Cegueira: PJ aponta para negligência na farmácia do Hospital de Santa Maria

O relatório final é entregue hoje ao Ministério Público. Indícios recolhidos pela Polícia Judiciária indicam negligência no manuseamento da substância na farmácia do Hospital de Santa Maria. Uma nova análise foi pedida a um laboratório estrangeiro. Clique para visitar o Dossiê Cegueira em Santa Maria

13:31 Quinta-feira, 1 de Out de 2009 Última actualização há 36 minutos

Negligência. Esta é a tese defendida pela PJ no relatório que será entregue hoje no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, a propósito dos casos de cegueira provocados em doentes operados no Hospital de Santa Maria. Segundo o Expresso apurou, há provas suficientes para indiciar pelo menos dois funcionários do hospital do crime de ofensas à integridade física por negligência.

Os erros no manuseamento do produto que cegou seis doentes - durante uma pequena intervenção oftalmológica no Hospital de Santa Maria, a 17 de Julho - foram detectados e corrigidos numa primeira investigação da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS).

De acordo com uma fonte próxima do processo, "só muito dificilmente se saberá o que foi realmente injectado nos olhos dos doentes". Uma amostra foi enviada para exame num laboratório no estrangeiro, ao que apurámos para identificar a substância usada no tratamento.

As análises feitas em Portugal permitiram saber que não foi Avastin o medicamento injectado nos olhos dos doentes, mas não conseguiram identificar a substância usada. Independentemente das conclusões extraídas do relatório do Ministério Público, a IGAS tem sempre a possibilidade de intervir disciplinarmente contra os envolvidos, uma vez que os processos são autónomos.

O único doente que continua internado em Santa Maria, Walter Bom, começa a perder a esperança. "Estou sem ver absolutamente nada há mais de dois meses. Continuo na mesma desde que ceguei e já não acho que voltarei a ver algum dia", lamenta.

Quanto à possibilidade de ser tratado nos Estados Unidos, avançada por médicos do hospital, Walter Bom diz que foi contactado no início de Setembro, mas "parece que está tudo em stand by".

O doente congratula-se com o facto de a medicação ter sido entretanto reduzida. No entanto, desconhece quando regressará a casa.