Da ignorância Publicação: 17 January 09 12:00 AM by Miguel Portas
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Da ignorância Publicação: 17 January 09 12:00 AM by Miguel Portas
Da ignorância
Publicação: 17 January 09 12:00 AM
A conversa foi informal, pois foi. Uma tertúlia e não uma conferência, garantiu a Conferência Episcopal a propósito das desastradas declarações de D. José Policarpo. Compreende-se que a Igreja queira, agora, suavizar as opiniões do seu cardeal e, provavelmente, a coisa ficará por aqui porque a comunidade muçulmana, ultra-_-minoritária na sociedade portuguesa, não tem qualquer vantagem em alimentar a polémica. Apesar disso, os crentes não se esquecerão. Nem os de Alá, nem os de Deus, que por acaso é o mesmo.
Dom Policarpo lamentou a ignorância da sociedade portuguesa face ao Islão. É facto. Apenas não reparou que ela começa em casa. Não basta ler o Corão para se perceber «como pensam os muçulmanos». Os muçulmanos pensam e agem de modos muito diferentes, tal como os cristãos ou os judeus. Na amálgama começa a ignorância. O lugar da mulher não é o mesmo na Arábia Saudita ou no Líbano e na Síria, tal como é diferente em Portugal ou na Suécia, para falar de dois países de tradição cristã.
Dom Policarpo é um homem culto. Prevenir as mulheres cristãs contra o casamento com muçulmanos não é uma história nova. Mergulham no Velho Testamento as mensagens contra as misturas entre judeus e não judeus e o cardeal concordará que tais escritos não são dos mais inspirados. Não é por acaso que ainda hoje, em Israel, os matrimónios entre judeus e muçulmanos são interditos. Tertúlias sobre assuntos sérios não exigem apenas bom senso; recomendam distância crítica do senso comum. Esta foi a segunda infelicidade do cardeal.
Dom Policarpo quis, obviamente, proteger as mulheres das piores práticas do patriarcado. Louvo-lhe a intenção. Em Portugal, morreram, entre 1 de Janeiro e 18 de Novembro de 2008, pelo menos 43 mulheres, vítimas de violência doméstica. Portugal é, por isso, um país islâmico? Claro que não: é um país de cultura mediterrânica, ou seja, patriarcal. O problema não mora na religião, mas nas práticas e culturas de um mundo que, bem antes do monoteísmo, já praticava a separação entre espaço público – o dos homens – e espaço privado – o das mulheres. As religiões apenas deram fundamento divino a esta desgraça. Nalguns aspectos, o cristianismo é, até, mais limi- tativo do que o Islão. As cristãs não se devem divorciar mesmo que o marido seja uma besta. Mas, no Islão, o divórcio existe desde o século VII. Dom Policarpo podia, portanto, olhar para a sua casa enquanto invectiva a dos outros. Nenhuma é famosa no capítulo das mulheres.
E, já agora, devia aprender com os melhores dos outros, que é isso o ecumenismo. Em Setembro de 2008, o ayatollah do Líbano emitiu uma fatwa. Nela reafirma o direito da mulher ao divórcio, ao trabalho e à instrução, à separação de bens e, pasme-se, a defender-se, se outro recurso não tiver, com violência, da brutalidade que sobre ela exerça o marido. As generalizações são tramadas
Publicação: 17 January 09 12:00 AM
A conversa foi informal, pois foi. Uma tertúlia e não uma conferência, garantiu a Conferência Episcopal a propósito das desastradas declarações de D. José Policarpo. Compreende-se que a Igreja queira, agora, suavizar as opiniões do seu cardeal e, provavelmente, a coisa ficará por aqui porque a comunidade muçulmana, ultra-_-minoritária na sociedade portuguesa, não tem qualquer vantagem em alimentar a polémica. Apesar disso, os crentes não se esquecerão. Nem os de Alá, nem os de Deus, que por acaso é o mesmo.
Dom Policarpo lamentou a ignorância da sociedade portuguesa face ao Islão. É facto. Apenas não reparou que ela começa em casa. Não basta ler o Corão para se perceber «como pensam os muçulmanos». Os muçulmanos pensam e agem de modos muito diferentes, tal como os cristãos ou os judeus. Na amálgama começa a ignorância. O lugar da mulher não é o mesmo na Arábia Saudita ou no Líbano e na Síria, tal como é diferente em Portugal ou na Suécia, para falar de dois países de tradição cristã.
Dom Policarpo é um homem culto. Prevenir as mulheres cristãs contra o casamento com muçulmanos não é uma história nova. Mergulham no Velho Testamento as mensagens contra as misturas entre judeus e não judeus e o cardeal concordará que tais escritos não são dos mais inspirados. Não é por acaso que ainda hoje, em Israel, os matrimónios entre judeus e muçulmanos são interditos. Tertúlias sobre assuntos sérios não exigem apenas bom senso; recomendam distância crítica do senso comum. Esta foi a segunda infelicidade do cardeal.
Dom Policarpo quis, obviamente, proteger as mulheres das piores práticas do patriarcado. Louvo-lhe a intenção. Em Portugal, morreram, entre 1 de Janeiro e 18 de Novembro de 2008, pelo menos 43 mulheres, vítimas de violência doméstica. Portugal é, por isso, um país islâmico? Claro que não: é um país de cultura mediterrânica, ou seja, patriarcal. O problema não mora na religião, mas nas práticas e culturas de um mundo que, bem antes do monoteísmo, já praticava a separação entre espaço público – o dos homens – e espaço privado – o das mulheres. As religiões apenas deram fundamento divino a esta desgraça. Nalguns aspectos, o cristianismo é, até, mais limi- tativo do que o Islão. As cristãs não se devem divorciar mesmo que o marido seja uma besta. Mas, no Islão, o divórcio existe desde o século VII. Dom Policarpo podia, portanto, olhar para a sua casa enquanto invectiva a dos outros. Nenhuma é famosa no capítulo das mulheres.
E, já agora, devia aprender com os melhores dos outros, que é isso o ecumenismo. Em Setembro de 2008, o ayatollah do Líbano emitiu uma fatwa. Nela reafirma o direito da mulher ao divórcio, ao trabalho e à instrução, à separação de bens e, pasme-se, a defender-se, se outro recurso não tiver, com violência, da brutalidade que sobre ela exerça o marido. As generalizações são tramadas
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Re: Da ignorância Publicação: 17 January 09 12:00 AM by Miguel Portas
Não é por acaso que ainda hoje, em Israel, os matrimónios entre judeus e muçulmanos são interditos.
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