Chipre: resgate pode "acabar com a confiança no sector bancário da noite para o dia"
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Chipre: resgate pode "acabar com a confiança no sector bancário da noite para o dia"
Chipre: resgate pode "acabar com a confiança no sector bancário da noite para o dia"
Hugo Torres
17/03/2013 - 20:53
Os analistas criticam solução encontrada pela zona euro para resgate de Chipre. Acordo é “desleal, míope e autodestrutivo”.
Oiada sessão de emergência no Parlamento
Os cipriotas foram apanhados de surpresa com as
condições anunciadas pela zona euro para o resgate do país. Não foram os
únicos. Na imprensa internacional, a crítica é geral. Os analistas
condenam o imposto extraordinário aplicado sobre os depósitos bancários,
que dizem pôr em causa a confiança no sistema e, possivelmente, dar
início a uma depressão na economia europeia.
Tim Worstall alerta para este perigo, na Forbes,
recorrendo à explicação que Milton Friedman e Anna Schwartz encontraram
para a Grande Depressão norte-americana. Segundo os dois economistas,
esta não teria acontecido, apesar do crash de 1929 e da consequente recessão, sem a intervenção da Reserva Federal, que dizem ter gerado uma corrida aos depósitos.
Como
se estancou nessa altura a corrida aos bancos? Garantindo que o
dinheiro dos depositantes estaria seguro. “Ora, o que fizeram em Chipre?
Acabaram com a garantia dos depósitos. Portanto, acabaram com a defesa
contra as corridas aos bancos e as falências em cascata”, escreve.
O
facto de os líderes europeus dizerem que a medida não será aplicada
noutro país, defende Worstall, é indiferente. “Se os cidadãos acharem
que já não têm os seus depósitos garantidos (…) veremos mais
levantamentos em massa e mais bancos a falirem. E falências de bancos em
cascata são exactamente o que nos fará cair numa nova depressão.”
“Não é um disparate, mas é ainda assim um fracasso”, tempera a britânica The Economist. Num artigo intitulado “Desleal, míope e autodestrutivo”,
a revista analisa a questão apontando três razões pelas quais a solução
encontrada para o quinto resgate na zona euro é “um erro”. Primeiro:
“reaviva o risco de contágio”. “A probabilidade de acontecerem
movimentos desestabilizadores de importantes montantes (em dinheiro, se
não para outros bancos) acabou de disparar.”
“O segundo erro é de equidade.” A Economist
argumenta que “não há qualquer imperativo moral para taxar as viúvas
cipriotas e deixar os detentores de obrigações bancárias intocados, como
parece ser o caso”, ou para proteger as operações gregas nos bancos
cipriotas. A terceira razão é “estratégica”. “O acordo cipriota não tem
coerência num contexto mais amplo”. “O preço político de entrar num
programa [de resgate] acabou de subir”, lê-se ainda.
“O que
estamos aqui a ver é o Governo cipriota a ser forçado a quebrar uma das
suas mais importantes promessas – a promessa de que se pusermos o nosso
dinheiro no banco, e os nossos depósitos forem inferiores a 100 mil
euros, estaremos seguros”, acrescenta Felix Salmon, da Reuters.
“Mais, não há uma boa razão para os depósitos com garantia serem
atingidos desta maneira: a mesma quantia poderia ser conseguida
aplicando aos depósitos sem garantia uma taxa ligeiramente superior”,
sublinha.
O acordo prevê que os depósitos inferiores a 100 mil
euros paguem um imposto extraordinário de 6,75% e que aos que
ultrapassem esse valor seja aplicada uma taxa de 9,9% (além de prever um
aumento dos impostos sobre as empresas, que pode chegar aos 12,5%).
Felix Salmon considera que a tributação em dois escalões serve apenas o
propósito de não aplicar uma taxa de dois dígitos aos depósitos mais
altos. Seria para não hostilizar os maiores investidores?
Segundo a análise de Raúl Ilargi Meijer, no Business Insider,
a eventual preocupação é desnecessária. Isto porque “este acordo de
aspecto muito curioso tem a capacidade de acabar com a confiança no
sector bancário da União Europeia da noite para o dia”. “Se os depósitos
bancários em Chipre não estão garantidos (mesmo que só até determinado
valor), não há qualquer razão para que as pessoas noutros países da zona
euro acreditem que os seus depósitos serão tratados de forma
diferente.”
O que terá então levado os líderes europeus a toma esta decisão? Stephen Fidler, que é mais comedido nas críticas, lembra no Wall Street Journal
que estes acordos são “geralmente conseguidos no último minuto por
ministros sob privação de sono”. “É confuso”, escreve. Fidler defende
que é tempo de o Banco Central Europeu assumir as questões relacionadas
com o sector bancário e que os governos europeus devem intervir cada vez
menos.
“Eu diria que é mais provável que os 37% de depósitos
‘estrangeiros’ em Chipre, isto é, russos em grande parte, tenham
empurrado os políticos europeus para uma decisão populista – punir os
criminosos! – que os fez negligenciar consequências mais vastas”,
contrapõe Meijer. Na BBC, Gavin Hewitt concorda:
os alemães “suspeitavam que metade dos depósitos nos bancos da ilha
pertencia a russos com muita lavagem de dinheiro [envolvida]” – e, por
isso, não estariam dispostos a dar-lhes mais dinheiro.
Mas a solução encontrada é, como diz Hewitt, “sensível”. E prova disso mesmo é que o Reino Unido decidiu compensar todos os que se encontram em Chipre ao serviço do Governo e do Exército britânicos.
“A Comissão Europeia disse que não haverá implicações para os bancos em
Espanha e Itália, mas a mensagem está dada”, continua Hewitt,
sublinhando que os recentes números apresentados para Portugal, em
consequência da austeridade, deveriam ter feito os decisores políticos
“parar para pensar”. Em vez disso, “voltaram a arriscar”.
“Fora isto”, ironiza a Economist, “é realmente um bom negócio.”
Hugo Torres
17/03/2013 - 20:53
Os analistas criticam solução encontrada pela zona euro para resgate de Chipre. Acordo é “desleal, míope e autodestrutivo”.
Oiada sessão de emergência no Parlamento
- Cipriotas em choque tentam levantar dinheiro mas contas estão bloqueadas
- Reino Unido compensa trabalhadores do Governo e militares em Chipre por depósitos
Os cipriotas foram apanhados de surpresa com as
condições anunciadas pela zona euro para o resgate do país. Não foram os
únicos. Na imprensa internacional, a crítica é geral. Os analistas
condenam o imposto extraordinário aplicado sobre os depósitos bancários,
que dizem pôr em causa a confiança no sistema e, possivelmente, dar
início a uma depressão na economia europeia.
Tim Worstall alerta para este perigo, na Forbes,
recorrendo à explicação que Milton Friedman e Anna Schwartz encontraram
para a Grande Depressão norte-americana. Segundo os dois economistas,
esta não teria acontecido, apesar do crash de 1929 e da consequente recessão, sem a intervenção da Reserva Federal, que dizem ter gerado uma corrida aos depósitos.
Como
se estancou nessa altura a corrida aos bancos? Garantindo que o
dinheiro dos depositantes estaria seguro. “Ora, o que fizeram em Chipre?
Acabaram com a garantia dos depósitos. Portanto, acabaram com a defesa
contra as corridas aos bancos e as falências em cascata”, escreve.
O
facto de os líderes europeus dizerem que a medida não será aplicada
noutro país, defende Worstall, é indiferente. “Se os cidadãos acharem
que já não têm os seus depósitos garantidos (…) veremos mais
levantamentos em massa e mais bancos a falirem. E falências de bancos em
cascata são exactamente o que nos fará cair numa nova depressão.”
“Não é um disparate, mas é ainda assim um fracasso”, tempera a britânica The Economist. Num artigo intitulado “Desleal, míope e autodestrutivo”,
a revista analisa a questão apontando três razões pelas quais a solução
encontrada para o quinto resgate na zona euro é “um erro”. Primeiro:
“reaviva o risco de contágio”. “A probabilidade de acontecerem
movimentos desestabilizadores de importantes montantes (em dinheiro, se
não para outros bancos) acabou de disparar.”
“O segundo erro é de equidade.” A Economist
argumenta que “não há qualquer imperativo moral para taxar as viúvas
cipriotas e deixar os detentores de obrigações bancárias intocados, como
parece ser o caso”, ou para proteger as operações gregas nos bancos
cipriotas. A terceira razão é “estratégica”. “O acordo cipriota não tem
coerência num contexto mais amplo”. “O preço político de entrar num
programa [de resgate] acabou de subir”, lê-se ainda.
“O que
estamos aqui a ver é o Governo cipriota a ser forçado a quebrar uma das
suas mais importantes promessas – a promessa de que se pusermos o nosso
dinheiro no banco, e os nossos depósitos forem inferiores a 100 mil
euros, estaremos seguros”, acrescenta Felix Salmon, da Reuters.
“Mais, não há uma boa razão para os depósitos com garantia serem
atingidos desta maneira: a mesma quantia poderia ser conseguida
aplicando aos depósitos sem garantia uma taxa ligeiramente superior”,
sublinha.
O acordo prevê que os depósitos inferiores a 100 mil
euros paguem um imposto extraordinário de 6,75% e que aos que
ultrapassem esse valor seja aplicada uma taxa de 9,9% (além de prever um
aumento dos impostos sobre as empresas, que pode chegar aos 12,5%).
Felix Salmon considera que a tributação em dois escalões serve apenas o
propósito de não aplicar uma taxa de dois dígitos aos depósitos mais
altos. Seria para não hostilizar os maiores investidores?
Segundo a análise de Raúl Ilargi Meijer, no Business Insider,
a eventual preocupação é desnecessária. Isto porque “este acordo de
aspecto muito curioso tem a capacidade de acabar com a confiança no
sector bancário da União Europeia da noite para o dia”. “Se os depósitos
bancários em Chipre não estão garantidos (mesmo que só até determinado
valor), não há qualquer razão para que as pessoas noutros países da zona
euro acreditem que os seus depósitos serão tratados de forma
diferente.”
O que terá então levado os líderes europeus a toma esta decisão? Stephen Fidler, que é mais comedido nas críticas, lembra no Wall Street Journal
que estes acordos são “geralmente conseguidos no último minuto por
ministros sob privação de sono”. “É confuso”, escreve. Fidler defende
que é tempo de o Banco Central Europeu assumir as questões relacionadas
com o sector bancário e que os governos europeus devem intervir cada vez
menos.
“Eu diria que é mais provável que os 37% de depósitos
‘estrangeiros’ em Chipre, isto é, russos em grande parte, tenham
empurrado os políticos europeus para uma decisão populista – punir os
criminosos! – que os fez negligenciar consequências mais vastas”,
contrapõe Meijer. Na BBC, Gavin Hewitt concorda:
os alemães “suspeitavam que metade dos depósitos nos bancos da ilha
pertencia a russos com muita lavagem de dinheiro [envolvida]” – e, por
isso, não estariam dispostos a dar-lhes mais dinheiro.
Mas a solução encontrada é, como diz Hewitt, “sensível”. E prova disso mesmo é que o Reino Unido decidiu compensar todos os que se encontram em Chipre ao serviço do Governo e do Exército britânicos.
“A Comissão Europeia disse que não haverá implicações para os bancos em
Espanha e Itália, mas a mensagem está dada”, continua Hewitt,
sublinhando que os recentes números apresentados para Portugal, em
consequência da austeridade, deveriam ter feito os decisores políticos
“parar para pensar”. Em vez disso, “voltaram a arriscar”.
“Fora isto”, ironiza a Economist, “é realmente um bom negócio.”
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118178
Re: Chipre: resgate pode "acabar com a confiança no sector bancário da noite para o dia"
.
Dizia Daniel Oliveira, no último Eixo do Mal (último sábado), a este respeito e mais ou menos por estas palavras:
"Dizem, que mais nenhum país será alvo de medida semelhante, mas eu não acredito e acho que é melhor guardar o dinheiro, no meu quintal, num cofre, sem ninguém saber que está lá..."
E eu digo: AMEN!
Dizia Daniel Oliveira, no último Eixo do Mal (último sábado), a este respeito e mais ou menos por estas palavras:
"Dizem, que mais nenhum país será alvo de medida semelhante, mas eu não acredito e acho que é melhor guardar o dinheiro, no meu quintal, num cofre, sem ninguém saber que está lá..."
E eu digo: AMEN!
_________________
Amigos?Longe! Inimigos? O mais perto possível!
Joao Ruiz- Pontos : 32035
Re: Chipre: resgate pode "acabar com a confiança no sector bancário da noite para o dia"
Joao Ruiz escreveu:.
Dizia Daniel Oliveira, no último Eixo do Mal (último sábado), a este respeito e mais ou menos por estas palavras:
"Dizem, que mais nenhum país será alvo de medida semelhante, mas eu não acredito e acho que é melhor guardar o dinheiro, no meu quintal, num cofre, sem ninguém saber que está lá..."
E eu digo: AMEN!
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Só discuto o que nao sei ...O ke sei ensino ...POIZ
Vitor mango- Pontos : 118178
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