Uma terra com povo para um povo eleito
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Uma terra com povo para um povo eleito
Uma terra com povo para um povo eleito
29.08.2014
29.08.2014
Ninguém, em sã consciência, pode analisar o conflito Israel-Palestina, sem levar em consideração que o Estado judaico tem como fundamento a ideologia sionista. Para justificar essa situação conflituosa, os sionistas lançaram mão de mitos, cujo valor semântico era a invenção. E foi com esse ardil que estes engajaram as potências ocidentais no seu projeto de ocupação da Palestina, via expulsão da população nativa, eufemisticamente, chamada de política de transferências por Yosef Weitz, executivo do Fundo Nacional Judaico, em 1940.
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A imagem das intenções benignas dos conquistadores sionistas, na prática, era a realidade cruel da mitologia da conquista. O influente publicista sionista Moshe Smilansky lembrava, em 1914, que a Palestina era uma terra deserta e abandonada, esperando por seus redentores. Este mito explicava, perfeitamente, a atitude de desprezo dos colonos sionistas em relação à população palestina, embora não se tratasse de uma terra sem povo. Com a criação do Estado de Israel, a história da Palestina foi reescrita, apagando os árabes e retirando destes o poder de reivindicação. Entendia-se, então, que a Palestina fora uma terra virgem ou bravia durante os 2000 anos de exílio dos judeus. Somente, o povo judeu a merecia, por saber fazê-la frutificar. A partir desse entendimento não tardaram a expulsão e o extermínio dos palestinos. Nesse mister, o sionismo comportava-se, como irmão siamês do nazismo. Vale lembrar que, segundo o biógrafo Joachim Fest, Hitler, frequentemente, fazia a apologia do massacre dos peles-vermelhas na América.
O desgaste político da limpeza étnica, em curso, fez o movimento sionista adotar um novo mito de conquista, o das intenções pacíficas, logo desmascarado, quando ficou claro que o Estado judaico se estenderia por toda a Palestina, mostrando, assim, que o "ethos defensivo" do qual falava a historiadora israelense Anita Shapira era simplesmente uma máscara para uma missão de ocupação.
Infelizmente, a visão caolha do sionismo diante da realidade histórica servia ao trabalho ideológico junto à juventude judaica: era uma espécie de doutrinação em massa, uma propaganda mentirosa, aos moldes nazistas, aquilo que mais tarde o chanceler israelense Abba Eban chamou de "arte de convencer os outros daquilo em que você não acredita necessariamente". Dessa maneira, as novas gerações recrutadas pelo sionismo já eram, adrede, preparadas para ver, na população palestina, um amontoado de seres inferiores, estereotipados como sujos, burros e preguiçosos, incapazes de fazer florescer o progresso numa terra, considerada um direito histórico dos judeus. O direito histórico ou direito de propriedade dos judeus à Palestina era um direito que não exigia prova e fundava-se, teoricamente, no romantismo político alemão, uma das fontes do nazismo, o que não chega a surpreender, haja vista a simpatia de alguns ideólogos do sionismo pelas propostas do nacional-socialismo.
De qualquer maneira, "o direito histórico" do sionismo sobre a Palestina nem era histórico nem era um direito. Não era histórico, visto que desconsiderava dois milênios de colonização não judaica da Palestina e os dois milênios de colonização judaica fora dela. É, até, possível se argumentar pelo direito de uma minoria perseguida ter um lugar, aonde se refugiar, no caso, o povo judeu. Porém é inadmissível conceber que esta minoria queira, além do abrigo, desabrigar o povo que a acolheu. No entanto, com relação a essa questão, são claras as palavras do líder sionista Ben-Gurion: "O Estado judaico terá um exército excepcional, de modo que estou convencido de que não seremos impedidos de nos assentar em toda a Palestina, seja através de acordo com os vizinhos árabes ou de alguma outra forma", Essas palavras foram proferidas, em 1937, com a Palestina, ainda, sob o Mandato britânico, deixando patente o objetivo expansionista dos dirigentes sionistas, que, àquela altura, já ordenavam missões punitivas contra a população árabe, com o intuito de aterrorizá-la e expulsá-la do seu território. Prevalecia entre os expoentes do sionismo, a idéia de que o futuro Estado judaico não podia coexistir com os palestinos e no entendimento dos primeiros era inevitável o uso da força na transferência populacional. As condições para a saída forçada dos palestinos de suas terras foram criadas com o aval das grandes potências ocidentais e com a ajuda "operacional" de organismos repressivos como a Haganah, o Irgun e o Stern, que cometeram toda a sorte de atrocidades em vilarejos e aldeias palestinas. A palavra de ordem era o aniquilamento da população árabe nativa, na busca desesperada por espaço vital. Nesse aspecto, os sionistas se espelharam no pai da Geopolítica, o alemão Karl Haushoffer. A coerência estava, então, preservada, isto é, se o sionismo é uma doutrina colonialista de cunho expansionista e racista, o povo eleito devia cumprir os seus desígnios, esbulhando os palestinos de suas terras, para que pudesse, dela, tomar posse.
Essa usurpação vem ocorrendo ao longo dos sessenta anos de existência do Estado de Israel. Sob qualquer pretexto, o exército israelense usa de força desproporcional, para massacrar os civis palestinos num flagrante desrespeito às leis internacionais, que conta com a conivência das grandes potências e da O.N.U. A atual incursão israelense, na Faixa de Gaza, coloca, na ordem do dia, o conceito de "banalidade do mal" da pensadora judia Hannah Arendt. Após bombardearem escolas da O.N.U, que abrigavam crianças palestinas, os militares israelenses diziam-se tristes pela ação genocida, mas justificavam-na com o discurso hipócrita do cumprimento do dever.
THELMAN MADEIRA DE SOUZA
Rio de Janeiro
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