Loureiro dos Santos acredita que Obama irá procurar alguém capaz de impor ordem no Médio Oriente (foto ASF) Cresce a pressão sobre Hosni Mubarak

Cresce a pressão sobre Hosni Mubarak


Por Nuno Saraiva Santos

O Presidente do
Egipto Hosni Mubarak não se demite e nomeou um vice-presidente, a
primeira vez que o faz desde que a 14 de Outubro de 1981, dia em que
assumiu o poder. O cargo foi entregue a Omar Suleiman, até agora chefe
dos serviços secretos, mas o general Loureiro dos Santos, especialista
em Estratégia, Segurança e Defesa, acredita que não será suficiente para
pacificar o país.

«Esta nomeação pode, de facto, indicar que
Hosni Mubarak vai sair e já não será substituído pelo filho, como
estaria previsto. Só não sei se isso será suficiente para satisfazer a
população, as organizações políticas e a própria irmandade muçulmana»,
começou por dizer Loureiro dos Santos.

No fundo não estará em
causa simplesmente o líder do Governo, mas o modelo de governação de um
país onde mais de 20 por cento da população vive com menos de1.5 euros
por mês.
«É, de facto, a forma de governação que está em causa. Por
isso digo que não será suficiente para satisfazer vários grupos, nem
Mohamed el Baradei, ícone para uma população muito jovem.»

Os
tempos são de indefinição e muitos receios, acredita Loureiro dos
Santos: «A irmandade muçulmana já reclamou a formação de um governo
interino, de transição, para provocar realização de eleições. Se houver
eleições livres, não saberemos como vai ser, nem é algo que Mubarak
queira.»

Dos Estados Unidos já houve uma declaração de Barak Obama que pode mostrar o caminho que será seguido.
«O
que se sabe é que o presidente Obama fez uma declaração pública muito
forte, no sentido de que a liberdade de expressão fosse respeitada, que
acabassem os bloqueios das comunicações e que se colocasse ponto final à
repressão, porque as manifestações são direitos das pessoas. A minha
interpretação é que as exigências públicas que o presidente dos EUA fez a
Hosni Mubarak vão no sentido de preparar rotura com actual regime e
aproximar-se de alguém capaz de impor a ordem e estabilizar a região»,
refere Loureiro dos Santos.

Leitura óbvia é que a população
perdeu o medo. Loureiro dos Santos concorda e acrescenta algo mais: «Aí
teve papel muito importante o que aconteceu na Tunísia. Já há indicação
que noutros países também já houve espasmos de contestação. O Egipto é
uma situação mais sensível porque é o maior país do Médio Oriente e tem,
inclusive, acordo de paz com Israel. Se houver alteração política, isso
altera também a relação de forças na zona. Por isso é tão perigoso...»