorreu.
Por ocasião do 150º aniversário da batalha de Gettysburg, norte-americanos reencenaram a "carga de Pickett"; assista ao vídeo:

No dia seguinte, 4 d julho, diante da passividade das forças federais, Lee deixa suas posições e bate em retirada em direção à Virgínia.
Demissão
Em consequência da derrota, Lee apresenta sua demissão ao presidente confederado, Jefferson Davis, que recusa e lhe reassegura novamente inteira confiança. A derrota de Gettysburg põe fim às tentativas de invasão do território da União. Esgotado pelas baixas sofridas, o Sul não mais teria forças para empreender nova invasão de peso. O sonho de uma vitória decisiva se esvaía definitivamente. Em Washington, um jornal estampava a discutível comparação: “Vitória! Waterloo eclipsado!”.
Político hábil, Abraham Lincoln não queria que o general Meade perseguisse e esmagasse o general Lee. A um telegrama de Meade que se vangloriava de “ter expulso o inimigo de nosso solo”, o presidente retrucou, irritado: “Nosso solo é o conjunto do país”.
Vídeo traz coletânea de imagens registrando o "dia seguinte" da sangrenta batalha de Gettysburg: