Rui Patrício, o último chefe da diplomacia do Estado Novo, continua a considerar que "tínhamos a razão, o consenso, o direito e a equidade".
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Rui Patrício, o último chefe da diplomacia do Estado Novo, continua a considerar que "tínhamos a razão, o consenso, o direito e a equidade".
O 25 de Abril foi "a auto-derrota de uma Nação"
Rui Patrício, o último chefe da diplomacia do Estado Novo, continua a considerar que "tínhamos a razão, o consenso, o direito e a equidade".
José Pedro Castanheira
21:45 | Quinta-feira, 20 de Nov de 2008
O 25 de Abril foi "a auto-derrota de uma Nação" Rui Patrício (à direita), antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, ao lado do embaixador José Manuel Villas-Boas
Nuno Botelho
Rui Patrício (à direita), antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, ao lado do embaixador José Manuel Villas-Boas
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Marcelo Caetano afirmou que, em 1974, "a situação, interna e externa, estava longe de ser alarmante". Rui Patrício, que vive no Brasil desde o 25 de Abril, sublinhou que nessa altura "o problema essencial não era de política externa, mas de ordem interna". Quanto à descolonização que se seguiu, foi "uma auto-derrota de uma Nação".
Rui Patrício falava num colóquio sobre a diplomacia portuguesa, o quinto do ciclo 'Tempos de Transição. 1968-1974', sobre o marcelismo, e que teve lugar na quarta-feira, 19.
Rui Patrício, que não reconheceu qualquer erro na governação de Caetano, insistiu na tecla das "características específicas da política ultramarina portuguesa", que "não eram tidas em conta" nos areópagos internacionais. Criticou especialmente "o movimento comunista internacional", em que incluiu indistintamente a União Soviética e a China. Quanto à ONU, acusou-a de ter sido "o grande palco da campanha política e mediática contra a presença de Portugal em África".
Neste contexto, disse Rui Patrício, "a tarefa da diplomacia portuguesa era árdua, difícil e diária". Mas, na opinião do ex-ministro, "tínhamos a razão, o consenso, o direito e a equidade".
África fazia parte da "nação portuguesa"
Ao longo de uma hora, Patrício expôs os principais episódios que marcaram a diplomacia portuguesa durante os seis anos do consulado de Caetano. Elogiou Jorge Jardim e referiu-se de passagem aos "contactos que Senghor quis ter com o general Spínola" - que não deixou de criticar, "por ter participado no derrube do regime".
Justificou a invasão da Guiné-Conacry, conhecida por 'Operação Mar Verde', e negou que tenha havido um "ultimato americano" para a utilização da base das Lajes aquando da guerra israelo-árabe. Quanto à Grã-Bretanha, assinalou o "degelo" que então se verificou, traduzida, entre outras iniciativas, na agitada visita de Caetano a Londres.
Rui Patrício rejeitou as críticas sobre "pretensas hesitações e flutuações" da política externa de que foi o principal rosto. Pelo contrário, acentuou, ela foi caracterizada por "uma coerência absoluta e total". E deteve-se, longamente, na justificação da recusa em manter "conversas ou negociações com os chamados movimentos de libertação". Operavam, afinal, em "territórios que constituíam a nação portuguesa".
Embaixador Villas-Boas: "Decisões ad-hoc e precipitadas"
Opiniões bem diferentes foram expressas pelo embaixador José Manuel Villas-Boas. Quando Caetano ascendeu ao poder, em 1968, o país estava, no plano externo, numa posição "desastrada". Pedindo autorização para falar em nome dos diplomatas, disse que, para estes, "a palavra esperança renasceu durante" a primavera marcelista. "Marcelo Caetano sabia que era necessário introduzir reformas na política externa".
O 25 de Abril foi "a auto-derrota de uma Nação" Pormenor da assistência, onde se destacam em primeiro plano André Gonçalves Pereira, Maria João Avilez e Manuel Braga da Cruz
Nuno Botelho
Pormenor da assistência, onde se destacam em primeiro plano André Gonçalves Pereira, Maria João Avilez e Manuel Braga da Cruz
À época cônsul de Portugal em Milão, mas com acesso directo a Caetano, de quem fora aluno, Villas-Boas afirmou que "a diplomacia do período de transição foi caracterizada por um certo sentimento de angústia", provocado até pela consciência de que "o tempo era curto". Do que resultou "uma aparência de hesitação".
Em 1974, porém, "as coisas corriam já mal. Pelo que as decisões de política externa eram tomadas, às vezes, de forma ad-hoc e quase precipitada". Nesse ano, "a amargura do Presidente do Conselho era evidente".
Comentando o livro 'Portugal e o Futuro', frisou que as teses de Spínola, no sentido do "federalismo", não eram muito diferentes das de Caetano. Este sabia que "a guerra de África não levava a lado nenhum" e que "a única solução era política". No entender do embaixador, "a autonomia progressiva e participada", delineada por Caetano, "era o caminho para as independências".
Negociar com o PAIGC o cessar-fogo e a independência
Villas-Boas contou que Caetano o enviou, como "emissário pessoal", à Costa do Marfim e à República Centro-Africana, para explicar "os detalhes da nova política africana" - um projecto que, de início, também incluía o Senegal. E relatou com pormenor a negociação com o PAIGC, em Março de 1974, em Londres, em que foi emissário do governo português.
"Era necessário obter o cessar-fogo na Guiné"", justificou, ao mesmo tempo que assegurou que o governo o instruíra para "falar de todos os assuntos, incluindo a independência política" da Guiné.
Confrontado por perguntas da assistência, Rui Patrício reafirmou: "Estávamos no caminho certo". Quanto às negociações com o PAIGC, justificou-as com a necessidade que há, em diplomacia, de "ter sempre um plano B".
O embaixador Luís Figueira deteve-se na exposição da diplomacia económica, matéria em que Caetano "apoiou completamente a política anterior".
O colóquio decorreu, como de costume, no anfiteatro da Escola de Belas Artes, em Lisboa. A próxima sessão, a 11 de Dezembro, terá como tema a revisão constitucional de 1973 e está anunciada a participação de Jorge Miranda e Miguel Galvão Teles.
Rui Patrício, o último chefe da diplomacia do Estado Novo, continua a considerar que "tínhamos a razão, o consenso, o direito e a equidade".
José Pedro Castanheira
21:45 | Quinta-feira, 20 de Nov de 2008
O 25 de Abril foi "a auto-derrota de uma Nação" Rui Patrício (à direita), antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, ao lado do embaixador José Manuel Villas-Boas
Nuno Botelho
Rui Patrício (à direita), antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, ao lado do embaixador José Manuel Villas-Boas
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Marcelo Caetano afirmou que, em 1974, "a situação, interna e externa, estava longe de ser alarmante". Rui Patrício, que vive no Brasil desde o 25 de Abril, sublinhou que nessa altura "o problema essencial não era de política externa, mas de ordem interna". Quanto à descolonização que se seguiu, foi "uma auto-derrota de uma Nação".
Rui Patrício falava num colóquio sobre a diplomacia portuguesa, o quinto do ciclo 'Tempos de Transição. 1968-1974', sobre o marcelismo, e que teve lugar na quarta-feira, 19.
Rui Patrício, que não reconheceu qualquer erro na governação de Caetano, insistiu na tecla das "características específicas da política ultramarina portuguesa", que "não eram tidas em conta" nos areópagos internacionais. Criticou especialmente "o movimento comunista internacional", em que incluiu indistintamente a União Soviética e a China. Quanto à ONU, acusou-a de ter sido "o grande palco da campanha política e mediática contra a presença de Portugal em África".
Neste contexto, disse Rui Patrício, "a tarefa da diplomacia portuguesa era árdua, difícil e diária". Mas, na opinião do ex-ministro, "tínhamos a razão, o consenso, o direito e a equidade".
África fazia parte da "nação portuguesa"
Ao longo de uma hora, Patrício expôs os principais episódios que marcaram a diplomacia portuguesa durante os seis anos do consulado de Caetano. Elogiou Jorge Jardim e referiu-se de passagem aos "contactos que Senghor quis ter com o general Spínola" - que não deixou de criticar, "por ter participado no derrube do regime".
Justificou a invasão da Guiné-Conacry, conhecida por 'Operação Mar Verde', e negou que tenha havido um "ultimato americano" para a utilização da base das Lajes aquando da guerra israelo-árabe. Quanto à Grã-Bretanha, assinalou o "degelo" que então se verificou, traduzida, entre outras iniciativas, na agitada visita de Caetano a Londres.
Rui Patrício rejeitou as críticas sobre "pretensas hesitações e flutuações" da política externa de que foi o principal rosto. Pelo contrário, acentuou, ela foi caracterizada por "uma coerência absoluta e total". E deteve-se, longamente, na justificação da recusa em manter "conversas ou negociações com os chamados movimentos de libertação". Operavam, afinal, em "territórios que constituíam a nação portuguesa".
Embaixador Villas-Boas: "Decisões ad-hoc e precipitadas"
Opiniões bem diferentes foram expressas pelo embaixador José Manuel Villas-Boas. Quando Caetano ascendeu ao poder, em 1968, o país estava, no plano externo, numa posição "desastrada". Pedindo autorização para falar em nome dos diplomatas, disse que, para estes, "a palavra esperança renasceu durante" a primavera marcelista. "Marcelo Caetano sabia que era necessário introduzir reformas na política externa".
O 25 de Abril foi "a auto-derrota de uma Nação" Pormenor da assistência, onde se destacam em primeiro plano André Gonçalves Pereira, Maria João Avilez e Manuel Braga da Cruz
Nuno Botelho
Pormenor da assistência, onde se destacam em primeiro plano André Gonçalves Pereira, Maria João Avilez e Manuel Braga da Cruz
À época cônsul de Portugal em Milão, mas com acesso directo a Caetano, de quem fora aluno, Villas-Boas afirmou que "a diplomacia do período de transição foi caracterizada por um certo sentimento de angústia", provocado até pela consciência de que "o tempo era curto". Do que resultou "uma aparência de hesitação".
Em 1974, porém, "as coisas corriam já mal. Pelo que as decisões de política externa eram tomadas, às vezes, de forma ad-hoc e quase precipitada". Nesse ano, "a amargura do Presidente do Conselho era evidente".
Comentando o livro 'Portugal e o Futuro', frisou que as teses de Spínola, no sentido do "federalismo", não eram muito diferentes das de Caetano. Este sabia que "a guerra de África não levava a lado nenhum" e que "a única solução era política". No entender do embaixador, "a autonomia progressiva e participada", delineada por Caetano, "era o caminho para as independências".
Negociar com o PAIGC o cessar-fogo e a independência
Villas-Boas contou que Caetano o enviou, como "emissário pessoal", à Costa do Marfim e à República Centro-Africana, para explicar "os detalhes da nova política africana" - um projecto que, de início, também incluía o Senegal. E relatou com pormenor a negociação com o PAIGC, em Março de 1974, em Londres, em que foi emissário do governo português.
"Era necessário obter o cessar-fogo na Guiné"", justificou, ao mesmo tempo que assegurou que o governo o instruíra para "falar de todos os assuntos, incluindo a independência política" da Guiné.
Confrontado por perguntas da assistência, Rui Patrício reafirmou: "Estávamos no caminho certo". Quanto às negociações com o PAIGC, justificou-as com a necessidade que há, em diplomacia, de "ter sempre um plano B".
O embaixador Luís Figueira deteve-se na exposição da diplomacia económica, matéria em que Caetano "apoiou completamente a política anterior".
O colóquio decorreu, como de costume, no anfiteatro da Escola de Belas Artes, em Lisboa. A próxima sessão, a 11 de Dezembro, terá como tema a revisão constitucional de 1973 e está anunciada a participação de Jorge Miranda e Miguel Galvão Teles.
Vitor mango- Pontos : 118184
Re: Rui Patrício, o último chefe da diplomacia do Estado Novo, continua a considerar que "tínhamos a razão, o consenso, o direito e a equidade".
Poucos dias antes do 25 de Abril, na Gulbenkian e com a presença de Rosselini, passou numa sessão semi-privada o célebre filme neorealista "Roma, cidade aberta". Trata-se de uma comovente e violenta descrição da resistência italiana ao nazismo. Era suposto haver diálogo, no fim da sessão. Com curiosidade verifiquei que Rui Patrício se encontrava ao meu lado. Creio que lá foi por engano, por snobismo. No fim do filme uma enorme e inesquecível ovação. Não houve diálogo final, por desnecessário. Mas quando se aproximava o fim do filme constatei que Rui Patrício, antevendo a ovação e palavras de ordem que se seguiriam, sorrateiramente pisgou-se da sala. Felizmente foi a última vez que o vi....
O dedo na ferida- Pontos : 0
Re: Rui Patrício, o último chefe da diplomacia do Estado Novo, continua a considerar que "tínhamos a razão, o consenso, o direito e a equidade".
Passeando pelo Google vejo essa descrição desta memorável sessão. Única na minha vida. Pelos vistos não fui só eu. Vale a pena ler...
Como o cinema era belo
Para a minha mãe
Com este título, está a decorrer um ciclo de cinema em Lisboa -claro- na Fundação Gulbenkian, organizado por João Bénard da Costa. No respectivo catálogo, belíssimo por sinal, um dos textos conta uma sessão de cinema em 17 de Novembro de 1973. O filme "Roma Cidade Aberta", de Roberto Rosselini, com o próprio Rosselini, Henri Langlois – director da Cinemateca francesa - Bénard da Costa como personagens e, como veremos, muitos figurantes. Mas a palavra a Bénard da Costa:
"...Como prometido, Langlois conseguiu Rosselini. A 17 de Novembro de 1973, estavam os dois em Lisboa, para o que foi a mais inesquecível sessão de cinema da minha vida e vão por mim tenho visto muitas.
O ambiente mediático à época era fervorosamente cinéfilo, Cinéfilo era o nome da revista de espectáculos que recentíssima novidade, "toda a gente lia". O dito Cinéfilo (que deu a notícia em primeira mão) embandeirou em arco. A restante imprensa , a televisão seguiram-no. Quando a bilheteira abriu, a "bicha" a volta à Praça de Espanha e, ao segundo dia, todas as sessões (e eram 29, 21 das quais no Grande Auditório) estavam esgotadas.
Mas, poucos dias antes, um sobressalto inesperado. Telefonou-me o Dr. Caetano de Carvalho, à época Director Geral da Cultura Popular e Espectáculos, de quem dependiam os serviços de censura (Moreira Baptista já passara para o Ministério do Interior) a perguntar-me, com doces modos, como é que íamos apresentar "Roma, Città Aperta" se filme estava proibido.
Eu tinha visto "Roma Città Aperta" quando tinha 12 anos, em Outubro de 1947, no Palácio, ali no Arco do Cego, onde depois foi o Avis e hoje é não sei bem o quê. Lembrava-me como se fosse ontem da impressão que o filme me fez e deter chorado como uma madalena. A autorização fora dada, como a muitos filmes resistentes desses anos ("Roma..." é de 45) no rescaldo da guerra, quando o regime queria mostrar uma certa abertura. O que eu não sabia - e por isso o programara com tanto à vontade-é que, findo o prazo de exploração dessa cópia, quando o distribuidor pediu a reposição, a censura, recordada de alguns dissabores com sessões de "Roma..." e (anos 50 e 60) indiferente ao que se pensasse ou dissesse além-Pirinéus, proibiu-a
E agora, perguntei-me eu então.
Rosselini e Langlois já estavam confirmados, a sessão esgotada, como explicar-lhes a eles e explicar ao público que "Roma..." não podia passar? Calculo que foi pensando em tal escandaleira e com a garantia gulbenkiana que o filme só passava uma vez e na versão original italiana, sem legendas (bons tempos, bons tempos...) que acabou por vir uma autorização especial. O que eu não esperava- já o contei muitas vezes- é que, à entrada da sessão, o próprio Director Geral me viesse felicitar pela boa ideia que eu tinha de trazer "Roma, Città Aperta", "um filme que eu há tanto tempo queria ver"(sic). Ainda hoje não sei se estava a ser sincero. A alma humana é um abismo.
Sala hiper à cunha, ambiente de alta tensão. A maior parte da assistência devia ter nascido muito depois do filme. Mas também havia altos dignitários de regime, ministros, secretários de estado, etc.
Rosselini foi acolhido em delírio. Acerta altura, disse que tinha um conselho para dar aos jovens, mas, com a sua lendária lapidez romana, percebeu que não era de conselhos que a juventude dos anos 70- tão contestatária- estava á espera. E logo emendou a mão: "Conselhos não. É sempre estúpido dar conselhos". Tremenda ovação. Tinha a sala na mão.
Depois saiu do Auditório, porque nunca revia filmes dele e veio conversar cá para fora com Langlois. Nas minhas idas e vindas para a cabine, lembro-me de os ouvir ressonando tranquilamente.
Mas, quando o filme acabou, a sala levantou-se em peso para a maior ovação a que jamais assisti em sessões de cinema. Dez minutos, tudo aos "bravos" e não pensem que exagero. No palco, Rosselini com "uma emoção que não disfarçava mas também não exibia", como no dia seguinte escreveu no "Expresso" Helena Vaz da Silva, não conseguia abrir a boca.
E, a páginas tantas, começaram a ouvir distintamente (em Novembro de 73) slogans como "Abaixo o fascismo" ou "Viva a Liberdade".
Ministros e altas entidades escapavam-se pela direita baixa, muitos deles alvos de dichotes. Coube-me a ingrata tarefa de levar Rosselini dali para fora, antes que os ânimos aquecessem a ponto de pôr em risco o resto do Ciclo em causa. À saída, as pessoas abraçavam-se. Muitos choravam.
(...) Rosselini não recuperava do espanto. Em 45, nos tempos épicos da Libertação e do fim da guerra, ele lembrava-se de acolhimentos semelhantes. Mas quase 30 anos depois, uma reacção daquelas? Langlois comentava que as coisas em Portugal iam mudar, não tardava. Habituado a ouvir essa frase, pelo menos há quinze anos, não lhe dei crédito.
(...) Quando, meses depois, veio o 25 de Abril, lembrei-me da frase de Langlois e perguntei-lhe (entretanto víramo-nos muito e muito estivera com ele) o que o levara a dizer tal profecia. A berraria? Langlois respondeu-me que não. Isso de gritos, nunca o impressionara. No que reparara fora na cara das pessoas. Das "boas" e das "más". A cara da gente do poder já exprimia a certeza do fim dele. A cara dos rebeldes a certeza da vitória. "Sabe"- acrescentou- "o cinema mudo ensinou-me a ver muita coisa". Le cinema muet, le cinema muet"
Confessem…quanto não dariam para ter lá estado?
Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto
Como o cinema era belo
Para a minha mãe
Com este título, está a decorrer um ciclo de cinema em Lisboa -claro- na Fundação Gulbenkian, organizado por João Bénard da Costa. No respectivo catálogo, belíssimo por sinal, um dos textos conta uma sessão de cinema em 17 de Novembro de 1973. O filme "Roma Cidade Aberta", de Roberto Rosselini, com o próprio Rosselini, Henri Langlois – director da Cinemateca francesa - Bénard da Costa como personagens e, como veremos, muitos figurantes. Mas a palavra a Bénard da Costa:
"...Como prometido, Langlois conseguiu Rosselini. A 17 de Novembro de 1973, estavam os dois em Lisboa, para o que foi a mais inesquecível sessão de cinema da minha vida e vão por mim tenho visto muitas.
O ambiente mediático à época era fervorosamente cinéfilo, Cinéfilo era o nome da revista de espectáculos que recentíssima novidade, "toda a gente lia". O dito Cinéfilo (que deu a notícia em primeira mão) embandeirou em arco. A restante imprensa , a televisão seguiram-no. Quando a bilheteira abriu, a "bicha" a volta à Praça de Espanha e, ao segundo dia, todas as sessões (e eram 29, 21 das quais no Grande Auditório) estavam esgotadas.
Mas, poucos dias antes, um sobressalto inesperado. Telefonou-me o Dr. Caetano de Carvalho, à época Director Geral da Cultura Popular e Espectáculos, de quem dependiam os serviços de censura (Moreira Baptista já passara para o Ministério do Interior) a perguntar-me, com doces modos, como é que íamos apresentar "Roma, Città Aperta" se filme estava proibido.
Eu tinha visto "Roma Città Aperta" quando tinha 12 anos, em Outubro de 1947, no Palácio, ali no Arco do Cego, onde depois foi o Avis e hoje é não sei bem o quê. Lembrava-me como se fosse ontem da impressão que o filme me fez e deter chorado como uma madalena. A autorização fora dada, como a muitos filmes resistentes desses anos ("Roma..." é de 45) no rescaldo da guerra, quando o regime queria mostrar uma certa abertura. O que eu não sabia - e por isso o programara com tanto à vontade-é que, findo o prazo de exploração dessa cópia, quando o distribuidor pediu a reposição, a censura, recordada de alguns dissabores com sessões de "Roma..." e (anos 50 e 60) indiferente ao que se pensasse ou dissesse além-Pirinéus, proibiu-a
E agora, perguntei-me eu então.
Rosselini e Langlois já estavam confirmados, a sessão esgotada, como explicar-lhes a eles e explicar ao público que "Roma..." não podia passar? Calculo que foi pensando em tal escandaleira e com a garantia gulbenkiana que o filme só passava uma vez e na versão original italiana, sem legendas (bons tempos, bons tempos...) que acabou por vir uma autorização especial. O que eu não esperava- já o contei muitas vezes- é que, à entrada da sessão, o próprio Director Geral me viesse felicitar pela boa ideia que eu tinha de trazer "Roma, Città Aperta", "um filme que eu há tanto tempo queria ver"(sic). Ainda hoje não sei se estava a ser sincero. A alma humana é um abismo.
Sala hiper à cunha, ambiente de alta tensão. A maior parte da assistência devia ter nascido muito depois do filme. Mas também havia altos dignitários de regime, ministros, secretários de estado, etc.
Rosselini foi acolhido em delírio. Acerta altura, disse que tinha um conselho para dar aos jovens, mas, com a sua lendária lapidez romana, percebeu que não era de conselhos que a juventude dos anos 70- tão contestatária- estava á espera. E logo emendou a mão: "Conselhos não. É sempre estúpido dar conselhos". Tremenda ovação. Tinha a sala na mão.
Depois saiu do Auditório, porque nunca revia filmes dele e veio conversar cá para fora com Langlois. Nas minhas idas e vindas para a cabine, lembro-me de os ouvir ressonando tranquilamente.
Mas, quando o filme acabou, a sala levantou-se em peso para a maior ovação a que jamais assisti em sessões de cinema. Dez minutos, tudo aos "bravos" e não pensem que exagero. No palco, Rosselini com "uma emoção que não disfarçava mas também não exibia", como no dia seguinte escreveu no "Expresso" Helena Vaz da Silva, não conseguia abrir a boca.
E, a páginas tantas, começaram a ouvir distintamente (em Novembro de 73) slogans como "Abaixo o fascismo" ou "Viva a Liberdade".
Ministros e altas entidades escapavam-se pela direita baixa, muitos deles alvos de dichotes. Coube-me a ingrata tarefa de levar Rosselini dali para fora, antes que os ânimos aquecessem a ponto de pôr em risco o resto do Ciclo em causa. À saída, as pessoas abraçavam-se. Muitos choravam.
(...) Rosselini não recuperava do espanto. Em 45, nos tempos épicos da Libertação e do fim da guerra, ele lembrava-se de acolhimentos semelhantes. Mas quase 30 anos depois, uma reacção daquelas? Langlois comentava que as coisas em Portugal iam mudar, não tardava. Habituado a ouvir essa frase, pelo menos há quinze anos, não lhe dei crédito.
(...) Quando, meses depois, veio o 25 de Abril, lembrei-me da frase de Langlois e perguntei-lhe (entretanto víramo-nos muito e muito estivera com ele) o que o levara a dizer tal profecia. A berraria? Langlois respondeu-me que não. Isso de gritos, nunca o impressionara. No que reparara fora na cara das pessoas. Das "boas" e das "más". A cara da gente do poder já exprimia a certeza do fim dele. A cara dos rebeldes a certeza da vitória. "Sabe"- acrescentou- "o cinema mudo ensinou-me a ver muita coisa". Le cinema muet, le cinema muet"
Confessem…quanto não dariam para ter lá estado?
Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto
O dedo na ferida- Pontos : 0
Re: Rui Patrício, o último chefe da diplomacia do Estado Novo, continua a considerar que "tínhamos a razão, o consenso, o direito e a equidade".
O dedo na ferida escreveu:Poucos dias antes do 25 de Abril, na Gulbenkian e com a presença de Rosselini, passou numa sessão semi-privada o célebre filme neorealista "Roma, cidade aberta". Trata-se de uma comovente e violenta descrição da resistência italiana ao nazismo. Era suposto haver diálogo, no fim da sessão. Com curiosidade verifiquei que Rui Patrício se encontrava ao meu lado. Creio que lá foi por engano, por snobismo. No fim do filme uma enorme e inesquecível ovação. Não houve diálogo final, por desnecessário. Mas quando se aproximava o fim do filme constatei que Rui Patrício, antevendo a ovação e palavras de ordem que se seguiriam, sorrateiramente pisgou-se da sala. Felizmente foi a última vez que o vi....
Caro dedos
Esse filme marcou-me para toda a vida
Fellini era um genio do modo como sabia enquadrar a familia na sociedade Italiana
Suponho que foi aí que o Fascismo Italiano agarrar num chefe de familia socialista e o ionterroga ...ou melhor obriga-o a beber oleo de ricinio para lhe provocar uma monstruoso estado de caganeira
Depois larga-o
E Junto á família a mulher tenta acalma-lo
Mas o Macho vomitava palavrões
A MULHER TENTAVA FAZER PASSAR A MENSAGEM QUE ela PERCEBIA O DRAMA
só QUE O Rui patrício QUANDO DA INVASÃO EM Lisboa PELO MILITARES DE Santarém dele Patrício cagou-se todo
Isso é descrito pelos militares de duas maneiras
A Dignidade do Marcelo Caetano e este Puto chamado Rui Patrício que ia para a ONU cagar sentenças bem protegido pela Ordem americana
Viracopos- Pontos : 580
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