Sou portuguesa
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Sou portuguesa
QUANDO NÓS SOMOS ELES
Fernanda Câncio
Jornalista - fernanda.m.cancio@dn.pt
Costuma estar sentada na escada do metro do Marquês, com um cartão pardosobre os joelhos."Ajude por favôr", soletra a esferográfica azul no cartão. Antes, há um ano ou dois, o cartão dizia mais. Acrescentava: "Sou portuguêsa". Entre os passantes houve quem anotasse o certificado de origem, o carimbo de pobre genuína, de pessoa de bem que pede porque precisa, que não é uma parasita da globalização vinda da "terra dela" para a de outros disputar a pouca esmola que resta, que é nossa, nossa responsabilidade, e a quem devemos, por solidariedade e exigência de sangue, dar o que tivermos para dar. Fotografada e analisada em colunas de opinião, a frase acabou censurada às mãos da sua legítima dona. Ficou só o "ajude por favôr", ainda com um acento circunflexo a mais mas sem atestados de raça.
Talvez em casa, se tiver uma casa, e na TV, se tiver uma TV, a senhora da escada do metro do Marquês não repare nos cartões escritos em inglês erguidos pelos operários que exigem, ecoando uma promessa do primeiro-ministro Gordon Brown em 2007 (logo na altura acusada pelo seu opositor, supostamente à direita, David Cameron de "roubar" o slogan ao Front National de Le Pen) , "empregos britânicos para trabalhadores britânicos" e a expulsão de portugueses e italianos que trabalham numa refinaria. Talvez, se reparar, não encontre qualquer semelhança entre o seu cartão e os cartões deles, uma coisa é esmola outra é trabalho, uma coisa somos nós e outra são eles.
Talvez, se tiver TV, a senhora da escada do metro não repare que u ma das grandes preocupações nacionais do momento é com a falência da Qimonda, uma empresa alemã de alta tecnologia que tem fábricas a laborar em vários países, incluindo Portugal, onde a dita fábrica é apresentada como "a maior exportadora portuguesa do ramo" e onde o Governo já garantiu que fará o que puder para que a dita não feche. Talvez, se tiver TV, a senhora da escada do metro não repare que os representantes sindicais dos trabalhadores portugueses da Qimonda enviaram uma mensagem de solidariedade aos trabalhadores alemães da Qimonda (se houve resposta, as notícias não diziam), os quais estão por sua vez a pedir ao governo da Saxónia (uma das regiões alemãs) que os ajude a manter os seus postos de trabalho e a viabilizar a fábrica. Talvez, se tiver TV, a senhora das escadas do metro não tenha reparado o quão raro é ouvir dirigentes sindicais a preocuparem-se com trabalhadores de outros países - mesmo (e sobretudo) se estiverem a trabalhar no seu país. Talvez, se tiver TV, a senhora das escadas do metro tenha ouvido dizer que a actual crise económica que faz falir as Qimondas e que enfurece os britânicos contra quem não é britânico se deve a uma crise financeira que começou com a falência de um banco nos Estados Unidos e que essa falência se deveu à venda sucessiva, para bancos do mundo todo, das garantias sobre empréstimos para comprar casas no mundo todo. Talvez, se tiver TV, a senhora das escadas do metro perceba. Ou talvez volte a acrescentar o "sou portuguêsa".
Fernanda Câncio
Jornalista - fernanda.m.cancio@dn.pt
Costuma estar sentada na escada do metro do Marquês, com um cartão pardosobre os joelhos."Ajude por favôr", soletra a esferográfica azul no cartão. Antes, há um ano ou dois, o cartão dizia mais. Acrescentava: "Sou portuguêsa". Entre os passantes houve quem anotasse o certificado de origem, o carimbo de pobre genuína, de pessoa de bem que pede porque precisa, que não é uma parasita da globalização vinda da "terra dela" para a de outros disputar a pouca esmola que resta, que é nossa, nossa responsabilidade, e a quem devemos, por solidariedade e exigência de sangue, dar o que tivermos para dar. Fotografada e analisada em colunas de opinião, a frase acabou censurada às mãos da sua legítima dona. Ficou só o "ajude por favôr", ainda com um acento circunflexo a mais mas sem atestados de raça.
Talvez em casa, se tiver uma casa, e na TV, se tiver uma TV, a senhora da escada do metro do Marquês não repare nos cartões escritos em inglês erguidos pelos operários que exigem, ecoando uma promessa do primeiro-ministro Gordon Brown em 2007 (logo na altura acusada pelo seu opositor, supostamente à direita, David Cameron de "roubar" o slogan ao Front National de Le Pen) , "empregos britânicos para trabalhadores britânicos" e a expulsão de portugueses e italianos que trabalham numa refinaria. Talvez, se reparar, não encontre qualquer semelhança entre o seu cartão e os cartões deles, uma coisa é esmola outra é trabalho, uma coisa somos nós e outra são eles.
Talvez, se tiver TV, a senhora da escada do metro não repare que u ma das grandes preocupações nacionais do momento é com a falência da Qimonda, uma empresa alemã de alta tecnologia que tem fábricas a laborar em vários países, incluindo Portugal, onde a dita fábrica é apresentada como "a maior exportadora portuguesa do ramo" e onde o Governo já garantiu que fará o que puder para que a dita não feche. Talvez, se tiver TV, a senhora da escada do metro não repare que os representantes sindicais dos trabalhadores portugueses da Qimonda enviaram uma mensagem de solidariedade aos trabalhadores alemães da Qimonda (se houve resposta, as notícias não diziam), os quais estão por sua vez a pedir ao governo da Saxónia (uma das regiões alemãs) que os ajude a manter os seus postos de trabalho e a viabilizar a fábrica. Talvez, se tiver TV, a senhora das escadas do metro não tenha reparado o quão raro é ouvir dirigentes sindicais a preocuparem-se com trabalhadores de outros países - mesmo (e sobretudo) se estiverem a trabalhar no seu país. Talvez, se tiver TV, a senhora das escadas do metro tenha ouvido dizer que a actual crise económica que faz falir as Qimondas e que enfurece os britânicos contra quem não é britânico se deve a uma crise financeira que começou com a falência de um banco nos Estados Unidos e que essa falência se deveu à venda sucessiva, para bancos do mundo todo, das garantias sobre empréstimos para comprar casas no mundo todo. Talvez, se tiver TV, a senhora das escadas do metro perceba. Ou talvez volte a acrescentar o "sou portuguêsa".
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Re: Sou portuguesa
Acrescentava: "Sou portuguêsa". Entre os passantes houve quem anotasse o certificado de origem, o carimbo de pobre genuína,
About ha um livro do Jorge Camargo chamado
Deus lhe pague
Admin- Admin
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