África enfrenta dilema com desistência de oposição no Zimbábue
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África enfrenta dilema com desistência de oposição no Zimbábue
África enfrenta dilema com desistência de oposição no Zimbábue
Peter Greste
De Johannesburgo para BBC News
Robert Mugabe (arquivo)
Mugabe domina a política do Zimbábue há quase 30 anos
Quando Morgan Tsvangirai, líder do Movimento pela Mudança Democrática (MDC) no Zimbábue, decidiu disputar o segundo turno das eleições presidenciais no país ele correu um risco calculado.
Ele acreditava que o apoio que tinha no país era tão grande que um alto índice de comparecimento às urnas poderia frustrar qualquer tentativa do partido do governo, Zanu-PF, de lançar mão de irregularidades para ganhar o pleito.
Tsvangirai também apostou que os órgãos supervisores de eleições do sul da África e pressão diplomática garantiriam alguma lisura por parte do Zanu, e garantiriam que o pleito seria, pelo menos superficialmente, equilibrado.
A menos de uma semana da votação, marcada para sexta-feira, Morgan Tsvangirai admitiu que estava errado.
O líder oposicionista retirou-se da disputa dizendo que não poderia "pedir ao povo que vote (...) quando aquele voto custará a sua vida".
Ao abrir mão da candidatura, contudo, Tsvangirai também tornou mais difícil para as lideranças regionais no sul da África oferecer o tipo de apoio diplomático que o MDC esperava obter mais cedo.
De acordo com o ministro da Informação do Zimbábue, Sikhanyiso Ndlovu, a eleição ainda vai adiante. Segundo ele, agora é tarde demais para suspender o processo, e o povo do Zimbábue não deve ter negado o seu direito de votar.
Ao que tudo indica, parece inevitável que o presidente Mugabe seja declarado o vitorioso e empossado de acordo com a Constituição do país.
Legitimidade
O processo dará, efetivamente, legitimidade constitucional e legal a Mugabe, o que fornece um argumento poderoso para o reconhecimento regional e internacional de sua administração.
Se o MDC tivesse continuado na disputa, observadores eleitorais já haviam indicado que provavelmente não a declarariam livre e justa.
Com um veredicto inequivocadamente negativo, governos regionais teriam base para um não-reconhecimento da eleição de Mugabe, forçando o presidente a negociar não como presidente mas como líder de um partido minoritário.
Nas eleições parlamentares realizadas simultaneamente ao primeiro turno das eleições presidenciais, o Zanu-PF conseguiu 97 cadeiras, enquanto o MDC obteve 110.
Mas já há sinais de que a região pode se recusar a aceitar mais uma Presidência de Mugabe.
Levy Mwanawasa, o presidente da Zâmbia e atual presidente da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), disse em uma entrevista coletiva que era "escandaloso para a SADC manter silêncio em relação ao Zimbábue." Ele sugere o adiamento das eleições.
Há sinais de que a SADC, a única organização a que Mugabe ainda parece responder, vai concordar com Mwanawasa.
Mesmo antes do anúncio da retirada do MDC da disputa, outros líderes regionais se manifestaram - marcadamente o presidente José Eduardo dos Santos, de Angola - pedindo a Mugabe que "pare a violência e a intimidação".
Santos é um dos mais ferrenhos aliados do líder do Zimbábue, e uma declaração pública desta natureza não passará despercebida.
Mas fora a decisão de não reconhecer o novo governo do Zimbábue, fica difícil imaginar outros meios que a região ou qualquer país estrangeiro possam vir a ter para influenciar a situação no país.
Sanções apenas serviriam para prejudicar a camada mais pobre da população, que já sofre com a profunda crise econômica no país. E esse tipo de medida só faz pressão no longo prazo.
Intervenção militar direta não é uma perspectiva realista.
Assim, o que resta são negociações. O governo indicou que não tem disposição para concessões e o MDC concordou com conversações porque precisa ser visto como desejoso de chegar a um acordo de meio termo, e não por qualquer afinidade com o Zanu-PF.
Herói revolucionário
Mas o incentivo mais poderoso para negociações é a crise econômica. Até os ministros mais linha-dura do Zanu reconheceriam que o país não pode continuar no caminho em que está e que a única forma de lidar com uma inflação de 2.000.000% é chegar a algum tipo de entendimento político.
Isso, contudo, parece algo distante. A chave para entender a longevidade de Mugabe no poder é a guerrilha da década de 70, que o tornou famoso.
Na época, ele era visto como um herói revolucionário combatendo o governo de minoria branca. É por isso que muitos líderes africanos estão relutantes em criticá-lo.
Mugabe culpa um "complô de países ocidentais liderados pela Grã-Bretanha (antiga matriz colonial)" pelos problemas econômicos do Zimbábue.
Diante de uma forte oposição pela primeira vez desde que foi eleito em 1980, Mugabe destruiu o que era uma das economias mais diversificadas da África em um esforço para manter o controle político.
Ele confiscou fazendas de propriedade de brancos que eram a espinha da economia, ridicularizou doadores internacionais e buscou políticas populistas.
Peter Greste
De Johannesburgo para BBC News
Robert Mugabe (arquivo)
Mugabe domina a política do Zimbábue há quase 30 anos
Quando Morgan Tsvangirai, líder do Movimento pela Mudança Democrática (MDC) no Zimbábue, decidiu disputar o segundo turno das eleições presidenciais no país ele correu um risco calculado.
Ele acreditava que o apoio que tinha no país era tão grande que um alto índice de comparecimento às urnas poderia frustrar qualquer tentativa do partido do governo, Zanu-PF, de lançar mão de irregularidades para ganhar o pleito.
Tsvangirai também apostou que os órgãos supervisores de eleições do sul da África e pressão diplomática garantiriam alguma lisura por parte do Zanu, e garantiriam que o pleito seria, pelo menos superficialmente, equilibrado.
A menos de uma semana da votação, marcada para sexta-feira, Morgan Tsvangirai admitiu que estava errado.
O líder oposicionista retirou-se da disputa dizendo que não poderia "pedir ao povo que vote (...) quando aquele voto custará a sua vida".
Ao abrir mão da candidatura, contudo, Tsvangirai também tornou mais difícil para as lideranças regionais no sul da África oferecer o tipo de apoio diplomático que o MDC esperava obter mais cedo.
De acordo com o ministro da Informação do Zimbábue, Sikhanyiso Ndlovu, a eleição ainda vai adiante. Segundo ele, agora é tarde demais para suspender o processo, e o povo do Zimbábue não deve ter negado o seu direito de votar.
Ao que tudo indica, parece inevitável que o presidente Mugabe seja declarado o vitorioso e empossado de acordo com a Constituição do país.
Legitimidade
O processo dará, efetivamente, legitimidade constitucional e legal a Mugabe, o que fornece um argumento poderoso para o reconhecimento regional e internacional de sua administração.
Se o MDC tivesse continuado na disputa, observadores eleitorais já haviam indicado que provavelmente não a declarariam livre e justa.
Com um veredicto inequivocadamente negativo, governos regionais teriam base para um não-reconhecimento da eleição de Mugabe, forçando o presidente a negociar não como presidente mas como líder de um partido minoritário.
Nas eleições parlamentares realizadas simultaneamente ao primeiro turno das eleições presidenciais, o Zanu-PF conseguiu 97 cadeiras, enquanto o MDC obteve 110.
Mas já há sinais de que a região pode se recusar a aceitar mais uma Presidência de Mugabe.
Levy Mwanawasa, o presidente da Zâmbia e atual presidente da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), disse em uma entrevista coletiva que era "escandaloso para a SADC manter silêncio em relação ao Zimbábue." Ele sugere o adiamento das eleições.
Há sinais de que a SADC, a única organização a que Mugabe ainda parece responder, vai concordar com Mwanawasa.
Mesmo antes do anúncio da retirada do MDC da disputa, outros líderes regionais se manifestaram - marcadamente o presidente José Eduardo dos Santos, de Angola - pedindo a Mugabe que "pare a violência e a intimidação".
Santos é um dos mais ferrenhos aliados do líder do Zimbábue, e uma declaração pública desta natureza não passará despercebida.
Mas fora a decisão de não reconhecer o novo governo do Zimbábue, fica difícil imaginar outros meios que a região ou qualquer país estrangeiro possam vir a ter para influenciar a situação no país.
Sanções apenas serviriam para prejudicar a camada mais pobre da população, que já sofre com a profunda crise econômica no país. E esse tipo de medida só faz pressão no longo prazo.
Intervenção militar direta não é uma perspectiva realista.
Assim, o que resta são negociações. O governo indicou que não tem disposição para concessões e o MDC concordou com conversações porque precisa ser visto como desejoso de chegar a um acordo de meio termo, e não por qualquer afinidade com o Zanu-PF.
Herói revolucionário
Mas o incentivo mais poderoso para negociações é a crise econômica. Até os ministros mais linha-dura do Zanu reconheceriam que o país não pode continuar no caminho em que está e que a única forma de lidar com uma inflação de 2.000.000% é chegar a algum tipo de entendimento político.
Isso, contudo, parece algo distante. A chave para entender a longevidade de Mugabe no poder é a guerrilha da década de 70, que o tornou famoso.
Na época, ele era visto como um herói revolucionário combatendo o governo de minoria branca. É por isso que muitos líderes africanos estão relutantes em criticá-lo.
Mugabe culpa um "complô de países ocidentais liderados pela Grã-Bretanha (antiga matriz colonial)" pelos problemas econômicos do Zimbábue.
Diante de uma forte oposição pela primeira vez desde que foi eleito em 1980, Mugabe destruiu o que era uma das economias mais diversificadas da África em um esforço para manter o controle político.
Ele confiscou fazendas de propriedade de brancos que eram a espinha da economia, ridicularizou doadores internacionais e buscou políticas populistas.
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