Crónicas de um misantropo
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Crónicas de um misantropo
O regresso a casa
Sempre me consideraram infantil, uma espécie de criança grande, como dizia um tio meu que era igualzinho a mim e que nunca chegou a crescer.
Agora, tenho quase 40 anos, mas sinto que ainda não cheguei aos 30. Fui virgem até aos 25 (ou seria até aos 26?); e percebo risinhos aí desse lado, mas podem ter a certeza de que não sou caso virgem. Os rapazes são todos gabarolas e usam a imaginação para fingir que sabem tudo sobre sexo, quando na realidade não sabem nada.
Nunca tive jeito com as mulheres. Fico vermelho quando percebo que uma delas se interessa por mim, até no caso das feias, ou talvez ainda mais no caso das feias, pois nunca estive com uma bonita. Por timidez. E as namoradas feias têm a vantagem de não estarem muito beneficiadas nesta competição por parceiros e, por isso, não nos trocam por um nadador salvador.
Pelo menos é o meu caso. A minha Cristina trocou-me por um tipo que trabalha num call-center. Ela gostou sobretudo da voz dele.
Às vezes, penso que as mulheres são quase tão inseguras como eu. É um pensamento que me tranquiliza, mas devo estar errado.
Se eu tivesse na altura mais maturidade, nunca teria ficado com a Cristina. Havia até aquela canção antiga, "Cristina, não vais levar a mal, mas beleza é fundamental". Uma vez queria brincar com ela e cantei aquilo e levou mais de uma semana a esquecer-se.
No outro dia, por causa do meu rival, pôs-me na rua, sem mais cerimónias. Afonso, não passas de uma criança grande, disse ela. Volta para a tua mamã.
Foi o que fiz.
A mamã está velhota e vive na nossa casa antiga, de onde saí há dois anos para ficar com a Cristina que agora me deu uma guia de marcha. (Faz-me lembrar os tempos da tropa, mas conto noutra crónica).
Fiquei com o quarto antigo e foi uma boa sensação poder regressar à vida privilegiada de um adolescente.
Quando pôs a comida na mesa (Ah! os sublimes sabores da infância!), a mamã ainda me ralhou e pensei em dizer-lhe, mamã, tenho quase 40 anos, mas depois achei que o ralhete me agradara, porque fora dito num tom maternal e suave que a Cristina nunca teve quando barafustava comigo.
Hoje, senti-me outra vez com 29 anos. E espero chegar aos 19 ainda esta semana. Dentro de 15 dias, terei outra vez dez anos, que é a idade mais feliz. Depois, tenciono ficar por lá, que foi o que aconteceu com o meu tio Bernardo, que quando morreu tinha 70 anos no bilhete de identidade, mas que não passava de uma criança grande.
Tudo isto tem um lado negativo: terei provavelmente de abdicar das mulheres. E eu gosto de mulheres, teoricamente gosto, embora não as compreenda.
Afonso Albuquerque
Sempre me consideraram infantil, uma espécie de criança grande, como dizia um tio meu que era igualzinho a mim e que nunca chegou a crescer.
Agora, tenho quase 40 anos, mas sinto que ainda não cheguei aos 30. Fui virgem até aos 25 (ou seria até aos 26?); e percebo risinhos aí desse lado, mas podem ter a certeza de que não sou caso virgem. Os rapazes são todos gabarolas e usam a imaginação para fingir que sabem tudo sobre sexo, quando na realidade não sabem nada.
Nunca tive jeito com as mulheres. Fico vermelho quando percebo que uma delas se interessa por mim, até no caso das feias, ou talvez ainda mais no caso das feias, pois nunca estive com uma bonita. Por timidez. E as namoradas feias têm a vantagem de não estarem muito beneficiadas nesta competição por parceiros e, por isso, não nos trocam por um nadador salvador.
Pelo menos é o meu caso. A minha Cristina trocou-me por um tipo que trabalha num call-center. Ela gostou sobretudo da voz dele.
Às vezes, penso que as mulheres são quase tão inseguras como eu. É um pensamento que me tranquiliza, mas devo estar errado.
Se eu tivesse na altura mais maturidade, nunca teria ficado com a Cristina. Havia até aquela canção antiga, "Cristina, não vais levar a mal, mas beleza é fundamental". Uma vez queria brincar com ela e cantei aquilo e levou mais de uma semana a esquecer-se.
No outro dia, por causa do meu rival, pôs-me na rua, sem mais cerimónias. Afonso, não passas de uma criança grande, disse ela. Volta para a tua mamã.
Foi o que fiz.
A mamã está velhota e vive na nossa casa antiga, de onde saí há dois anos para ficar com a Cristina que agora me deu uma guia de marcha. (Faz-me lembrar os tempos da tropa, mas conto noutra crónica).
Fiquei com o quarto antigo e foi uma boa sensação poder regressar à vida privilegiada de um adolescente.
Quando pôs a comida na mesa (Ah! os sublimes sabores da infância!), a mamã ainda me ralhou e pensei em dizer-lhe, mamã, tenho quase 40 anos, mas depois achei que o ralhete me agradara, porque fora dito num tom maternal e suave que a Cristina nunca teve quando barafustava comigo.
Hoje, senti-me outra vez com 29 anos. E espero chegar aos 19 ainda esta semana. Dentro de 15 dias, terei outra vez dez anos, que é a idade mais feliz. Depois, tenciono ficar por lá, que foi o que aconteceu com o meu tio Bernardo, que quando morreu tinha 70 anos no bilhete de identidade, mas que não passava de uma criança grande.
Tudo isto tem um lado negativo: terei provavelmente de abdicar das mulheres. E eu gosto de mulheres, teoricamente gosto, embora não as compreenda.
Afonso Albuquerque
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