José Hermano Saraiva
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José Hermano Saraiva
José Hermano Saraiva
José Hermano Saraiva, que acaba de desaparecer, foi um improvável
ministro da Educação do último governo de Oliveira Salazar. Simples
professor liceal, terá sido a sua fidelidade ao Estado Novo, aliada a
uma inteligência viva e uma inegável capacidade de ação, que lhe
assegurou a ascenção política. Ainda estou a ver a fotografia da tomada
de posse, em Belém, ao lado de Américo Tomás, de fraque e calças de
fantasia, em Agosto de 1968, na qual, recordo, surge também uma outra
personalidade que há dias faleceu, Justino Mendes de Almeida.
Dias depois, Salazar cairia da cadeira de lona e, semanas mais tarde, os
equilíbrios do regime fizeram com que Marcello Caetano confirmasse José
Hermano Saraiva no cargo.
Não foi nada fácil a tarefa do ministro. Como ponto "alto" das questões
que teve de gerir, recorde-se a "crise de Coimbra", em 1969. Quem viveu
esse período lembra-se bem dele, ao lado do presidente Tomás, na
inauguração do edifício das Matemáticas, em Coimbra, nesse tenso e
verdadeiramente único momento em que Alberto Martins teve a coragem de
pedir a palavra, em nome da academia, naquele que viria a ser o início
de um dos maiores protestos de contestação universitária vividos em
Portugal.
A agitação universitária propagou-se a Lisboa. No ISCSPU, José Hermano
Saraiva decidiu não "homologar" a lista eleita da Associação académica,
de cuja direção eu fazia parte (ver aqui um
relato do nosso encontro com o ministro). Ficou claro que Marcello
utilizou então Hermano Saraiva para afastar, do ISCSPU, o seu rival
político Adriano Moreira, personalidade com a qual, à época, as
lideranças académicas decidiram, taticamente, solidarizar-se. Isso veio a
redundar numa invasão do Instituto pela "polícia de choque", chefiada
pelo capitão Maltez, e pela dissolução dos órgãos legítimos da
Associação, que passou a ser dirigida por uma complacente "comissão
administrativa".
Com o tempo, Marcello Caetano substituiu Saraiva por Veiga Simão. No que
me toca, devo dizer que a mudança não ajudou muito, porque não tive o
ensejo de apreciar, em excesso, as credenciais, ditas liberais, do novo
ministro: em 1971, como presidente eleito da Assembleia geral dos
estudantes do ISCSPU, voltei a ver a minha escolha não "homologada" pelo
novo ministro. Mas isso deve ser sina pessoal...
Usufruindo da oportunidade dada pela Democracia, José Hermano Saraiva
viria a fazer escola como divulgador televisivo, e não só, da História
pátria, confirmando a perceção de que a historiografia permanece como um
dos poucos domínios culturais onde o pensamento conservador preserva
uma certa notoriedade pública. A sua capacidade de "contador de
História" era inegável e, embora muitos achem que isso foi muitas vezes
feito em detrimento de algum rigor científico, a verdade é que ele terá
contribuído para despertar o interesse pela História de Portugal - e
esse será um importante serviço que o país, sem a menor dúvida, lhe
ficou a dever.
PS - Não notei, como devia ter feito, que José Hermano Saraiva foi
embaixador "político" em Brasília, nos tempos que antecederam o 25 de
abril.
Publicado por
Francisco Seixas da Costa
às
17:25
15
comentários
_________________
Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118178
Re: José Hermano Saraiva
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duas ou três coisas
"José Hermano Saraiva"
15 Comentários
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1 – 15 de 15
Anônimo disse......eu diria que era um 'contador de estórias'.
RIP.
20 de julho de 2012 18:33
Carlos Fonseca disse...1969. Que ano!
Em Julho desse ano estava reunido com
alguns camaradas do concelho de Sintra, a tentar lançar a candidatura da
CDE numa das freguesias do concelho, quando um deles sugeriu que
fossemos até ao anfiteatro ao ar livre de Agronomia, onde nessa noite se
realizaria uma sessão de Canto Livre.
E lá fomos, em dois pequenos carros. Eu, e mais seis, num Fiat 850; os outros - não me recordo quantos - num mini.
Foi
nessa noite que ouvi (e conheci) pela primeira vez Francisco Fanhais -
então ainda "padre, no Barreiro, lá!", como ele se apresentou -, e José
Fanha.
O grande chamariz era o Adriano (foi ele, salvo erro, que
teve o bom senso de conseguir evitar que as centenas de jovens (e menos
jovens) saíssem dali para irmos até lá abaixo à Junqueira expressar o
nosso apoio e solidariedade aos estudantes do ISCSPU, em greve, e
dizia-se, acossados pela PIDE).
Foi uma noite inesquecível, e ainda hoje me pergunto o que teria acontecido se tivéssemos levado avante a ideia inicial.
Que tempos esses, e como eram generosos os nossos vinte e tal anos.
20 de julho de 2012 19:00
patricio branco disse...jhs foi ainda o ultimo embaixador do antigo regime em brasilia e
ali teve esperanças de ainda continuar depois do 25a. mas não, foi
retirado. quem conta algo disto é marcello mathias no seu diario.
jhs
era irmão de antonio josé saraiva, o professor universitário proibido
de ensinar na universidade de lisboa por salazar e que se foi para paris
onde continuou a carreira.
jhs e ajs eram opostos ideologica e
politicamente mas isso não os impediu de estarem bem unidos
fraternalmente e cultivarem uma admiração intelectual mutua e recíproca.
pena
jhs não ter escrito e publicado as suas memórias, muito teria a dizer
por ter atravessado e vivido periodos emblematicos e tipicos da nossa
historia do sec 20.
a outra parte da sua vida foi a sua dedicaçãp à divulgação da historia e cultura portuguesas, na televisão e em escritos.
20 de julho de 2012 19:54
Anônimo disse...thomaz ou tomas?
themudo ou temudo?
costa ou kosta?
bem haja
20 de julho de 2012 23:18
Joaquim Pinto disse...Sr. Emb. Francisco Seixas da Costa.
Gostei da sua postagem feita ao nosso querido amigo José Hermano Saraiva.
É um facto a considerar que é pena os grandes e ilustres homens nos terem que deixar.
Partem com uma grade missão cumprida, em desenvolvimento de uma vasta cultura, que nos deixa pena.
Com amizade Joaquim pinto
20 de julho de 2012 23:50
Anônimo disse...Sou iscspiana da década de 90, mas esta história era por nós bem
conhecida sobre a rivalidade do JHS com o Professor Adriano, o que
demonstra as personalidades vincadas de ambos.
21 de julho de 2012 01:15
ARD disse...Era um pantomineiro que transformava a história em histrionismo.
Politicamente, era uma caricatura de Herman José a caricaturar José
Hermano Saraiva e era um impenitente fascista.
Também eu tive a honra
de fazer parte de uma direcção de uma Associação de Estudantes não
homologada por ele (Fac. de Direito). Algum tempo depois, cometeu o
impensável , introduzindindo os chamados "gorilas" nas instalações
universitáriias.
Os habituais louvaminheiros de serviço nas TV
discutem se será recordado como historiador ou como comunicador; eu
lembra-li-ei como o tipo que me obrigou a ir para a guerra colonial.
21 de julho de 2012 02:28
Anônimo disse...Foi uma das figuras sinistras do fascismo a quem o 25 de Abril não exigiu que prestasse contas.
V
21 de julho de 2012 02:35
patricio branco disse...pegando no comentario de ard, jhs nunca foi de facto incluido na
categoria dos historiadores pelos proprios profissionais da classe.
o mesmo para a sua vida de l. de camões tambem não foi bem aceitada pelos biografos literários.
Quanto ao seu periodo como ministro da educação, foi sem duvida um tempo de forte repressão.
21 de julho de 2012 07:52
domingos disse...Curioso como uma mesma realidade, JHS, pode ter interpretações
tão díspares. Porque, de facto, as as opiniões nunca passam de
interpretações.
21 de julho de 2012 08:10
Catinga disse...Cresci vendo o JHS, divertindo-me com a sua voz e os seus gestos,
aprendendo História e histórias ("estórias" é mania de estrangeirados,
três vezes "IRRA"), e percebendo-lhe o amor (mais do que simples gosto),
por Portugal, suas gentes e tradições.
Entre programas de TV,
livros e entrevistas, algumas coisas sempre me agradaram sobremaneira: a
facilidade de expressão, a clareza do pensamento, a forma certeira como
avaliava o mundo e os homens (exceção ao muito lirismo com que via a
nossa Expansão e sua herança).
No momento da sua morte, vejo a
internet ser invadida por comentários que invariavelmente se prendem com
questões de política, as mais das vezes odiosos, feitos num tom
panfletário (até a morte vi desejada ao Prof. Adriano Moreira - porque,
também ele, um "fascista").
E tenho pena disto - tenho mesmo
muita pena -, porque demonstra que a porcaria da política é como um
ácido que destroi as possibilidades de alguém ser apreciado pelos seus
contornos profissional, cultural ou humano, deixando apenas uma coisa
informe a que se possa chamar "facho" ou "comuna".
E tal como
aquando da morte do Saramago, também agora a justa homenagem a um grande
de nós é suja pela m***a da política (os asteriscos são meus).
Quero
lá saber dos despedimentos no DN feitos pelo Saramago! Quero lá saber
da carga policial ordenada pelo JHS! Sou ateu e não acredito em santos.
Todos nós temos manchas no caráter, todos nós temos as mãos sujas de
qualquer coisa. TODOS!
O meu pai era apoiante do Salazar. Com
fotografia na parede e tudo. E era tão bom e tão honesto que nem as
puras e puristas comissões de saneamento pós-25A o conseguiram demitir!
Sorte a dele que, tendo-se distinguido, nunca se tornou, no entanto,
figura pública porque, senão, de homem bom teria passado a simples
"facho".
Trinta e tal anos a tentar fazer os Portugueses amarem o
seu país (coisa que a muito democrata faz azia), a levar a História a
casa das pessoas um pouco por todo o mundo e, quando morre, o que vão
buscar? Coisas do tempo da outra senhora...
Raios partam a política!!!
21 de julho de 2012 09:18
Isabel Seixas disse...Respeitava com admiração o estilo e a arte de contar a história
toda como se a tivesse vivenciado em tempo e presença num qualquer
serão...
Suscitava-me uma inveja enorme e o desejo peregrino de o
ter transformado em duende que me surgisse nas vésperas dos testes de
história e me descansasse, olha não precisas estudar(História, bem
entendido...) que eu faço-te o ponto.
Há saberes que conduzem Uns ao estado de alma da elevação transcendental e Outros apenas ao sacrificio...
Paz á Sua Alma
21 de julho de 2012 09:41
Anônimo disse...Como escreveu um dos comentadores, era um 'contador de estórias' e um grandessíssimo fascista, acrescento eu.
21 de julho de 2012 11:17
Anônimo disse...Bravo, meu caro ARD, assim é que é falar, chamando os bois pelos
nomes! A morte não canoniza os mortos e há que não apagar a história.
Mantenhamo-nos lúcidos para que os mais novos o sejam.
'Merda! Sou lúcido' - com a benção de Álvaro de Campos até podemos dizer alguns dos palavrões que nos ocorrem.
(Por
favor, carísimo FSC, aquele momento em Coimbra foi 'tenso', concordo,
mas não o 'verdadeiramente único momento em que Alberto Martins teve a
coragem de pedir a palavra'...).
fg
21 de julho de 2012 13:35
Anônimo disse...Este post tem muito ar a contragosto...Uma espécie de tem que ser...
Mas, já agora, alguém com autoridade, poderá informar quem foi que salvou os judeus, o Arestides ou Salazar?
Isto está a ficar muito baralhado com tantas "licenciadas" opiniões.
21 de julho de 2012 16:45
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