Aristides de Sousa Mendes é um "mito criado por judeus"
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Aristides de Sousa Mendes é um "mito criado por judeus"
Aristides de Sousa Mendes é um "mito criado por judeus"
O embaixador João Hall Themido escreveu as suas memórias, sobre meio século da diplomacia portuguesa. No livro, o diplomata recorda que Kissinger considerava Mário Soares "um tonto", diz que a princesa Diana não sabia dançar e que Aristides de Sousa Mendes é um "mito criado por judeus".(Contém versão integral da notícia que foi publicada na edição do Expresso em banca)
José Pedro Castanheira
12:20 | Sábado, 1 de Nov de 2008
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Aristides de Sousa Mendes é um "mito criado por judeus" João Hall Themido, de 84 anos, na sua casa de Lisboa. Um registo crítico, mas também humorado, de um dos diplomatas com maior currículo internacional
João Hall Themido, de 84 anos, na sua casa de Lisboa. Um registo crítico, mas também humorado, de um dos diplomatas com maior currículo internacional
Uuma autobiografia disfarçada, assim se chama o livro de memórias do embaixador João Hall Themido, agora editado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. Um dos diplomatas portugueses com maior currículo, esteve dez anos em Washington (1971-81), período em que trabalhou com 12 ministros dos Estrangeiros. Foi mesmo dos raríssimos embaixadores que o 25 de Abril manteve no mesmo posto. Funcionário do MNE desde 1947, foi ainda director-geral dos Negócios Políticos, secretário-geral, e embaixador em Roma e Londres, onde terminou a carreira, em 1989.
Pelo livro, fica-se a saber que Franco Nogueira (de quem foi o braço-direito) o propôs a Marcello Caetano, para seu sucessor na pasta dos Estrangeiros. Antes, recusara o convite para chefiar o gabinete do ministro Pedro Teotónio Pereira.
Politicamente bastante conservador, Hall Themido gosta de dizer que nasceu no mesmo ano que Mário Soares, em 1924. Quando este "se lançou pela terceira vez na corrida a Belém, senti o terreno livre para fazer também alguma coisa desconcertante". Nasceu então este livro, que também poderia chamar-se "A Arte de Sobreviver no Palácio das Necessidades", para utilizar uma frase sua (pág. 207) - e de que se apresenta uma amostra em termos de dicionário.
Base das Lajes
Durante a guerra israelo-árabe de 1973, os EUA "fizeram um ultimato a Portugal. Em termos rudes, foi-nos dado a entender que os Estados Unidos utilizariam a base das Lajes, na ponte aérea para Israel, com a nossa concordância ou sem ela. Compreendendo o alcance da comunicação americana, Marcello Caetano, sem alternativa, respondeu autorizando o uso dos Açores para aquele fim". Meses depois, Hall Themido foi recebido na Sala Oval pelo Presidente Nixon. "A diligência teve a finalidade de, formalmente, me serem apresentados agradecimentos pela atitude cooperante de Portugal na guerra de Yom Kippur. Chega a ser irónico agradecer uma cooperação não desejada e até imposta, mas na vida, como na diplomacia, o cinismo existe!" Hall Themido faz um balanço negativo do acordo das Lajes em termos de benefícios para Portugal e chega a escrever, numa alusão que também parece aplicar-se aos presos de Guantanamo, que "a experiência recente mostra que os americanos actuam como se a base fosse sua, e para sempre".
Costa Gomes
O Presidente da República "foi recebido com honras menores em relação à projectada visita de Spínola e, na única atenção de que foi alvo - um almoço de trabalho no Departamento de Estado, oferecido por Kissinger - este sujeitou-o a um interrogatório feroz de que Costa Gomes se saiu mal".
Departamento de Estado
Washington "via em mim um colaborador de confiança e recorria muitas vezes ao meu conselho (...) Aconselhava o Governo americano a ajudar as forças democráticas que lutavam contra o domínio comunista, sem distinção e sem publicidade".
Goa e Timor
"A esta distância, surpreende como foi possível prosseguir numa política de recusa obstinada às pressões indianas." No entanto, a ocupação de Goa, Damão e Diu, baseada "numa invasão militar, é tão condenável e ilegítima como a invasão de Timor pela Indonésia".
Inquisição
"Em Washington, pouco tempo depois da Revolução de Abril, recebi na embaixada uma circular determinando que fossem inutilizadas todas as publicações do Secretariado Nacional de Informação e do Ministério do Ultramar" - incluindo a colecção "Estudos de Ciências Políticas e Sociais", onde Themido publicara a sua monografia "Portugal e o Anticolonialismo", que apresentara no concurso para conselheiro de embaixada. "Essas instruções, fruto do clima da época mas sintomáticas de um pensamento primário, saíram do gabinete do ministro, que era Mário Soares. Quero acreditar que foram expedidas à sua revelia."
Jaime Gama e Franco Nogueira
A sua actuação, enquanto ministro dos Estrangeiros, "fazia-me recordar os tempos em que naquela mesma sala estava Franco Nogueira. Ambos tinham grande categoria pessoal e olhavam para o serviço público da mesma forma, dando a sensação de não terem outras ambições pessoais, para além dos cargos que exerciam".
Macau e a Revolução Cultural
A Revolução Cultural em Macau "terminou de forma vergonhosa para Portugal". A partir de Dezembro de 1966, "pode dizer-se que, para a história de Macau, fica apenas a entrega do território à China". "Sinto que Macau me ficou a dever alguma coisa", escreve Themido, que lamenta que ninguém se tenha lembrado "de me convidar para as cerimónias da entrega de Macau à China, a que assistiu meio Portugal".
Marcello Caetano
As viagens "triunfais" de Caetano ao Ultramar "tiveram efeito nefasto, por darem uma imagem optimista da realidade política e social dos territórios". Noutra passagem, critica Caetano por ter deixado "acentuar o mal-estar nas Forças Armadas" e publicar o livro do general Spínola.
Maria de Lourdes Pintasilgo
Iniciou a audiência com o secretário de Estado Cyrus Vance, em Nova Iorque, "referindo-se a um problema no domínio de pescas que a preocupava". Só perante o "ar intrigado" dos americanos é que a primeira-ministro "se lembrou que o assunto dizia respeito ao Canadá" - não aos EUA.
Mário Soares
"Uma figura de excepção, a mais notável da nossa democracia".
Melo Antunes
"Deixou a melhor impressão. Na qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros, foi recebido na Casa Branca, gesto excepcional".
PIDE/DGS
Nas embaixadas e nos consulados "não havia agentes da PIDE". Com "uma excepção": a embaixada em Kinshasa, no Congo, que "recebia fundos, pouco significativos, para pagar a informadores no contexto da guerra em Angola".
Pinheiro de Azevedo
O primeiro-ministro do VI Governo Provisório defendeu, no Departamento de Estado, "usando linguagem colorida, que as campanhas de dinamização cultural efectuadas em Portugal substituíam, com vantagem, eleições".
Sá Carneiro
"Almoçávamos no Tavares (...) Era evidente o seu desagrado com os americanos por lhe dispensarem menos atenção do que a Mário Soares, situação que acabou por desagradar ao Departamento de Estado".
Salazar
O embaixador José Luís Archer, então secretário-geral do Ministério, esteve com Salazar "no dia da invasão de Goa, encontrou-o perturbado ao ponto de considerar demitir-se. Teria sido o momento da mudança, com dignidade, o primeiro depois do oferecido pelo fim da Segunda Guerra, em 1945". Em 1963, vencido o primeiro round da guerra em Angola, "Salazar pensava que o tempo estava a seu favor. Errou nessa análise e os americanos disseram-lho frontalmente".
Spínola
"Um general prestigiado", que escreveu um livro "nitidamente subversivo".
"Um mito criado por judeus"
Um dos capítulos do livro, porventura o mais polémico, chama-se "A mitificação de Aristides de Sousa Mendes". O embaixador acusa o cônsul de "actuação irregular". "De forma totalmente irrealista, fala-se em 30 mil" o número de vistos "concedidos em apenas alguns poucos dias pelo cônsul e seus familiares, de forma cega, no consulado e até nos cafés da vizinhança". Themido sublinha "a necessidade de manter disciplina nos serviços que de forma directa ou indirecta pudessem, com a sua actuação, afectar o estatuto de neutralidade" do país. Para o embaixador, Aristides foi um "mito criado por judeus e pelas forças democráticas saídas do 25 de Abril". E mais à frente: "quando a família" do cônsul, "grupos judaicos e forças da esquerda ressuscitaram o assunto, procurei saber mais sobre o ocorrido". Observa que Aristides apenas "pertencia à carreira consular, considerada carreira menor em relação à carreira diplomática". Por outro lado, o processo disciplinar ao cônsul em Bordéus "foi o último de vários de que foi alvo ao longo da carreira, quase sempre por abandono do posto ou concussão". Nota que a maioria dos processos "desapareceu misteriosamente" do MNE e que o de Bordéus está "incompleto". Assim, considera "incompreensível criticar" o Ministério, "incluindo o ministro, por ter aplicado a lei nas circunstâncias da época".
Mário Soares é um tonto!
MÁRIO SOARES
Umdos mais detalhados retratos é o de Henry Kissinger. "Para ele, Portugal não passava de um país incómodo (...) Nunca senti estar com um amigo do meu país ou de alguém que tivesse prazer em ser útil." O secretário de Estado dos EUA "usou todas as armas ao seu alcance". Recorria, "sem hesitação, à duplicidade e às meias-verdades", era "sedutor" e "megalómano". Com Portugal, "revelou irresponsabilidade e pouca consideração". "Pessimista, desejou que o pior nos acontecesse e considerou Mário Soares um tonto (disse-me, de forma enfática, numa conversa informal: 'he is a fool') em quem não se podia confiar. Mais tarde admitiu o erro." Em relação a Angola, "não podia ser mais desastrado".
A princesa que não sabia dançar
PRINCESA DIANA DE GALES
A Anglo-Portuguese Society assinalou, em 1986, os 600 anos do Tratado de Windsor com um baile de gala. Na sua qualidade de embaixador de Portugal em Londres, coube a Hall Themido "a grata tarefa" de abrir o baile com Diana de Gales, enquanto a sua mulher dançava com o príncipe Carlos. Aqui fica o registo: "A Princesa Diana foi uma decepção. A sua beleza não me impressionou e a conversa foi um desastre. Esforcei-me, sem êxito, para encontrar um motivo de conversa e, possivelmente por minha culpa, achei que nem sequer dançava bem. Escondida por detrás de um sorriso estereotipado, pareceu estar uma pessoa fria e sem interesse.".
O embaixador João Hall Themido escreveu as suas memórias, sobre meio século da diplomacia portuguesa. No livro, o diplomata recorda que Kissinger considerava Mário Soares "um tonto", diz que a princesa Diana não sabia dançar e que Aristides de Sousa Mendes é um "mito criado por judeus".(Contém versão integral da notícia que foi publicada na edição do Expresso em banca)
José Pedro Castanheira
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Aristides de Sousa Mendes é um "mito criado por judeus" João Hall Themido, de 84 anos, na sua casa de Lisboa. Um registo crítico, mas também humorado, de um dos diplomatas com maior currículo internacional
João Hall Themido, de 84 anos, na sua casa de Lisboa. Um registo crítico, mas também humorado, de um dos diplomatas com maior currículo internacional
Uuma autobiografia disfarçada, assim se chama o livro de memórias do embaixador João Hall Themido, agora editado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. Um dos diplomatas portugueses com maior currículo, esteve dez anos em Washington (1971-81), período em que trabalhou com 12 ministros dos Estrangeiros. Foi mesmo dos raríssimos embaixadores que o 25 de Abril manteve no mesmo posto. Funcionário do MNE desde 1947, foi ainda director-geral dos Negócios Políticos, secretário-geral, e embaixador em Roma e Londres, onde terminou a carreira, em 1989.
Pelo livro, fica-se a saber que Franco Nogueira (de quem foi o braço-direito) o propôs a Marcello Caetano, para seu sucessor na pasta dos Estrangeiros. Antes, recusara o convite para chefiar o gabinete do ministro Pedro Teotónio Pereira.
Politicamente bastante conservador, Hall Themido gosta de dizer que nasceu no mesmo ano que Mário Soares, em 1924. Quando este "se lançou pela terceira vez na corrida a Belém, senti o terreno livre para fazer também alguma coisa desconcertante". Nasceu então este livro, que também poderia chamar-se "A Arte de Sobreviver no Palácio das Necessidades", para utilizar uma frase sua (pág. 207) - e de que se apresenta uma amostra em termos de dicionário.
Base das Lajes
Durante a guerra israelo-árabe de 1973, os EUA "fizeram um ultimato a Portugal. Em termos rudes, foi-nos dado a entender que os Estados Unidos utilizariam a base das Lajes, na ponte aérea para Israel, com a nossa concordância ou sem ela. Compreendendo o alcance da comunicação americana, Marcello Caetano, sem alternativa, respondeu autorizando o uso dos Açores para aquele fim". Meses depois, Hall Themido foi recebido na Sala Oval pelo Presidente Nixon. "A diligência teve a finalidade de, formalmente, me serem apresentados agradecimentos pela atitude cooperante de Portugal na guerra de Yom Kippur. Chega a ser irónico agradecer uma cooperação não desejada e até imposta, mas na vida, como na diplomacia, o cinismo existe!" Hall Themido faz um balanço negativo do acordo das Lajes em termos de benefícios para Portugal e chega a escrever, numa alusão que também parece aplicar-se aos presos de Guantanamo, que "a experiência recente mostra que os americanos actuam como se a base fosse sua, e para sempre".
Costa Gomes
O Presidente da República "foi recebido com honras menores em relação à projectada visita de Spínola e, na única atenção de que foi alvo - um almoço de trabalho no Departamento de Estado, oferecido por Kissinger - este sujeitou-o a um interrogatório feroz de que Costa Gomes se saiu mal".
Departamento de Estado
Washington "via em mim um colaborador de confiança e recorria muitas vezes ao meu conselho (...) Aconselhava o Governo americano a ajudar as forças democráticas que lutavam contra o domínio comunista, sem distinção e sem publicidade".
Goa e Timor
"A esta distância, surpreende como foi possível prosseguir numa política de recusa obstinada às pressões indianas." No entanto, a ocupação de Goa, Damão e Diu, baseada "numa invasão militar, é tão condenável e ilegítima como a invasão de Timor pela Indonésia".
Inquisição
"Em Washington, pouco tempo depois da Revolução de Abril, recebi na embaixada uma circular determinando que fossem inutilizadas todas as publicações do Secretariado Nacional de Informação e do Ministério do Ultramar" - incluindo a colecção "Estudos de Ciências Políticas e Sociais", onde Themido publicara a sua monografia "Portugal e o Anticolonialismo", que apresentara no concurso para conselheiro de embaixada. "Essas instruções, fruto do clima da época mas sintomáticas de um pensamento primário, saíram do gabinete do ministro, que era Mário Soares. Quero acreditar que foram expedidas à sua revelia."
Jaime Gama e Franco Nogueira
A sua actuação, enquanto ministro dos Estrangeiros, "fazia-me recordar os tempos em que naquela mesma sala estava Franco Nogueira. Ambos tinham grande categoria pessoal e olhavam para o serviço público da mesma forma, dando a sensação de não terem outras ambições pessoais, para além dos cargos que exerciam".
Macau e a Revolução Cultural
A Revolução Cultural em Macau "terminou de forma vergonhosa para Portugal". A partir de Dezembro de 1966, "pode dizer-se que, para a história de Macau, fica apenas a entrega do território à China". "Sinto que Macau me ficou a dever alguma coisa", escreve Themido, que lamenta que ninguém se tenha lembrado "de me convidar para as cerimónias da entrega de Macau à China, a que assistiu meio Portugal".
Marcello Caetano
As viagens "triunfais" de Caetano ao Ultramar "tiveram efeito nefasto, por darem uma imagem optimista da realidade política e social dos territórios". Noutra passagem, critica Caetano por ter deixado "acentuar o mal-estar nas Forças Armadas" e publicar o livro do general Spínola.
Maria de Lourdes Pintasilgo
Iniciou a audiência com o secretário de Estado Cyrus Vance, em Nova Iorque, "referindo-se a um problema no domínio de pescas que a preocupava". Só perante o "ar intrigado" dos americanos é que a primeira-ministro "se lembrou que o assunto dizia respeito ao Canadá" - não aos EUA.
Mário Soares
"Uma figura de excepção, a mais notável da nossa democracia".
Melo Antunes
"Deixou a melhor impressão. Na qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros, foi recebido na Casa Branca, gesto excepcional".
PIDE/DGS
Nas embaixadas e nos consulados "não havia agentes da PIDE". Com "uma excepção": a embaixada em Kinshasa, no Congo, que "recebia fundos, pouco significativos, para pagar a informadores no contexto da guerra em Angola".
Pinheiro de Azevedo
O primeiro-ministro do VI Governo Provisório defendeu, no Departamento de Estado, "usando linguagem colorida, que as campanhas de dinamização cultural efectuadas em Portugal substituíam, com vantagem, eleições".
Sá Carneiro
"Almoçávamos no Tavares (...) Era evidente o seu desagrado com os americanos por lhe dispensarem menos atenção do que a Mário Soares, situação que acabou por desagradar ao Departamento de Estado".
Salazar
O embaixador José Luís Archer, então secretário-geral do Ministério, esteve com Salazar "no dia da invasão de Goa, encontrou-o perturbado ao ponto de considerar demitir-se. Teria sido o momento da mudança, com dignidade, o primeiro depois do oferecido pelo fim da Segunda Guerra, em 1945". Em 1963, vencido o primeiro round da guerra em Angola, "Salazar pensava que o tempo estava a seu favor. Errou nessa análise e os americanos disseram-lho frontalmente".
Spínola
"Um general prestigiado", que escreveu um livro "nitidamente subversivo".
"Um mito criado por judeus"
Um dos capítulos do livro, porventura o mais polémico, chama-se "A mitificação de Aristides de Sousa Mendes". O embaixador acusa o cônsul de "actuação irregular". "De forma totalmente irrealista, fala-se em 30 mil" o número de vistos "concedidos em apenas alguns poucos dias pelo cônsul e seus familiares, de forma cega, no consulado e até nos cafés da vizinhança". Themido sublinha "a necessidade de manter disciplina nos serviços que de forma directa ou indirecta pudessem, com a sua actuação, afectar o estatuto de neutralidade" do país. Para o embaixador, Aristides foi um "mito criado por judeus e pelas forças democráticas saídas do 25 de Abril". E mais à frente: "quando a família" do cônsul, "grupos judaicos e forças da esquerda ressuscitaram o assunto, procurei saber mais sobre o ocorrido". Observa que Aristides apenas "pertencia à carreira consular, considerada carreira menor em relação à carreira diplomática". Por outro lado, o processo disciplinar ao cônsul em Bordéus "foi o último de vários de que foi alvo ao longo da carreira, quase sempre por abandono do posto ou concussão". Nota que a maioria dos processos "desapareceu misteriosamente" do MNE e que o de Bordéus está "incompleto". Assim, considera "incompreensível criticar" o Ministério, "incluindo o ministro, por ter aplicado a lei nas circunstâncias da época".
Mário Soares é um tonto!
MÁRIO SOARES
Umdos mais detalhados retratos é o de Henry Kissinger. "Para ele, Portugal não passava de um país incómodo (...) Nunca senti estar com um amigo do meu país ou de alguém que tivesse prazer em ser útil." O secretário de Estado dos EUA "usou todas as armas ao seu alcance". Recorria, "sem hesitação, à duplicidade e às meias-verdades", era "sedutor" e "megalómano". Com Portugal, "revelou irresponsabilidade e pouca consideração". "Pessimista, desejou que o pior nos acontecesse e considerou Mário Soares um tonto (disse-me, de forma enfática, numa conversa informal: 'he is a fool') em quem não se podia confiar. Mais tarde admitiu o erro." Em relação a Angola, "não podia ser mais desastrado".
A princesa que não sabia dançar
PRINCESA DIANA DE GALES
A Anglo-Portuguese Society assinalou, em 1986, os 600 anos do Tratado de Windsor com um baile de gala. Na sua qualidade de embaixador de Portugal em Londres, coube a Hall Themido "a grata tarefa" de abrir o baile com Diana de Gales, enquanto a sua mulher dançava com o príncipe Carlos. Aqui fica o registo: "A Princesa Diana foi uma decepção. A sua beleza não me impressionou e a conversa foi um desastre. Esforcei-me, sem êxito, para encontrar um motivo de conversa e, possivelmente por minha culpa, achei que nem sequer dançava bem. Escondida por detrás de um sorriso estereotipado, pareceu estar uma pessoa fria e sem interesse.".
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