A fogueira das vaidades está ateada
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A fogueira das vaidades está ateada
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A fogueira das vaidades está ateada
29
Ricardo Costa |
8:00 Quarta feira, 10 de dezembro de 2014
A vida dos banqueiros nunca se fez só de glória. Ainda a banca andava pelos primórdios no séc. XIV e já as primeiras famílias de banqueiros de Florença percebiam que o seu poder era efémero, quando os seus principais devedores (o rei de Inglaterra e o de Nápoles) resolveram não pagar o que lhes deviam. Faliram e abriram alas aos Medici, que, depois de século e meio de glória, viram os seus bens acabarem numa "Fogueira das Vaidades" instigada pelo pregador Savonarola.
Essa célebre fogueira, que queimou a maior parte dos registos bancários dos Medici, foi ateada em resposta a uma utilização de dinheiros públicos pelos Medici, que andavam aflitos com o excesso de crédito concedido por algumas sucursais, sobretudo a de Londres e a de Bruges, e não se estavam a dar bem com a volatilidade da economia florentina.
Como vemos por este simplificado exemplo histórico, as desventuras dos banqueiros são muito mais comuns e antigas do que pensamos. Mesmo assim, é sempre com algum espanto que assistimos a um dia inteiro de audições parlamentares sobre o colapso do BES. Depois da enorme sonolência que nos provocaram os reguladores e políticos das semanas anteriores, Salgado e Ricciardi mostraram que, tantos séculos depois, os bancos ardem sempre numa fogueira das vaidades.
Os primos desavindos fizeram o retrato perfeito do que foi a crise da família Espírito Santo. O relato de um, só foi completado pela versão do outro. Salgado escolheu as palavras a dedo, não pisou riscos jurídicos, culpou o mundo e as circunstâncias e lamentou não ter tido tempo. Já Ricciardi mostrou o seu lado sanguíneo, falou pelos cotovelos, sem pesar as palavras e, apesar de ter o seu advogado ao lado, raras vezes hesitou em disparar na direção do seu primo, culpando-o de quase tudo.
Se um escolheu o detalhe absoluto e o rigor de datas, horas ou mesmo palavras, o outro foi uma torrente verbal, que reduziu o naufrágio do BES a um comandante megalómano, que viu o icebergue a tempo e manteve a rota para que ninguém lhe tirasse o poder. À partida, a segurança e o detalhe de Salgado parecem muito sólidos. Mas basta ouvir Ricciardi dez minutos para perceber que a sua versão, apesar de mais confusa e barulhenta, é incrivelmente mais correcta.
A própria escolha dos advogados foi sintomática. Enquanto Ricardo Salgado avançou para o Parlamento com Francisco Proença de Carvalho, bem escudado em segredos de justiça e eventuais problemas regulatórios, José Maria Ricciardi apresentou-se com o seu amigo Pedro Reis, um dos mais famosos advogados lisboetas de... divórcios!!! Isso mesmo, de divórcios. Pensando bem, o advogado não foi nada mal escolhido...
A fogueira das vaidades do BES demorou a atear. Salgado optou por não atacar ninguém na família, deixando apenas uma farpa ou duas para o seu primo. Reservou as baterias para o Banco de Portugal, que acusa de ter provocado e acelerado o colapso do Grupo e a implosão do banco. Mas Ricciardi chegou ao Parlamento com gasolina suficiente para pegar fogo ao Chiado. E gastou-a toda de uma vez.
Começou pelo verdadeiro problema, o prejuízo de €180 milhões escondido das contas da ESI e, 2008 e que cresceu de ano para ano até ser incontrolável. Destruiu a argumentação de Salgado e protegeu quase todas as decisões do Banco de Portugal. Não teve problemas em dizer que os negócios da família eram mal geridos e estavam a cargo de pessoas incompetentes. E, mais importante, defendeu que uma intervenção da troika no BES teria salvo o banco e a honra da família, mesmo que perdesse a posição dominante que tinha no banco. De resto, nos seus habituais excessos, disparou em demasiadas direções, algumas sem aparente razão ou lógica.
Excessos à parte, a verdade é que José Maria Ricciardi deixou a comissão de inquérito em ponto de ebulição, mudando o seu rumo de forma clara. Como sabemos, São Bento não é Florença e os Espírito Santo não são o Medici. Mas, como vemos, os bancos ardem sempre de forma espetacular. A fogueira das vaidades do BES ficou bem ateada. E vai ficar acesa por uns tempos.
Palavras-chave Bloguesresgate[url=http://expresso.sapo.pt/gen.pl?p=kwds&words=ricardo costa]ricardo costa[/url]telegramas[url=http://expresso.sapo.pt/gen.pl?p=kwds&words=Telegramas de uma sa%C3%ADda limpa]Telegramas de uma saída limpa[/url]
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/a-fogueira-das-vaidades-esta-ateada=f901948#ixzz3LWC0NDvG
A fogueira das vaidades está ateada
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Ricardo Costa |
8:00 Quarta feira, 10 de dezembro de 2014
A vida dos banqueiros nunca se fez só de glória. Ainda a banca andava pelos primórdios no séc. XIV e já as primeiras famílias de banqueiros de Florença percebiam que o seu poder era efémero, quando os seus principais devedores (o rei de Inglaterra e o de Nápoles) resolveram não pagar o que lhes deviam. Faliram e abriram alas aos Medici, que, depois de século e meio de glória, viram os seus bens acabarem numa "Fogueira das Vaidades" instigada pelo pregador Savonarola.
Essa célebre fogueira, que queimou a maior parte dos registos bancários dos Medici, foi ateada em resposta a uma utilização de dinheiros públicos pelos Medici, que andavam aflitos com o excesso de crédito concedido por algumas sucursais, sobretudo a de Londres e a de Bruges, e não se estavam a dar bem com a volatilidade da economia florentina.
Como vemos por este simplificado exemplo histórico, as desventuras dos banqueiros são muito mais comuns e antigas do que pensamos. Mesmo assim, é sempre com algum espanto que assistimos a um dia inteiro de audições parlamentares sobre o colapso do BES. Depois da enorme sonolência que nos provocaram os reguladores e políticos das semanas anteriores, Salgado e Ricciardi mostraram que, tantos séculos depois, os bancos ardem sempre numa fogueira das vaidades.
Os primos desavindos fizeram o retrato perfeito do que foi a crise da família Espírito Santo. O relato de um, só foi completado pela versão do outro. Salgado escolheu as palavras a dedo, não pisou riscos jurídicos, culpou o mundo e as circunstâncias e lamentou não ter tido tempo. Já Ricciardi mostrou o seu lado sanguíneo, falou pelos cotovelos, sem pesar as palavras e, apesar de ter o seu advogado ao lado, raras vezes hesitou em disparar na direção do seu primo, culpando-o de quase tudo.
Se um escolheu o detalhe absoluto e o rigor de datas, horas ou mesmo palavras, o outro foi uma torrente verbal, que reduziu o naufrágio do BES a um comandante megalómano, que viu o icebergue a tempo e manteve a rota para que ninguém lhe tirasse o poder. À partida, a segurança e o detalhe de Salgado parecem muito sólidos. Mas basta ouvir Ricciardi dez minutos para perceber que a sua versão, apesar de mais confusa e barulhenta, é incrivelmente mais correcta.
A própria escolha dos advogados foi sintomática. Enquanto Ricardo Salgado avançou para o Parlamento com Francisco Proença de Carvalho, bem escudado em segredos de justiça e eventuais problemas regulatórios, José Maria Ricciardi apresentou-se com o seu amigo Pedro Reis, um dos mais famosos advogados lisboetas de... divórcios!!! Isso mesmo, de divórcios. Pensando bem, o advogado não foi nada mal escolhido...
A fogueira das vaidades do BES demorou a atear. Salgado optou por não atacar ninguém na família, deixando apenas uma farpa ou duas para o seu primo. Reservou as baterias para o Banco de Portugal, que acusa de ter provocado e acelerado o colapso do Grupo e a implosão do banco. Mas Ricciardi chegou ao Parlamento com gasolina suficiente para pegar fogo ao Chiado. E gastou-a toda de uma vez.
Começou pelo verdadeiro problema, o prejuízo de €180 milhões escondido das contas da ESI e, 2008 e que cresceu de ano para ano até ser incontrolável. Destruiu a argumentação de Salgado e protegeu quase todas as decisões do Banco de Portugal. Não teve problemas em dizer que os negócios da família eram mal geridos e estavam a cargo de pessoas incompetentes. E, mais importante, defendeu que uma intervenção da troika no BES teria salvo o banco e a honra da família, mesmo que perdesse a posição dominante que tinha no banco. De resto, nos seus habituais excessos, disparou em demasiadas direções, algumas sem aparente razão ou lógica.
Excessos à parte, a verdade é que José Maria Ricciardi deixou a comissão de inquérito em ponto de ebulição, mudando o seu rumo de forma clara. Como sabemos, São Bento não é Florença e os Espírito Santo não são o Medici. Mas, como vemos, os bancos ardem sempre de forma espetacular. A fogueira das vaidades do BES ficou bem ateada. E vai ficar acesa por uns tempos.
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